Nov 02, 2005 14:01
Tudo era tão suave, distânciando e mente
dos olhos, misturando as dores com o
esquecimento para onde vão todas
as fumaças. - Desvanecendo distante.
As doses certas dos passos à esmo nas ruas,
manchando a pele de vermelho e o pensamento
com cada pedra do asfalto.
Seguia assim, prestando atenção nas saias
das flores e nos espinhos das mulheres,
os perfumes se confundem: suavidade e frieza.
- Vc comprou sementes? Por qual motivo?
- Ah, as flores estão no mundo, estas eu que
vou plantar e cuidar, para que um dia - quem sabe -
possa entregar a ela este canteiro, sem matar
nenhuma dessas queridezas belas que plantei
nesse chão imundo.
A noite capou o dia violentamente,
e toda a anestesia do dia pesou sobre
minha nuca em uma tensão absurdamente
descoonfortável.
- Preciso daquela massagem iniciante
e com certas pressões de lábios macios
em minha costas.
Hoje ouvi histórias de peixes e aquários,
como se valsse dizer a respeito de algo
tão alienado e sem a consciência
de sua mediocridade.
Me disseram certa vez:
- Para os peixes quem troca a água do
aquário é Deus.
Deus?
Acredito na Ventura, basta.
Na casa de alguém que não conhecia direito
fui tomar limonada com sal. Ganhei um sorriso
e uma frase bela de quem estava no extase do amor.
- Droga viciante, placebo maravilhoso.
Chega em casa na hora do décimo sono,
a porta é facil para abrir e fechar.
A primeira coisa a fazer é procurar alucinadamente
por aquele danone de chocolate (basicamente um pudim),
escolher alguma colher pequenina e comer aos poucos,
dissolvendo cada colherada na calmaria dos
olhos macilentos.
- vou terminar de comer isso na cadeira do
computador, buscando em vão encontrar alguém esse horário
na internet. Arrisco algum telefonema sem resposta,
arrisco palavras sinceras e cheias de saudades.
Vou fazer a barba ouvindo "atmosphere" e depois
do banho quente ficar brincando com o espelho
embaçado ao som de "love will tear us apart".
A toalha seca freneticamente os mesmos lugares.
- Paranóia.
O sono bateu muito forte e sei que não vou
contrar mais ninguem por aqui.
Veste-se de invisível para provar
aos próprios anseios
Que a carne é a razão falsa
De que nada quer levar
quando a Ventura bater à porta
trazendo as cartas coitadas
Sem selos, mas endereçadas.
Quem talha um amor tem os pincéis
gastos e endurecidos.
Sem surpresa