[Fanfic]Bullying de Internet

May 22, 2011 18:05

 Ola, sou nova por aqui ^^. Espero que gostem da fanfic.

Título: Bullying de Internet
Classificação: Livre
Advertências: Hum...nao acho que tenha nada demais. Nem ofensivo, pelo menos nao tive intencao de ofender XD Eh so meio Angst, ou nao...
Personagens: CE,PE e SP
Sumário: Eh basicamente uma fanfic sobre o incidente recente, na verdade nao tao recente, que teve no twiter relacionado ao preconceito com os nordestinos. Ceara le o ocorrido no computador e nao tem muita certeza do que sente no momento.Ouve batidas na porta. Para a sua surpresa, Sao Paulo esta a sua frente . O que ele foi fazer ali?

 Ceará olha para a tela do computador. Passa alguns segundos apenas encarando. Morde o lábio inferior. Não acredita no que vê.

Ele pensa que deveria estar com raiva, furioso. Mas tudo o que consegue sentir é uma tristeza estranha, mais incômoda do que propriamente deprimente.

Mesmo assim ele continua lendo, sabendo que tudo aquilo só vai fazê-lo sentir-se pior. Palavras e palavras, de ódio, desprezo, discórdia. Ele sabe que não deveria levar tudo para o lado pessoal, o problema é que não entende bem como fazê-lo. Seus olhos ardem com a luz bruxuleante da tela.
“Nordestisto não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!“ É possível ler na tela em letras graúdas de cores berrantes.

Se houvesse mais alguém ali, ele provavelmente sorriria e faria alguma piada, para mostrar o quanto aquilo tudo era idiota, o quanto aquele ódio tolo não era verdadeiro. Ele só queria ter mais certeza de que não era de fato.
Ele sabe que aquilo é endereçado aos Nordestinos em geral, porém sente como se fosse direto para ele. Pergunta-se se é assim que os outros estados se sentem também.

“O Brasil nasceu daqui e tenho orgulho de ser nordestina.”

Os comentários doces de seus filhos o fazem sentir melhor. Alguns, entretanto o assustam um pouco. Veementes demais, ofendidos demais falando “daqueles do Sul que nos criticam” com a mesma hostilidade que sofreram.

Tão estranho tudo aquilo para ele, que costumava acordar todas as manhãs e fitar o mar, vendo o seu povo agitado passando, vendo seus sorrisos, suas ações, boas ou más e sentia-se antes de tudo brasileiro. Não necessariamente ele individualmente, Ceará, mas brasileiro. Ele para por um momento para considerar se sua conduta é estranha. Pensa se isso tudo não passa de uma forma de menosprezar a sua cultura, de não se valorizar para valorizar o geral.

Lembra de Pernambuco, que tem tanto orgulho da própria bandeira, da própria história, tão incrivelmente viva em Olinda e Recife. Ceará não sabe se o outro se sente mais pernambucano do que brasileiro, ou mais nordestino do que brasileiro. Ele pensa em Fortaleza, no centro histórico mal-cuidado e franze o cenho.

O fato é que mesmo sentindo-se ele mesmo, um Estado, ele se sentia parte do todo. E todo aquele ódio vindo de alguém que também fazia parte do Brasil parecia estranho. Ceará não era tolo, sabia que havia algumas inimizades, brigas. Os regionalismos eram importantes, fazia-os diferentes, davam o que conversar a todos eles, mas traziam conflitos. Só não imaginava um ódio tão explícito.

“Por que os nordestinos não criam um país próprio para eles, já que gostam tanto de bandidos e corrupção?”

Ele está até um pouco acostumado a ouvir algumas dessas frases, porém é sempre um caso ou outro isolado, não uma manifestação tão generalizada.

Mas ele está mesmo sendo ingênuo, não? Ele sabe que esse tipo de pensamento já existe desde a formação do país. Lembra dos movimentos separatistas, da dor que causaram. Não quer pensar neles novamente. Então fica em negação. Da mesma forma como nega para si mesmo o fato de que os outros Estados não o querem em suas casas. Com tanta convicção e um medo verdadeiro de ser menosprezado ou até mesmo odiado.

A porta bate. Ceará considera se deve atender. Não sabe se está no humor de conversar com alguém. Ele pensa que está sendo idiota em dar tanta importância a algo tão tolo e arbitrário quanto mensagens no computador. Coisas assim acontecem o tempo todo, não?

Ao mesmo tempo a porta parece cada vez mais distante e ele está simplesmente cansado. Mesmo assim ele levanta e atende. Não é um preguiçoso e acima de tudo não é um covarde.

-Bom dia- diz o homem do outro lado da porta, encarando-o com o ar habitual de superioridade, parecendo meio sem jeito ao morder levemente o cigarro.

-Ah- Ceará diz ainda meio confuso e surpreso, não era comum o outro vir lhe visitar, aliás, não era comum o outro sequer lembrar-se da sua existência- Bom dia, Paulo.

Ele não teve a menor intenção de soar hostil. Nem sentia raiva propriamente dita. Mas o franzir de cenho do paulista o fez pensar que havia mesmo parecido assim.

-Olha- diz o outro enquanto tira o cigarro da boca, apagando-o com a mão, como se reconhecesse a vontade não verbalizada do cearense de não fumar em sua casa- Eu vim aqui para pedir desculpas.

-O quê?-é a resposta meio débil do surpreso Ceará.

-Eu disse... - repete o paulista, com uma expressão de obvia impaciência - Eu vim aqui pedir desculpas.

-Não sou surdo- Ceará responde meio ofendido - Só achei que isso não combinava muito com o teu caráter.

-Ah... de novo não. Você não vai começar a jogar coisas em mim como o Pernambuco, vai? Só por que eu o chamei de Sergipe.

Como é que se confunde Pernambuco com Sergipe?

- E o que exatamente o levou a fazer isso?

Talvez Ceará esteja mesmo com raiva.

- Eu fui pedir desculpas a ele também, é claro- completa o paulista com um tom petulante.

- Não foi isso o que eu quis dizer- diz o cearense encarando-o firmemente - Perguntei por que você veio pedir desculpas. Você não parece o tipo de pessoa que se incomodaria com isso.

-Ah- ele não parece ofendido, um pouco decepcionado, talvez- Então é essa a imagem que os outros têm dos paulistas?
Ceará não responde.

- A Bahia foi falar comigo. Perguntar sobre as mensagens na internet. E eu pensei... Que... se ela tinha se dado ao trabalho de ir até a minha casa deveria mesmo estar muito ofendida. É até longe. Eu não queria que os outros tivessem uma opinião mais errada de mim do que já têm - só por que eu sou rico, Ceará tem vontade de falar, em deboche, imitando a voz do outro, mas prefere omitir o pensamento- Mas o que fizeram dessa vez foi mesmo muito idiota. Eu quero que vocês saibam - o olhar dele é intenso, sincero- Que eu não penso nada disso dos Estados do Nordeste, ok?

-Ok- Ceará responde, lacônico. O silêncio desconfortável que fica faz o paulista sentir necessidade de falar.

-Olha, é só um mal entendido. Eu sei que tivemos uns problemas por causa do número de retirantes ha um tempo e tudo isso... mas..er...isso não significa que..er...

O paulista para, incerto sobre o que falar. Ele passa a mão pela nuca em um gesto encabulado. Ceara está certo, ele não esta mesmo acostumado a pedir desculpas.

O cearense percebe que esta encarando e que o outro o encara de volta. Paulo definitivamente não sabe pedir desculpas, ele pensa. Os olhos do paulista não estão baixos e arrependidos. O olham no mesmo nível? Não. O olham de cima. Com um ar de superioridade que já está intrínseco a ele. Ou, talvez, seja apenas o próprio complexo de inferioridade do cearense que o faz experimentar essa sensação.

De qualquer modo, ele não gosta daquele olhar. Porque é como se o outro realmente o visse pela primeira vez, tentando decidir o que pensar dele. E isso o faz sentir-se fraco. E ele definitivamente não é fraco.

Ele já viu o chão arder em chamas, já viu a seca, a pobreza, o sofrimento e a morte. Ele não é fraco.

Então o cearense ri. Não de forma debochada. Ele só ri. Na verdade, gargalha. De sacudir os ombros e ter que apoiar o braço na porta para não cair.

Mas rir da própria desgraça não é também um sinal de fraqueza? Não importa. Ele prefere ser aquele que ri a ser aquele que sofre. Prefere que os outros jamais entendam, mesmo que existam aqueles que teimem em entender.

-Eu não acredito- ele fala ofegante enquanto ri- Que... Você... Achou mesmo que... Eu estava com raiva.

O pior é que ele estava mesmo com raiva.

O paulista só o encara com uma sobrancelha arqueada, incrédulo. O cearense continua a rir.

-Olha, cara, eu sei que você não pensa isso de mim, de nós. - ele coloca uma mão no ombro do outro.- Relaxa, eu não sou o tipo de pessoa que leva essas coisas de internet a sério.

Não tinha tanta certeza disso, na verdade.

Continua a rir.

-Você quer entrar? Quer um café? Alguma coisa?

O outro só olha a mão do cearense ainda em seu ombro, sobre o seu terno caro. Não parece incomodado, só um pouco confuso.

-Eu... - ele começa a dizer, mas é interrompido pelo barulho de seu celular. Ele olha a tela de luzes modernas e confirma de quem é a chamada. - Desculpe, eu preciso atender- ele diz por fim.

-Sem problemas, vá em frente- responde Ceara ainda sorrindo.

Alguns minutos de murmúrios irritados ao telefone. Paulo separa a máquina do rosto para falar.

- Eu vou precisar ir agora. Esta tudo bem, então?

-Está sim- Ceara tem um tom amigável.

-Até mais, então. - ele diz, acenando de forma rápida e desajeitada com o celular. O homem de terno caro vira de costas, indo embora.

O cearense olha pra baixo, sem saber direito o que pensar. Quando levanta o rosto encontra o outro, já à distância, ainda o fitando com o celular na mão.

-Você tem um senso de humor estranho- é tudo que ele diz antes de virar de vez e entrar no carro.

Ceara ri de novo, controlando a vontade insana que sente de segurar os ombros do outro e sacudi-los. A vontade louca de falar coisas que ele nunca deveria falar. Como ele também queria que não existisse motivo para aquele ódio todo de hoje. Ele mesmo não queria que seus filhos tivessem que ter ido embora pra começar. Mas ele não os culpa por terem deixado suas terras e ido embora. Ele entende que foi tudo por um sonho, por puro fascínio com uma cidade grande. Ele se sente mal por eles terem tido que ir, e de tanta gente ter apodrecido nas favelas paulistas, como se ele mesmo já não tivesse favelas o suficiente. Não é como se ele precisasse dos milhares de poemas, livros e cordéis já feitos pra lembrar.

Ceara não é burro. Ele sabe que o estereótipo ruim dos nordestinos tem origem nisso, nos problemas sociais. Ele entende que isso não é culpa de ninguém e que estereótipos são mesmo sempre idiotas e que não devem ser levados a sério. Ele sabe que não faz sentido algum ter raiva de algo assim. Ainda mais algo que qualquer um pode falar na internet.
Mas mesmo assim ele tem. Em algum lugar na sua mente isso tudo parece injusto demais. Tolo demais.
Porque ele compreende mesmo o fascínio por São Paulo. Mentiria se dissesse que não o tem. Mas talvez seja apenas um complexo de inferioridade falando.

-Esse filho de uma égua. - uma voz o surpreende, cortando a sua linha de pensamentos e fazendo Ceará pular de susto. Ele reconhece a voz na hora.

- Porra, Pernambuco, que susto. - ele diz indignado na direção do outro.

- Você estava tão distraído que nem me viu chegar- diz Pernambuco meio ressentido, com um olhar severo - Tudo por causa desse filho de uma égua. - ele repete o xingamento, olhando para onde, segundos antes, estava o carro de Paulo.

- Xingar o homem pra quê? Ele veio pedir desculpas- disse Ceará, dando de ombros.

Tinha sido muito gentil da parte dele ter feito isso, aliás, pensou ele.

-Eu sei- disse Pernambuco.

-Admita que só esta com raiva por que ele o chamou de Sergipe - disse Ceará, bem-humorado.

-Talvez. Não acho que seja só por isso, entretanto. Mas isso não muda o fato de eu estar sim com raiva. Aliás, o fato nós estarmos com raiva- disse ele ainda olhando na direção da rua.

- Não estou com raiva- disse Ceará meio na defensiva.

- Não minta pra mim- ele disse dessa vez fitando intensamente o outro, muito sério. - Não adianta fazer essa cara de quem não liga, pelo menos não pra mim.

Ceará pensou em dizer algo, chegou ate a abrir a boca, mas nenhum som saiu.

Existem aqueles que teimam em entender.

-Idiota-murmurou baixinho o cearense.

Pernambuco foi entrando na casa de Ceará sem pedir permissão.

-Deixa disso- disse o pernambucano, ainda olhando na direção do outro - Vamos entrar. - parou por um segundo, sorriu e continuou- O vestibular da USP está chegando.

Ceara piscou, confuso.

- E o que é que isso tem a ver?

-Ora, quer uma forma melhor de vingança?

Ceará revirou os olhos e bateu a porta, mas sorria. Seu humor melhorara um pouco.

Nota:  Bem, eh isso. Como eu ja disse antes sou nova aqui. Ja observava a comunidade ha algum tempo, mas o livejournal sempre me pareceu muito confuso. Alias, ainda me parece confuso XD Por isso, eu tenho que agradecer bastante a Conwy, que alem de me apoiar, corrigiu o meu texto e me ajudou bastante com algumas partes, e a Julia400, que me mostrou pacientemente como fazer para postar as coisas. Tambem nao posso deixar de agradecer a Marina, para quem essa fanfic foi feita como presente de aniversario.

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