Aug 30, 2004 19:35
na luminosa tarde de verão mergulhados,
vagarosamente deslizamos,
nossos remos manobrados
por bracitos inábeis
enquanto frágeis mãos procuram, em vão,
guiar nosso caminho sem destino.
ah, cruéis três! numa hora destas
e por um tempo de sonho assim
implorar uma história a quem
não tem já fôlego para agitar sequer uma pequena folha!
mas que pode o pobre solitário
contra três imperiosas vozes?
a primeira, ordena, implacável,
«começa já.»
a segunda, mais doce, pede:
«tem de haver muita fantasia!»
e a terceira interrompe-me
não mais do que uma vez em cada minuto.
logo, ao súbito silêncio submetidas,
na fantasia seguiram
a criança dos seus sonhos, pelo país
das maravilhas, fantásticas, diferentes,
em conversa amena com pássaro e animal
quase em tudo acreditando...
e, sempre que a história secava
as fontes da fantasia,
eu, cansado, lhes pedia
para pararmos:
«fica para outra vez...»; «a outra vez é já!»
ordenavam as alegres vozes.
assim foi avançando a história do país das maravilhas
e um a um, lentamente,
se traçavam fantásticos sonhos.
agora, a história está pronta...
e rumo a casa, tão felizes, vogávamos
sob a intensa luz do poente...
alice! aceita esta ingénua história
e com a tua mão carinhosa
entrega-a ao mundo da infância
onde místicas memórias se entrelaçam
como coroas de flores raras, que um peregrino
colhesse em longínqua terra prometida!
poema introdutório a
alice no país das maravilhas [lewis carrol]
tradução de vera azancot