«Antes que eu pudesse abrir a boca fui interpelado pelo Oriente mas com voz ocidental. Naquele silêncio enigmático e funesto escorreu uma torrente zangada de palavras estrangeiras de mistura com outras em bom inglês, frases inteiras que embora menos estranhas eram bastante mais surpreendentes. Muito violenta, a voz praguejou e explodiu, crivou com uma rajada de palavrões a paz solene da baía. Primeiro chamou-me porco e depois subiu em crescendo até adjectivos em inglês que não vou repetir... O homem berrava em duas línguas, lá no alto, cheio de uma fúria sincera. Quase chegava a convencer-me da existência de um pecado que eu tivesse feito contra a harmonia universal. Era-me difícil vê-lo, mas começava a pensar que o sujeito ia ter uma apoplexia.
«Quando parou, roncava e soprava como uma foca. Perguntei:
- «Pode dizer-me, por favor, que barco é este?
- «Ahn! Mas o quê!... Quem são vocês?'
Joseph Conrad, 'Mocidade'
tradução Aníbal Fernandes; Assírio & Alvim