Caminho

Feb 29, 2012 22:26


Ele não sabia a direcção. Para onde ir, virar, decidir. Perdido por entre os arbustos da indecisão, continuou em frente. Olhou o céu, o chão. Cheirou o cheiro das plantas e da terra. Sentiu os pés tocar nas pequenas pedras da calçada. Ouviu o pássaro em cima do ramo mais alto da árvore que parecia colossal. Procurou um sinal, uma indicação de uma entidade mistério. Um desejo. Procurou dentro dele o desejo perdido. Não sabia desejar. Não sabia procurar. Não sabia como achar algo que nunca perdera. Algo que nunca fora dele. Agachou-se no chão e tocou na folha de uma planta rasteira. Fechou os olhos e sentiu as gotas de orvalho entrar-lhe pela pele. Eram agora parte dele. Da sua pele, do seu cheiro, do seu sentir. Teriam elas o caminho? Por onde passaram as gotas que me entraram na pele? De que parte do mundo caíram dos céus? Daqui, do cimo da colina. Da nuvem que agora me cobre o rosto de cinzento. Talvez seja somente a primeira gota de chuva. Deixo os pés se enterrarem na terra, agora molhada. O cheiro fica mais forte. Intenso. Enlameado. Ou são os meus pés que se enterraram nos céus? Levanto a sola da bota ensopada do chão e dou um passo. E outro, após outro. Sigo novamente em frente. Agora molhado. Agora frio. O pássaro escondeu-se no seu canto aconchegante. Do silêncio sobra a queda de água. Do caminho sobram os meus pés indecisos de poisar em pequenos lagos. Sigo o caminho. Em frente…
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