Sep 05, 2010 21:33
Carlos desejava secretamente para si, não uma mulher definida, mas uma mulher-conceito. Não ansiava pelos olhos doces das musas, não ardia pelas formas lânguidas da sedução. O que Carlos desejava, silenciosamente, era uma mulher capaz de existir precisamente da forma necessária a fazê-lo adorá-la intensa, constante e intemporalmente; queria amar para sempre. O que Carlos renunciava de forma visceral era a inauguração de um hábito de beijos de ângulos obtusos, desses que se dão de fugida, que se dissociam dissimulada e implacavalmente do erotismo - pois Carlos tinha para si esse gesto como provido de uma violência tal, que pensava não resistir jamais ao desferimento desse golpe (seu, dela, do mundo, de quem fosse).