N.E.R.D 4.

Mar 01, 2009 22:23

Título: N.E.R.D
Stauts: Incompleta. 4/??
Gênero: POV.
Classificação: NC-17... eu acho?
Capitulos anteriores: 01 | 02| 03



Eu realmente achei que de todas as reações possíveis a dele seria sair gritando pra vizinhança e me caguetar pros caras de braços enormes que eram primos do Cagão; e meu destino provável, outra vez, seria no mínimo apanhar pra caralho. Só que ao invés disso ele me ofereceu cigarro.

Quando eu sentei na grama, ele sentou; quando eu pisquei ele piscou; quando eu fiz uma careta, ele fez uma careta e eu tava começando a me sentir como um animal no zoológico ou naquela cena de Tarzan que ele conhece a Jane e os dois ficam tipo “porra, que diabos é você?”.

- Ahn...

- Eu já te vi faz tempo. - ele falou primeiro, aí eu aproveitei pra fumar. O sotaque dele era maior carregado, isso era no mínimo engraçado. É sempre engraçado se acostumar com sotaque dos outros... Mas, pelo menos, ele fala inglês, porque meu espanhol, mexicano, o que seja, não passa do natchos. - Você fica rondando nossa casa se fazendo de besta.

- Ei--!

- Se meus irmãos te pegassem antes de mim com certeza você estaria numa pior...

- É. - meu Deus, eu estava confraternizando com o inimigo. Acho que se os grandalhões tivessem me visto antes eu estaria tragando meus próprios dentes ao invés dessa fumaça; e de novo a genética me impressiona - se ele era irmão dos super-musculos, a única semelhança mesmo seriam as tatuagens, por que de resto... Será que ele também já foi preso? - Quer sair daqui?

Foi simples assim e ele só foi largar o balde em baixo do carro antes de a gente parar no campo de mini-golfe abandonado e sentar na grama pra fumar. Nenhum dos caras tinham me ligado ainda e eu não acho que eles fariam isso, até porque eu deveria estar “vigiando a casa do Cagão”. Tinha meu álibi.

- Odeio esse lugar.

Naquela hora eu não sabia se tinha sido ele ou eu falando, mas não importava. A gente só tava assistindo a fumaça subir mesmo, cada um na sua. Se eu pudesse ter todas as coisas boas que eu tenho aqui em outro lugar, quem sabe eu não fosse tão auto-destrutivo assim; porque eu sou. Pode não parecer, mas eu sou.

-Quando você vai contar pro seu amigo?

-O que?

-Os relatórios do dia de trabalho... - ele deu um risinho nhe, nhe, nhe.

- Já contei.

Soube que vocês levaram uma baita surra, ele disse depois. É, podia ter sido pior, eu disse. Você não é o Oleg, é? Não, não sou. O Oleg tem cara de nazista. E você tem cara de que? Espero que de Charlie.

Não sei se ele concordou com a coisa da cara de Charlie e nem eu sabia se queria ter cara de Charlie ou não. Ah, foda-se. Os cigarros tinham acabado e eles foram nosso almoço e lanche, daí só depois a gente abriu a boca de novo. Dessa vez fui eu.

- E qual seu nome?

- Gael. Tipo o do ator. - eu não fazia idéia do que ele estava falando, mas fiz cara de quem entendia completamente tudo o que ele estava falando. - Por que você não pára de olhar pras minhas tatuagens, porra?

- É que você não tem cara de quem já foi pra prisão.

- Nos seus livros de Geografia e História pode não ter escrito isso, mas uma informação extra: No México existem estúdios de tatuagem.

- Eu achei que só existiam restaurantes mexicanos, lhamas e sombreiros.

- Lhamas?!

A gente não tinha mais cigarros pra fumar e nem comida, então ficamos brincando de lançar as bolas de golfe pra longe lá de cima do morrinho de grama. Eu joguei uma amarela que mal voou quatro metros enquanto todas as dele iam lá na puta que pariu. Minha infância desnutrida estava refletindo nas habilidades físicas do presente. Eu nunca fui lá grandes coisas mesmo...

- Você não tem mais cara de Charlie. - eu tentava prestar atenção no que ele dizia enquanto jogava as bolinhas. Droga, malditas bolinhas! Elas nunca chegam até onde eu quero, não é a toa que esse campo faliu.

- Tenho cara de que, então?

- Você podia ser o Diego. Tipo o Zorro.

Caíram as bolinhas. - O nome do Zorro é Diego?!

- Claro! Don Diego!

- Que lixo! - ele pareceu se ofender e eu pareci me esquecer de com quem estava falando. - Ahn... então você pode ser o Bruce. Tipo o Batman.

- Nós dois somos caras mascarados.
- A gente precisa ser.

- Nem me fale, - quando ele sentou de novo eu sentei; e quando ele suspirou, eu suspirei. - Mas às vezes dá vontade de tirar a mascara só pra ver se alguém vai notar.

- Acho que ninguém me notaria.

- Concordo.

- Ei--!

- Também acho que ninguém me notaria.

-...Ah.

Uma hora dessas eu comentei um - Mas você me notou. Lá, espionando sua casa.

Ele só sorriu. Acho que provavelmente isso foi um atestado de “suas habilidades de espionagem e disfarce precisam melhorar”, mas, claro, eu seria obrigado a concordar que se um cara como eu, e que não fosse eu, óbvio, ficasse rondando minha casa por dois dias seguidos, sentando embaixo da árvore pra ler revistinhas mais antigas do que o Keith Richards eu também estranharia.

Depois, uma outra hora dessas ele jogou uma bolinha em mim e comentou um - Eles só estavam protegendo o Guilherme.

-Quem?! - eu perguntei e ele me olhou com uma cara de “você sabe quem!” e aí que eu fui lembrar que o nome verdadeiro do Cagão era... Guilherme. Dá aquela sensação estranha quando a gente chama uma pessoa pelo apelido por mais de não sei quantos anos e ai chega alguém e fala o nome de verdade.

- Pra gente, é difícil viver aqui. Tanto que meus primos odeiam isso aqui e ficam no México, mas lá não é como se a gente fosse bem de vida, então minha tia ficava trabalhando aqui pra ganhar uma grana a mais, só que o povo aqui é uma droga. Me dá raiva até de assistir filmes! Mexicano é sempre empregado, limpador de banheiro, manobrista, quem sabe...

Eu não sabia o que dizer.

-Pode falar isso pro seu amigo Oleg. - Então ele continuou. - Ele deve se achar mesmo muito forte e poderoso batendo assim nos outros pra se auto afirmar, mas se ele passasse por metade do que a minha tia e até mesmo o Guilherme passam, ele ia ficar ó... - ele fez um sinal com a mão. - ...Quietinho na dele.

Por um tempo eu fiquei olhando a bolinha azul que o Gael tinha jogado em mim.

- Cerveja?

Ele topou então a gente começou a caminhar de volta pro centro da cidade. Eu disse pra ele que o Moe conseguia cigarros de graça, pelo menos, mas a bebida a gente teria que pagar. A gente se deu por satisfeito com mais cigarros no final das contas porque eu só tinha um dólar e cinqüenta no bolso de trás. E ele não tinha bolsos de trás, mas os da frente também estavam vazios.

No fim da noite ele disse um “A gente se vê.”

Beta @treatyourfuck
Obrigada pai ♥

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