Apr 15, 2004 11:27
Anos e anos a ver filmes de terror, fazem-nos pensar que nada, a não ser a realidade, numa obra quer seja cinema ou música nos fará sentir dentro de um pesadelo. Mas nada previa um disco como o novo de Fantomas depois do sublime “Director’s Cut”, o segundo da banda.
Se nesse disco exploravam musicas de filmes, maioritariamente de terror, de outros compositores, neste eles criam de raiz a banda sonora para um filme de terror ou pesadelo, que se fecharmos os olhos conseguimos ver.
À primeira audição fica-se hipnotizado e incapaz de movimento, sentindo-se uma tensão que tem tanto de perturbadora como de deliciosa.
Esta é, a banda sonora para o mais profundo dos infernos a que a nossa mente, se perturbada, nos pode sujeitar.
A sonoridade do disco anterior nada tem a ver com este. As guitarras surgem muito ocasionalmente, assim como os ritmos de Dave Lombardo. A voz de Mike Patton surge-nos mais como um lamento, grito de horror, dor e pura demência de louco encarcerado ou de vitima de rituais satânicos. Há coros que lembram missas negras de sociedades secretas e estranhas, retalhos de corpos em mesas de operações, rituais voodoo na selva, fantasmas em casas assombradas e uma infindável panóplia de sons aterradores. Dor e loucura. Medo e paranoia.
Aqui o terror tem classe e mostra a quem nunca compreendeu, como o obscuro, bizarro e macabro podem ter beleza, tal qual uma fotografia de Joel-Peter Witkin. Fotografias essas que poderiam ter em exposição este disco de fundo, numa fusão perfeita de som e imagem.
No entanto o disco traz-nos as suas próprias imagens, que segundo a banda serviram de inspiração ao disco. O inlay apresenta-nos parte da obra do fotografo Max Aguilera-Hellweg, com fotos retiradas do livro “Sacred Heart: An Atlas of The Body Seen Through Invasive Surgery”. Cirurgias, corpos, sangue. Segundo Max, a inspiração surgiu ao ver um coração numa sala de operações que lhe lembrava um quadro do Sagrado Coração de Jesus por cima da lareira de casa de sua avó.