Jun 06, 2007 00:34
não há nada que me assuste tanto quanto o instante em que você se aproxima. entenda como infantilidade, como o que você quiser, que eu já desisti mesmo desse entendimento nunca atingido; tudo é sempre pontacabeça quando tratando de você. eu podia usar inúmeras digressões e tentar dizer mais, pois há muito não dito esperando apenas a chance de me escapulir, mas concentro ao fato:
você se aproxima. te vejo de longe e logo penso 'não, não dessa vez.', sem contar com a traiçoeira proximidade, que transforma tudo em sim. pra você, sou toda sim: fico desarmada e ainda assim quero lutar; sou a falta de noção do perigo, inconsequência pura. acredito que você deva me enxergar assim, tão desprotegida, e isso estimule a aproximar-se cada vez mais. talvez se eu fosse forte não tivesse coragem, talvez fosse melhor - é tanto talvez.
e, no entanto, as suposições não funcionam quando a proximidade é grande, quando começo a ouvir os primeiros sons que sussura ao meu ouvido. não que você realmente diga algo relevante, geralmente não passa de melodias suaves ou palavras soltas não-tão-suaves-assim. o suficiente, porém, para que eu vire as costas para todo o resto, para os sorrisos, e me concentre exclusivamente no seu melancólico murmurar; a minha vida fica me esperando, mas me recuso a ir.
porque você nunca vai junto. eu tento segurar sua mão, te abraçar ou dizer palavras mais suaves que as suas. nada surte efeito algum. na maioria das vezes já se foi para, imagino, acalentar outros com sua perversa doçura e, em outras, permanece ao meu lado, em silêncio. você olha para os lados e me faz enxergar como nunca vou poder ir além dali, daquele momento tantas vezes repetido. e eu olho para você e enxergo o agora maravilhoso, sem ver a minha vida e os sorrisos que se vão sem mim. sem ver como você me angustia, às vezes.