Aug 25, 2010 15:00
Os seus olhos, cruzando-se, entrecortaram-se num rasgo de lucidez e de espanto. «Quem és tu?!», pensava Ele, assustado com a incerteza do que se encontrava por debaixo do negro dos olhos que via. Ela mantinha-se imóvel, enquanto o ouvia atentamente. Falavam de coisas pequenas e mundanas, pejadas de um significado universal e grandioso, sobre o cinema, sobre as artes, sobre os vizinhos, sobre viagens, sobre grandes invenções sem utilidade alguma, sobre a amizade, o amor, a raiva e a paixão. «Pára esses olhos, não te mexas, queda-te assim imóvel eternamente», pedia interiormente Ele, pois sabia que qualquer movimento poderia arruinar o encanto para sempre, poderia conspurcar o doce embalo em que egocentricamente se encontrava. Não desejando apaixonar-se, queria prolongar indefinidamente a volúpia que se sente quando o tremor do coração se transmite momentaneamente à alma.