Um leve gosto amargo de Blues

Jun 14, 2009 21:55

A chuva comia o meu chapéu cinza de algodão vagabundo.
Subi as escadas em direção ao meu apê. Ensopado!!!
Na sala uma garrafa de whisky pela metade, e no sofá minha negra guitarra à brilhar.
No chão os discos de Elvis e B.B King, e no quarto minha negra mulher adormecida e umedecida à vinho, com um leve blues a tocar na radiola, enchendo a casa de sentimentos.
Sentei no sofá velho de listras verde musgo, e solei junto com algum negro já falecido dos anos 80.
Meu cigarro pendeu sobre o bico, e a fumaça sensualmente subiu rebolando sobre meus olhos cerrados e concentrados.
A voz masculina e africana saiu do vinil completando o solo, e do quarto uma voz rouca e feminina acompanhou a canção. Era minha negra, encostada no batente da porta, semi nua com os braços cruzados sobre o busto e com suas longas pernas morenas descobertas e acariciadas pelo vento que entrava pela janela aberta de cortinas amareladas e empoeiradas.
Fizemos amor como dois animais, como o encontro do rio com o mar, como tudo que é sujo e violento, limpo e cristalino.

Rodrigo Damião
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