Nov 06, 2004 09:26
Leio um texto no blog de um amigo, um texto que fala de uma paixão que ele sente mas refreia, de como ele fica observando quieto e admirando o objeto de seu amor sem falar nada; tantos sentimentos represados e sufocados transbordam no texto, nas palavras que soam tristes. Eu sei que além de tudo, ele é um prisioneiro de seu corpo. Curioso, isso, eu já fui prisioneira de meu corpo, quando tinha tanto medo das pessoas e da vida que engordei muito, aos 16 anos, como se a gordura pudesse me proteger. Não é o caso desse meu amigo, ele não tem nada de errado com sua aparência, é até um homem bonito, apesar de uma extrema timidez - e eu tenho uma paixão avassaladora por homens tímidos e introvertidos, vocês sabem disso muito bem - mas as frases de seu texto despertam em mim uma voz que começa protestando entredentes e termina gritando um NÃO alto e sonoro.
Como você pode dizer, meu amigo, que a idade lhe ensinou a ter mais autocontrole emocional? Que diabos é isso? Por que refrear uma das coisas mais bonitas no ser humano, tão cheio de coisas terríveis, que é a capacidade de amar outras pessoas?
O texto dele é um poema completo, em cada vírgula, palavra, ponto. Ele tece o texto falando do seu objeto amoroso com uma doçura quase melancólica, como se ao invés de estar falando de uma pessoa que vê todos os dias estivesse falando de alguém que já não vê há muito tempo, que está apenas estampado na memória ou em alguma fotografia velha e esquecida em uma gaveta.
Admiro-lhe o texto, a escrita. Sempre admirei.
Mas essa voz de mulher insuportável que vive dentro de mim continua gritando, gargalhando e uivando "Não, não eu, nunca, eu quero amar, muito, visceralmente, intensamente e dizer àquele que eu amo que eu o amo".
A insuportabilidade é mesmo uma qualidade rara, como diz um outro querido amigo meu.
No matter gay or grim;
it's those tiny little sparks
daily life that makes me
forget my wounded heart
It doesn't matter when
it may rain or it may shine
blurred memories of us
come back from time to time