Sobre Personagens e Sentimentos

Jul 20, 2009 05:43

 No geral, as pessoas tendem a ver seriados e livros apenas como diversão. Entretanto, como é possível explicar a conexão criada entre o espectador, ou o fã, nesse caso, e o personagem? E é realmente apenas “bobagem” se sentir bem ou mal por um personagem de obra de ficção?
Ao longo de uma série de livros ou um seriado de tv, diversos aspectos da vida de um personagem são expostos àquele que a lê ou a assiste. Dessa forma, se há uma identificação ou uma simpatia pelo personagem apresentado, existirá uma reação emocional conjunta caso algo aconteça a esse.

Por outro lado, há duas semanas, com a morte de Michael Jackson, pessoas ficaram abaladas e sofreram profundamente, como se a perda de alguém próximo. Pessoas que nunca sequer estiverem no mesmo espaço físico que o cantor e que com ele não tinham nenhum vínculo emocional. E tudo isso foi noticiado como perfeitamente aceitável.

Logo, a questão é: por que é válido ou “normal” sofrer com a morte de um ícone pop e não com a de um personagem?

Porque, de fato, existe uma desqualificação dos sentimentos alheios quando se comenta estar triste ou feliz com algo que ocorreu a um personagem. Entretanto, o que mais, além de um personagem, são os artistas pelos quais “sofremos” a morte?

O que quero dizer é que conhecemos e nos apegamos a personagens tendo contato com fragmentos, cenas, de suas vidas e de suas emoções. E assim o é com celebridades que nos cativam e mesmo com amigos e amores virtuais. Assim sendo, por que deveria ser diferente que soframos ou nos sintamos felizes com algo que acontece a um personagem? Aquela determinada pessoa passa a existir no momento em que toma forma na cabeça do leitor ou espectador.

Cada pessoa é única porque é quem vemos. Cada pessoa com a qual convivemos só existe porque toma forma em nossa mente, porque a vemos através de nossos olhos, de nossas crenças e preconceitos. E os espaços vazios que ficam, nossa mente trata de preencher com o que lhe parece mais conveniente. Mais uma vez, o mesmo ocorre com personagens. A diferença é que a uma pessoa real somos capazes de perguntar e substituir o que nossa mente “inventou” por uma informação verdadeira, a um personagem não.

Enfim, creio ser totalmente plausível nos apegarmos a personagens a ponto de sofrer de verdade junto a eles, de nos alegrarmos com suas conquistas e nos entristecermos com suas quedas e morte. E se é possível criar com elas uma ligação emocional, elas existem, e não isso é tudo o que importa para a existência de sentimentos?
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