Para pensar.

May 17, 2006 22:45

Hoje, os primeiros trinta minutos da aula de Editoração Eletrônica foram dedicados a um pequeno debate acerca dos últimos acontecimentos de São Paulo. A brilhante Tia Denise Roma (uma maneira carinhosa de se referir à professora) expôs algumas coisas que, cacete, são tão óbvias, mas me fizeram pensar um pouco.

O PCC é uma organização criminosa grande e, como vimos no fatídico fim de semana do Dia das Mães, bem organizada. Um grupo assim deve se manter de alguma forma, certo? Certamente não é trabalhando mais de 12 horas por dia numa fábrica ou vendendo bolinhos e salgadinhos pros vizinhos.

Pois é, de entre os diferentes nichos em que esses criminosos atuam, o principal certamente é o tráfico. Desde as grandes transações até a venda de pequenos saquinhos repletos de pó mágico para a alegria (?) do indivíduo.

Hmmm, é nesse ponto em que eu queria chegar. O tal do indivíduo. Não sou muito entendido do assunto, mas creio que há uma variedade de drogas disponíveis no mercado, com o preço diretamente proporcional à disponibilidade e efeito. Fora as drogas que circulam dentro das próprias bocas e favelas, quais são as que mais são vendidas ao "consumidor padrão"? Como já disse, não sou entendido e não fiz pesquisas para escrever este texto, mas o que mais vejo circulando por aí é maconha e cocaína.

Eu disse "consumidor padrão"? Quem é o consumidor padrão? Quem são os indivíduos que os traficantes têm como objetivo? Quem são os grandes consumidores dessas duas "coisinhas mágicas" que citei?

Pois bem, não é o meliante que não tem dinheiro para o passe de ônibus, ele geralmente opta por algo mais barato. Quem sustenta o tráfico somos nós, em geral, pessoas de classe média e superior, com acesso à Internet, TV à cabo, um carrinho legal, condições de estudar e comer refeições completas e decentes. São os artistas de televisão, os caras da banda do momento, os rapazes e moças que vão à Vila Olímpia com calças Diesel e bolsas Vitton.

Percebam, essas mesmas pessoas que citei (sim, com o uso agressivo de estereótipos) são as que morreram de medo neste último fim de semana. São essas pessoas que meteram o pau no governo, na polícia, no sistema (pessoas adoram colocar a culpa no "sistema"). São as pessoas que querem e clamam pela paz, pela não-violência. São as que acharam um absurdo a audácia deste PCC e que quiseram matar o tal do Marcola.

Notem, não estou criticando os usuários de drogas, pelo menos acerca da opção de usarem-nas. Mas estou criticando o fato de usuários de maior renda e condições de vida meterem o pau nos criminosos, no governo que não funciona, e continuarem financiando essa organização. Citando um exemplo da Denise, se uma lanchonete vende sanduíches ruins e ninguém compra, ela fecha! Afinal, ela vive disso. E se ninguém compra drogas de um grupo financiado basicamente pelo tráfico? Não que ele feche de imediato. Mas ele balança, desestrutura. O dinheiro para o armamento e inteligência começa a encurtar. Sem armas e inteligência, é difícil manter o controle. Sem controle, a organização desmancha. Desfragmentada, ela morre.

Claro, não é simples assim, há muita politicagem e negociações, coisas que nós, trabalhadores assalariados, cidadãos comuns, nem imaginamos.

Mas... é algo a se pensar.

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Esses foram os primeiros trinta minutos da minha aula de Editoração Eletrônica. =)

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E os ataques recomeçaram.
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