Saudosismo dos 68 anos que ainda não tive.

Nov 17, 2005 03:13

Preciso escrever-te contos para amadurecer
e entender os sentimentos, criança minha (ou
que pelo menos um dia foi).
- Era para ser o "subject" mas era muito grande.

Não tenho muito para falar, alguns lamentos
dessa vez vou deixar engasgar e dizer somente
bobeiras de quem um dia teve coração.

Eu tenho um sentimento que não consigo descrever,
seria uma espécie de saudosismo, mas de algo
que ainda não vivi.
Tenho saudade de ter 68 anos, estar na cozinha
com minha esposa velhinha assando um bolo, o perfume
dela misturado com o do bolo ao forno, enquanto
como pão com alguma geleia ou manteiga e tomo cappuccino
deixando alguns farelos cair sobre a mesa.
Tenho saudades, de algo que não vivi, mas espero
que não se chame esperança.
Todo aquele clima calmo da serenidade calejada,
uma casa perfumada com o cheiro dela,
uma mesa forrada com uma toalha bordada.
Eu queria ter o nome disso.

São duas e vinte da manhã, algumas substâncias
não me deixam dormir, algumas produzidas pelo
meu próprio corpo, estava estudando para uma prova
que farei em algumas horas e para uma outra depois
de amanhã.
Estive visitando minha janela, com um copo de bebida
gostosa, alguns cigarros e um trilha sonora perfeita:
Elvis - Blueberry Hill
- Alias, ando escutando ela em vários momentos.

Um dia de sentimentos e palavras amáveis,
esperançosas, que me fizeram explodir,
com meu amor eu consigo fazer do vulgar
um entrelaço de corpo e alma.

Bom, lembrei de um livro chamado
"fiz oquê pude", lembro ainda de quando minha
mão era gordinha e pequenina, carregando esse livro
para cima e para baixo. Ele tinha uma capinha
alaranjada que ia clareando até ficar amarelinho,
o desenho de um galhinho atravessando o livro e
em cima um passarinho cinza com "rostinho" branco
dando uma cuspidela.
Era a historia de um passarinho em uma floresta
que um dia pega fogo e enquanto todos os animais
saem correndo do fogo, ele enche a boca de água e
voa para jogar no fogo.
Livro bobo, moral boba.
Eu bobo, sempre fiel a ele.

Madrugada, violão, algumas palavras sem nome,
uma cantiga do cara que usa samba-canção
do frajola e fuma olhando
os vagalumes alaranjados pela cidade.
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