Querdo diário

Jun 24, 2002 11:06

Não suporto ve-lo amado por outras.
Meu ciúme esmagama minha própria alma. Uma doença chamada ciúme aumenta as dores, amputa-me as asas, me amarra, prende.
Minha vida virou uma verdadeira prisão.
Sempre acreditei que as circunstâncias fazem os homens na mesma medida em que os homens fazem as circunstâncias. Mas, os acontecimentos daquela noite levaram-me a concluir que há um certo predomínio das circunstâncias sobre os homens.
No fundo, aquela foi uma noite de surpresas, mais cuidado talvez fosse um caminho, menos impulsividade, da mesma forma que construída pela imaginação. Chorei até não mais poder, engasgando-me com soluços que pareciam pedregulhos, chorei por coisas inesistentes, por sonhos, por passados.
Perdia-me naquele resto de realidade que a vida me dava de presente, e por dentro sugava-me estranha vontade de mudar com violência o que sempre havia conseguido aceitar.
Aquela espera foi se transformando em mais uma tortura.
Porque não passava de uma espera passiva e de certo modo. Tive pesadelos horríveis, em que duas mãos crispadas e sujas tentavam sufocar-me.
Num costume de não ter nada, ver tudo voltando a ansiedade do momento me fez deixar escorregar pelas mãos numa noite.
Olhando essa situação de tempo e de lugar, a desfocada lembrança, imagens que a memória me trazia com insistência.
Dúvidas de angustia, talvez porque promessas foram o fundamento daquela noite.
Era sempre um tempo de passagem.
Ninguém tem culpa de ser o que é, e nem pode, por si mesmo, ser de outra forma.
Alguns precisam de ajuda, mas nem todos se permitem.
Muitos talvez não tenham conserto, e outros não têm consciência. Todos quase sempre se enganam, às vezes nas promessas, outras vezes nas expectativas.
Chorar em ombros amigos foi coisa que pouco fiz. Não que me faltasse a vontade: faltavam-me coragem, e quando apareciam oportuninades meus olhos não tinham mais lágrimas.
Minha vida é uma porta que se abre à história mas se fecha aos meus amores. Meu contraído corpo que me envergonha, me atrapalha e desespera. Os ódios que suponho sentir me enrijece, e não me deixa sequer perceber o cheiro das coisas livres. Esses anos aqui dentro me mudaram radicalmente, mas não sei se foi pelos anos que se passaram. E notei o reverso da medalha. E percebendo de uma forma diferente, pois as perspectivas vão se tornando reais, as opções vão se fechando, as oportunidades diminuindo. A gente passa a não mais saber de que lado ficou a verdade.
Em certos momentos, começamos a ver que todo realismo tende a ser conservador. Porque o sonho é sempre mais importante do que a realidade que o suporta. Idéias estranhas passaram-me pela cabeça.
Senti ódio, e amor também.
Então, volto ao presente e me questiono.
Se meu amor é diferente a cada instante, como poderei amar o mesmo todo dia? Como repetir outra vez o meu risco brilhante na escuridão incendiada?
Parece ser verdade: Quem ama só se realiza ao superar a própria memória do seu amor.
Vejo que meu corpo tem muitos sentidos e muitas razões
Não sei para onde vou.
Talvez fique aqui mesmo, fazendo nada como se fizesse tudo.
Só sei que o Mundo está de portas escancaradas para mim. E a realidade nunca foi tão impressionante quanto esta que agora sonho!

Então.
Há uma pequena prisão dentro de uma grande prisão.
Por isso, o pior é quando estamos na menor.

Mas vocês não percebem que,
Toda mudança requer um plano.
Fechar as aspas que esqueci de abrir antes de acreditar nas circunstâncias.
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