Oct 19, 2004 15:38
O meu corpo
Debaixo da minha pele residiam os olhos que nos fez ao mar.
E dos meus olhos retirei as volúpias de vários toques...
O encaixar de três pétalas similares, os meus dedos como nós.
Nós de marinheiros, que tinham as mãos asperas, das suas mãos o lixar.
Dentro de mim vejo lascas de navios inacabados, vejo cigarros queimados.
Debaixo do meu cabelo residiam as ninfas que gritavam 'Vem, Vem, Vem'.
Não me deixei de vir porque elas gritaram dentro de mim,
dentro de mim encontrei os cabelos que me faltavam, como é terrivel a queda de cabelo.
Como também é terrivel que algum dia tenha cheirado a musgo queimado.
Que a dama vestida de negro não tivesse um olhar fatal.
Que os marinheiros não soubessem fazer nós.
Que dentro de mim crescessem visceras nominais.
Ainda assim esperei pela estrela da manhã, para pensamentos mais correctos.
A minha alma caminha só pelos trilhos das cabras, a minha pele transpira só pêlo, pêlo das cabras.
Toma as minhas mãos, que te sejam úteis quando eu aqui não estiver.
A mão que te acarinha e acalma o teu sexo apavorado.
Jorge Amaro