miados & perdidos

Aug 08, 2006 17:30



Esta história é sobre uma família. Não uma família normal, de pessoas, mas uma família com pai, mãe e irmãos, onde os miados são comuns, assim como a cor dos olhos, ou a característica do pêlo. Falo e apresento-vos a família da Magali, a minha gata tartaruga que esteve na passada semana em casa dos meus pais, enquanto eu e o C. fomos de 'mini-férias'. Ontem foi dia de ir buscá-la, mas já sabia que o cenário lá por casa iria ser desolador. Faz apenas dois dias que o Tobias, um gato cor de laranja, pachorrento e brincalhão, pertença da família desde há três anos, desapareceu. Os meus pais suspeitam que tenha caído da varanda do 2º andar durante a noite e a verdade é que até agora nunca mais foi visto. Escusado será dizer que o Tobias, irmão da minha Magali, herdou a cor do pêlo da mãe, Afrodite, mas o feitio bonacheirão e doce do pai, o meu saudoso Gil Vicente. (Sim, eu sempre gostei de pôr nomes de personagens de contos e histórias aos animais... dos grandes clássicos à banda desenhada).
O Gil foi-me oferecido por uma antiga amiga que tinha duas gatas pretas que num dado momento empranharam. Perante o cenário de tantos gatinhos, não resisti a ficar com um e aqui começa esta história de genealogia que dura até aos dias de hoje. Era um siamês meigo, dedicado e fazia-me imensa companhia. Quando, passado alguns anos de ter o seu território dominado lá em casa, a minha mãe decidiu adquirir uma donzela persa cor de mel, ele não achou lá muita piada e começou a ausentar-se pelos quintais alheios, tornando as suas voltas de independência cada vez mais prolongadas. A verdade é que a dita donzela, de seu nome Afrodite - qual deusa do amor - sempre foi uma lady de nariz arrebitado e cheia de pedigree que caiu redonda de amores por um rafeiro mais vadio do que gato de casa. A história, bem ao género Disney de a 'Dama e o Vagabundo', ganhou contronos reais e a bela 'Fro', (como é carinhosamente chamada), cada vez que via o vadio Gil, fazia-lhe perseguição cerrada na esperança de que ele se dignasse a reparar nela. Farto de tantas investidas, um belo dia, ou melhor noite, o Gil passou-se e deu-lhe aquilo que ela tanto queria... Três meses depois nasceram apenas dois gatinhos: O Tobias e a Magali.
A Magali era enfezada, de cor indefinida, pequenina. Quando cresceu nunca ficou desenvolta como o irmão, foi sempre delgadinha (para meu desespero), comendo muito pouco e com personalidade forte, para não dizer arredia. O Tobias era robusto, qual macho da família, cor de mel - tal e qual a mãe - e depressa se tornou num gato pachorrento, gordo até, mas cheio de personalidade, brincalhão e muito, muito meigo.
Como não resistiram aos encantos do Tobias, os meus pais que até tinham decidido dá-lo, mudaram de ideias e ficaram com ele. Eu, apaixonada por aquela gata de cor incerta, que alguns apelidavam de 'feia', trouxe-a para Lisboa e com ela permaneço até hoje.
Toda esta reviravolta na história, para contar que ontem, quando a fui buscar às Caldas da Rainha, o ambiente lá em casa estava pesado. O Tobias há dois dias que está desaparecido sem sinais à vista, e a Afrodite, ao fim de sete anos na nossa família, agonia lentamente com uma doença que nem o veterinário sabe qual é, enquanto espera pela morte.
Adoro gatos, acho que isso já não é novidade para ninguém e saber que assim de repente, em menos de uma semana, a casa fica vazia sem a presença deles é no mínimo triste, muito triste. Pensar no Tobias e imaginar o que lhe pode ter acontecido é desolador, pensar numa Afrodite quase moribunda enquanto lhe dão de comer à boca através de uma seringa, é de cortar o coração, pensar na Magali sem ter o irmão 'à perna', sempre a chateá-la de cada vez que está nas Caldas, é pura nostalgia.
E imaginar a nossa vida sem eles é senti-los tão próximos de nós como se fossem família, porque acreditem ou não, aquilo que eles nos dão - a companhia, os carinhos, as brincadeiras, as meiguices e até os beijos - sim, os gatos também dão beijos - é puro Amor.
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