o meu amigo, ornitólogo

Jul 27, 2013 04:15

enquanto dóis nesse brilho sedado de lua cheia no mar ao fundo
o arrepio e o medo; a gaivota lembra-te do que vieste aqui fazer. olha-a, sem olhar, reconhecer o grito sem qualquer esforço. na verdade os olhos estão postos com a gravidade; confortáveis e assentes nos 200 anos, levemente recortados em corda pelas pálpebras de baixo.
és o gasto que este chão não teve, e que deixou as plantações de sonhos (aqui depositadas) imperturbadas durante gerações. andas, fugindo ao sono e à permanência. a noite tem bico, e o ar fresco lembra-te novamente o que vieste aqui fazer. são as penas que nascem nas axilas e fazem comichão, em jeitos de cisne negro. também são parte do teu objecto de estudo.
mas tu já voaste, por isso não olhas quando gritam por ti. sente-as sem ver.
e no entanto, mesmo que alguém te tentasse avistar, por entre a janela e a marina, não conseguiria. pois não sei de que és feito, mas existes. sinto-te sem te ver, leve ainda que solene.
e mergulho. não sei se em ar ou se em brilho ténue; em luar náufrago.
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