Jan 22, 2007 11:13
O cômodo pequeno e o espelho na escrivaninha.
Pandora abriu o meu zíper e foi nessa hora que ficou escuro,
tudo escuro.
Ela murmurou alguma coisa, supus, porque enquanto a luz sumia os lábios dela se moviam lentamente, como um sopro.
Desculpe, Pandora, mas eu não posso ouví-la, estou ocupado demais tentando controlar as batidas do meu coração.
Eu deveria ter fechado os olhos antes de despí-la, eu deveria ter batido na porta antes de entrar.
O cheiro de Pandora me deixa cego, talvez tenha sido este o momento em que percebo que ela vai me matar. E desta vez não há nada de sexual nisso.
Pandora flor. Seja rápida, Pandora, a porta não está trancada.
A textura do coldre gelado nas minhas costas me assusta, a arma sob o travesseriro é com certeza apenas um mecanismo de emergência. Pandora o fará com as suas próprias mãos, de anjo. De que adiantaria impedí-la, ela já está morta, como eu. Sou um fdp sortudo, ela me ama. Só me arrependo de não tê-la possuído esta noite.
Pandora me diz algo, sinto a respiração quente no meu pescoço, já não ouço, meu coração pulsa muito alto.
E o único fecho de luz do aposento é uma vela que morre na escrivaninha.
Ela segura firme minha garganta, sinto seus dedos tremerem, mas ela não vai soltar. Vejo o punhal invisível e ingógnito, ele toca o meu queixo de leve e eu não grito. Pandora tem um choro sêco, mas se houvesse lágrimas, teriam o mesmo gôsto do sangue que invade minha garganta.
Pandora tem a força que eu não tenho, o frio me incomoda mais do que a dor, latente.
Menina, você é o meu anjo, você me queima de uma forma doce e indolor. Eu te amo, anjo e por isso deixo que você invada meu peito, violentamente (uma, duas, três vezes). Como da primeira vez em que a vi, quando me pediu um cigarro. Só que dessa vez dói, dói porquê a sua imagem some. E eu te concedi apenas o direito de me tirar a vida, você não precisa desaparecer assim (quatro, cinco, seis, sete). Anjo, mantenha meus olhos fechados, assim vejo sua imagem, seu contorno...mas ainda sinto frio, deve ser a umidade do meu peito. Deve ser sangue, Pandora. Ou então é você derretendo por cima de mim. Tranque a porta, meu anjo. E feche as janelas, porque há muito, muito frio aqui dentro, dentro de mim.
txts