Apr 18, 2011 16:39
Quando parti para este (atual) destino, trouxe comigo este deserto no peito. O apertei com cuidado entre uma costela aqui e uma acola, e nao sei bem ao certo como nao se evidenciou a carga ao raio x no portao de embarque do aeroporto.
Vim com esta subita esperanca de um ceu azul sem interrupcoes. Subita, digo, visto que nao me sou muito de alegrias subjetivas. Choro minhas magoas sem a fe do novo dia, por que me apetece nao chorar a frustracao do que ha de vir.
Cheguei na calada da noite, e o que sei da calada da noite sao os seus gritos em meus pes do ouvido.
Meditei. O deserto a se sacodir dentro do espaco infimo que organizei no peito em meio a toda a tralha que me teima em se aglomerar.
Ao abrir os olhos na manha seguinte, choquei-me ao ver que o deserto me escapou. Apalpei com todo cuidado e achei o lugar mais vazio… O deserto me segue, nao ha como negar. O deserto nao se encaixa em qualquer lugar de mim… Ele me engole.
No meio daquele ceu nublado, chorei minha magoa uma vez mais. Chorei minha frustracao, minha fe perdida. Chorei a minha vida em escala de cinza. O ceu tambem chorou… Onipotente e onisciente da dor que trouxe ca comigo a esta terra (do sofrimento) de ninguem.
Tres dias de odisseia… Para que, aparvalhada, caisse em mim, ao ver o verde da grama a subir.
O deserto acena adeus ao novo que, por sua vez, sorri alegre em uma mistura profunda de azul e verde.
Existe vida apos a morte. E a ressurreicao das coisas requer nao so fe e esperanca, mas tambem, espera.
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"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante
em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem"
[Sophia de Mello Breyner Andresen]