Deixando de lado a famigerada e velha conhecida crise pós-natal - aquela que cria uma espécie de período de transição onde sensações atravessadas são enfileiradas dentro de você, aguardando um ano novo que parece não chegar mais)-, o bom do final do ano é poder listar descaradamente tudo aquilo que apareceu de bom no ano já agonizante. E por aqui doismileoito foi, definitivamente, o ano das viagens. Mas como isso é um assunto que ainda me deprime, prefiro focar minha atenção em coisas mais produtivas como, por exemplo, minha eterna prolixidade. E é dentro desse mundo particular que surgem as listas intermináveis que na tentativa de registrar o panorama cultural anual de acordo com o seu umbigo, vão selecionando os filmes, peças teatrais, livros e discos que você acredita piamente serem as melhores coisas do mundo - pelo menos até a chegada de um ano seguinte que, se você tiver sorte, fará você rir de si mesmo e suas escolhas absurdas. De Adele ao Pequeno Príncipe, passando pelos peitos da Penélope Cruz e o dote do Brent Corrigan, lá vou eu.
LITERATURA
"Qual foi o melhor livro que você leu em 2008?"
Mesmo com as bochechas vermelhas, eu não posso deixar de repetir que sou o pior leitor do mundo. Leio pouco, leio devagar, gosto de destacar frases, fazer anotações... Tudo aquilo que todo mundo, quando não sabe, imagina. Só que em doismileoito eu resolvi abusar do direto de ler pouco e mesmo tendo iniciado muitos capítulos de livros variados, cheguei ao final do ano com a marca vergonhosa de dois livros lidos. Pois é, só twofuckingbooks. E como o "
O Terceiro Travesseiro" não é literatura que se preze, segue o melhor do ano em TOP UNITÁRIO - Melhor Livro Lido em 2008:
O PEQUENO PRÍNCIPE - Antoine de Saint Exupéry
De fácil leitura, imagens lúdicas e personagens plenas de simbolismos, a história mágica do principezinho, seus três vulcões, encontros e desencontros não veio à mim na infância - muito menos no auge da primavera crítica onde os olhos querem apenas investigar sentidos extraordinariamente superficiais. Em forma de livro velho, uma edição de 23 de junho de 1983, dia de um de meus muitos aniversários, ele apareceu esse ano como quem nada quer, exatamente quando eu precisava de significados redentores camuflados pela ingenuidade simplória do tal essencial que invisível aos olhos é. E está tudo ali mesmo: questionamentos acomodados, vontades suprimidas, solidão avassaladora e todos reencontros e descobertas ao longo do caminho. Narrativa poética, de genialidade enigmática, mergulhada no inconsciente do eu que há muito tempo não enxergava. As misses já não me soam tão estúpidas, afinal.
TEATRO
"Você foi ao teatro em 2008? Quais foram suas peças teatrais favoritas?"
Teatro continua sendo paixão. Aquela velha história das luzes, dos rostos, dos aplausos e da virgindade que perdi no
ano passado ao me jogar de corpo em alma nas melhores produções da temporada. Fui, sim, ao teatro. Mas em doismileoito, seguindo a intensidade dos impulsos literários, muito pouco. Nada de extraordinário, nada que mereça fogos de artifício; apenas produções independentes, tímidas e algumas, devo dizer, de gosto bem duvidoso. Segue, então, um outro TOP UNITÁRIO - dessa vez com o Melhor Espetáculo Teatral Assistido em 2008::
"O JUDAS EM SÁBADO DE ALELUIA"
Encenada pela Companhia do Invisível (grupo de teatro amador oriundo da Comunidade da Veridiana, subúrbio do Rio, e hoje tem como sede o Teatro da
Cidade das Crianças), o espetáculo é adaptação do
texto de Martins Pena - uma comédia rasgada que critica a hipocrisia de uma sociedade que semeia visões distorcidas de sua própria moral, desejos e (in)certezas. Sob direção de Alexandre Damasceno, coordenador do Projeto
Reperiferia, os atores utilizam-se de máscaras artesanais e conseguem estabelecer uma comunicação rápida, natural e extremamente simpática com a platéia. Em suma, criação simples, dinâmica, jovem, criativa e muito divertida. Pra aplaudir com sorriso no rosto.
TELEVISÃO
"Qual foi seu programa de TV favorito em 2008?"
Calculando cá com meus botões, descartando os seriados tão favoritos quanto constantemente revisitados, que já terminaram mas que nunca irei abandonar (Alô,
"SFU",
"QaF" e
"SatC"!), esse ano acompanhei episódios inéditos de seriados distintos de nove séries que eu já acompanhava e seguem em exibição: "
Pushing Daisies", "
Ugly Betty", "
Brothers & Sisters", "
Lost", "
Skins", "
Samantha Who?", "
The Riches" e "
Dexter". Algumas perderam a força ao longo do caminho ("Ugly Betty", "Brothers & Sisters", "The Riches"), outras recuperaram o fôlego ("Lost"), há aquelas que eu ainda não consegui definir se cresceram ou caíram ("Pushing Daisies" e "Samantha Who?"), mas que continuam muito divertidas, e somente duas se sustentam como candidatas a ingressarem no hall das favoritas de todos os tempos ("Skins" e "Dexter"). Mas se for para falar de novidades genuínas, lá vamos nós com um terceiro - e último! - TOP UNITÁRIO - Melhor Série Lançada em 2008:
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"TRUE BLOOD"
Depois de emplacar três produções na seleta lista dos meus seriados favoritos de todos os tempos, a HBO resolve reatar a parceria com
Alan Ball, a mente brilhante por trás de "Six feet Under", e presentear o público com mais uma série não só polêmica quanto viciante - e diferente de tudo que os outros canais andam exibindo por aí. Estrelada por
Anna Paquin e baseada nos livros de
Charlaine Harris, "True Blood" se passa em um mundo onde os vampiros convivem diretamente com os humanos após a descoberta de um sangue sintético. A sinopse semi-retardada no entanto não afeta a execução de uma história que vai além daquela velha pasmaceira sobre vampiros. Misturando sci-fi, romance, suspense, comédia, drama, fantasia, terror, soft-porn e tudo mais que tem direito, a série flerta com o gore e tem em seu realismo fantástico o cenário perfeito para o desenvolvimento de suas neuras, dramas, relações e personas (anti)sociais, alfinetando algo maior que as presas dos milhares de vampiros que habitam o Estado da Louisiana. Do entusiasmado sotaque americano sulista (passando pelos músculos de um atrapalhado
Ryan Kwanten, pela energia contagiante de
Rutina Wesley, pela força de um elenco de primeira...) ao clima caipira-gótico, tudo é instigante e politicamente incorreto. Definitivamente, o melhor de 2008.
CINEMA
"De todos os filmes que você assistiu no cinema em 2008, qual foi o seu preferido?"
Se houve uma categoria que não caiu de padrão, foi a cinematográfica. Se em doismilesseis marquei catorze presenças em salas de cinema, dando um salto para trinta e quatro filmes assistidos no ano seguinte, em doismileoito contabilizei trinta e oito filmes assistidos em salas de cinemas espalhadas pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Houston e Nova Iorque. The Golden Compass (2007), Juno (2007), Atonement (2007), There Will Be Blood (2007), The Savages (2007), Persepolis (2007), Cassandra's Dream (2007), Michael Clayton (2007), The Diving Bell and the Butterfly (2007), 2 Days in Paris (2007), Irina Palm (2007), Elementarteilchen (2006), Vantage Point (2008), My Blueberry Nights (2007), Speed Racer (2008), Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull (2008), The Other Boleyn Girl (2008), Sex and the City: The Movie (2008), The Dark Night (2008), Hancock (2008), Wanted (2008), Mamma Mia! (2008), Hellboy: The Golden Army (2008), Synecdoch, New York (2008), Eagle Eye (2008), Nights in Rodanthe (2008), In Bruges (2008), Blindness (2008), Death Race (2008), The Women (2008), Rocknrolla (2008), Elegy (2008), Vicky Cristina Barcelona (2008), Burn After Reading (2008), The Neighbor (2007), Les Témoins (2007), Kantoku · Banzai! (2007) e Yo Soy La Juani (2006). Mais uma vez, melhor marca ever. E deixando de lado a escassez dos TOPs anteriores, ficam as dicas do já clássico TOP 15 - Melhores Filmes Assistidos no Cinema em 2008:
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1. "Blindness"
Alguns o chamam de pretensioso, mas aos meus olhos um filme excelente; apocalíptico, perturbador e friamente sólido, cheio de divagações filosóficas e críticas afiadas que você pode até não gostar, mas vai ter que engolir à seco. Metáforas autodestrutivas que desencadeiam reflexões urgentes. Tensão imposta por nossas próprias misérias. Como disse o jornal Le Monde: "uma pintura do caos social com violações, lições de dignidade e revolta, reflexão sobre o racismo, o sentido moral, a solidariedade." E se até Saramago gostou - e se emocionou algumas vezes -, quem sou eu para discordar?
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2. "Le Scaphandre et le Papillon"
Exercício brilhante de argumentação, direção e atuações inspiradas. Inteligente, vence as limitações de um argumento aborrecido através da realização talentosa. Complexo, desenvolve a capacidade criativa criando vida a partir da morte. Poético, é visualmente - e sonoramente - devastador.
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3. "There Will Be Blood"
Retrato crítico do empreendedorismo à parte, o filme de Paul Thomas Anderson - ou seria do Daniel Day-Lewis? - é redondo, poderoso, incisivo, questionador e irremediavelmente épico; em todas as suas dimensões, do início ao fim. Um daqueles para se jogar de cabeça, descartando a possibilidade de voltar ileso.
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4. "Synecdoche, New York"
Entrelaçando cinema e teatro, Kaufman flerta com o absurdo e reproduz o estado mental de suas personagens para discutir a incapacidade de encenar a vida. De argumento excelente, atuações competentes e texto impecável, "Sinédoque" é engenhoso, profundo e indisfarçável. Na falta de um diretor mais experiente, ligeiramente confuso. Ainda bem que a imobilidade frente à própria obra faz parte da excelência do contexto.
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5. "Irina Palm"
O que você faria para salvar a vida do seu neto? Irina tocaria as mais belas, bem-humoradas e românticas punhetas. De direção alemã, roteiro iraniano e falado em inglês, o "Irina Palm" encontra na globalização técnica a linguagem emotiva que não precisa de tradução. O filme, como não poderia deixar de ser, é o retrato fiel de sua protagonista: estampa ingênua para um conteúdo forte apaixonante.
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6. "Persepolis"
Dos quadrinhos para a telona, sem perder o humor crítico de quem joga no ventilador os traumas e miséria de uma sociedade absurda que joga contra ela mesma. Simples, de traço arredondado, bonito, de execução poética, e desolador.
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7. "In Bruges"
Misturando sangue e gargalhadas, Martin McDonagh desenha desvairadamente uma montanha-russa de esquizofrenia hilária, presenteando um público desacreditado em criatividade com um filme extremamente original, cuja ironia politicamente incorreta é construída sobre um mundo de aparências que se desmontam a cada mudança de câmera. Em suma, surpresa deliciosa, de humor negro refinado e diálogos de tirar o fôlego.
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8. "My Blueberry Nights"
"How do you say goodbye to someone you can't imagine living without?" Elizabeth não disse nada, apenas fugiu. E eu a acompanhei nessa viagem intimista, de complexidade temática, recheada de sentimentos devastadores. Sabores melancólicos, luxúria velada, personas enigmáticas, beijos roubados e cores de encher os olhos, em busca da identidade perdida frente ao confinamento romântico. Porque algumas vezes amor próprio é o único que você precisa. Difícil é esquecer todas as tortas e canções ao longo do caminho.
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9. "The Savages"
O disfuncionalismo me agrada. E o disfuncionalismo em forma de drama familiar, que ironiza suas próprias misérias através de um roteiro perspicaz que atinge patamar cintilante nas mãos do talento surreal de Laura Linney, me inspira. Em três palavras: Big. Red. Pillow.
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10. "Vicky Cristina Bacelona"
A neurose, os distúrbios, os conflitos e toda a infalível parafernália WoodyAlleana, que casualmente nos arrastam feito um ciclone, utilizadas da forma mais carismática, sensual e divertida desde "Deconstructing Harry".
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11. "The Dark Night"
Ainda que o talento visionário do Chris Nolan e a capacidade extraordinária que ele desenvolveu de transformar uma história em quadrinhos em material de discussão sobre as vertentes da psiquê humana - ou no mínimo a inegável habilidade em contornar todo e qualquer problema, oferecendo entretenimento milionário de qualidade e bom gosto indiscutíveis - sejam fundamentais, prefiro resumir essa parágrafo em duas palavras: Heath Ledger.
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12. "Burn After Reading"
Produção despretensiosa, de humor negro refinado, diálogos debochados e crítica incisa diante das máscaras sociais. Porque no mundo dos irmãos Coen, eternos observadores da condição humana, ninguém é santo e todo mundo corre atrás do próprio umbigo. Mas no final, o que eles aprendem? Tudo é politicamente incorreto - e exatamente por isso, divertidíssimo.
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13. "Atonement"
Da trilha sonora à fotografia, passando pelo figurino, adaptação competente e atuações carismáticas, beleza por todos os lados.
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14. "Elegy"
Eles tentaram derrubá-la com uma tradução mal feita de título, mas Coixet continua delicada, densa, espinhosa, emotiva e bastante cativante.
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15. "Mamma Mia!"
Irritantemente histérico, desvairado como a maioria dos musicais, a produção aproveita as lindas paisagens gregas e os furos do roteiro - e as péssimas vozes de alguns atores - não comprometem o todo e, principalmente, não tiram o prazer genuíno de cantar e dançar dentro do cinema vazio, acompanhado por Meryl Streep and the Dynamites. Tipo thank you for the music, sabe como? Algo como menção-emotiva-puxa-saco. E falando nisso...
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Menção Honrosa: "Sex and the City"
Carrie, Charlotte, Miranda, Samantha, labels and tons of love. :)
MÚSICA
"Qual foi o seu CD preferido lançado em 2008?"
Não importou se eram novas amizades (Adele, Fleet Foxes, The Kooks, Cut Copy...) ou antigos familiares (Aimee Mann, Beck, Ryan Adams, Amarante...), o que não faltou em doismileoito foi música boa. Muito mais do que programas de televisão, teatro, livros, DVDs ou cinema, esse foi um ano extremamente musical. Música para esquecer as mágoas, música para chorar sozinho, música para dançar até o dia raiar... Não importava a ocasião, sempre tinha um bom CD à tira-colo - e isso explica o fato de, após dez anos de alegrias, meu finado Discman não ter resistido à pressão. Por essas e outras ficou difícil escolher apenas quinze álbuns do ano. Assim sendo, depois de excluir antigos queridinhos como
Keane,
The Verve e
The Killers; depois de esnobar nomes superestimados como
Hot Chip,
The Walkmen,
TV on the Radio,
The Ting Tings,
The Week That Was e
Marnie Stern (não me entenda mal, todos são realmente trabalhos acima da média; apenas não despertaram em mim nada de, digamos, extraordinário); depois de ter que abandonar, por comparação, as produções talentosas de
Elbow,
Lisa Hannigan,
Noah and the Whale e
Hauschka e o POP bem produzido, safado e contagiante de
Katy Perry, Lady Gaga e
Madonna que tais quais
CSS e, pasme,
Solange, grudaram feito
Balas Juquinha em meus ouvidos, decidi aumentar a família e eleger não quinze, mas vinte produções do ano. E dá-lhe TOP 20 - Melhores Álbuns Musicais Lançados em 2008! Porque a ordem pode até variar dependendo do dia, mas os indicados serão sempre os mesmos.
1. "19" - Adele
De olhar tímido e alma intimista, Adele Laurie Blue Adkins apareceu graciosamente em minha vida este ano através do seriado
Skins - e a maturidade precoce de quem não se adequa aos padrões pré-estabelecidos não me deixou tirar os ouvidos dela. Com voz marcante, de personalidade arrebatadora, Adele canta seus altos e baixos diante da sonoridade pop do jazz/soul contemporâneo que faz de "19" uma experiência, no mínimo, encantadora. Produção sólida, cheia de referências, serviu de pilar onipresente ao espalhar sorrisos, rejeição e amor durante todos os momentos do ano. Em suma, um daqueles trabalhos consagrados de artistas iniciantes que no auge dos dezenove anos alcançam - e nutrem - as urgências humanas.
2. "Fleet Foxes" - Fleet Foxes
(Auto)classificada como banda pop-harmônica-barroca, o quinteto de Seattle estréia como a grande descoberta do ano e faz com que experimentemos sentimentos que sequer desconfiávamos que pudessem existir. Trazendo à tona sensações harmoniosas - e ao mesmo tempo vibrantes -, a banda cria uma atmosfera bucólica com violões poéticos e dedilhados - caindo para o country, com uma pitada de religioso - e arranjos vivos que parecem conflitar o subjetivismo da alma com o ritmo físico do coração. Aconchegante, harmonioso e legítimo, é transcendental. Não fosse o tempo de serviços prestados pela gorda britânica adolescente, seria o álbum do ano.
3. "Little Joy" - Little Joy
Juntaram o que havia de melhor nos Los Hermanos com o meu Stroke preferido, acrescentaram porções generosas da fofurinha que é Binki Shapiro e o resultado é um trabalho tão bom e despretensioso que é impossível não se apaixonar. Com momentos acústicos que flertam com a bossa, Little Joy constrói, como não poderia deixar de ser, pequenas cintilâncias através de um indie-rock-nostálgico que sem pressa e compromisso de acontecer, gera uma atmosfera de conforto, doçura e esperança. Nada relativamente novo, apenas mais dos mesmos que sempre me completaram. Exemplo perfeito do pouco que é muito. Ou como diria
Leandra Leal, Little Joy é massa.
4. "Cardinology" - Ryan Adams & The Cardinals
Ryan Adams continua sendo um daqueles caras multi-facetados que mesmo lançando um álbum por semana - pelo menos essa é a impressão que eu tenho! -, não perde a mão. Calcado no blues, country, folk e nos roquinhos que ele arrisca vez ou outra, "Cardinology" manipula os sons passeando por cores vibrantes e tons de cinza, sempre mantendo uma atitude simplória cheia de graça que prende não só pela sonoridade cativante, mas pelas palavras que definem íntimas sensações que sempre tivemos dificuldade em descrever. Definitivamente, singularmente maestral.
5. "Rockferry" - Duffy
Um tanto mais humilde que Joss Stone e infinitamente menos problemática que Amy Winehouse, Duffy chuta as comparações ao realizar com personalidade e doçura seu charmoso, digamos, neo-sould-pop-retrô-r&b-contemporâneo. De bases minimalistas, sonoridade melancólica e forma cativante, tudo em "Rockferry" parece milimetricamente planejado - o que pode até comprometer a espontaneidade, mas não destrói o lirismo soul que rasga e aquece os corações solitários de quem se propõe ingressar nessa viagem de solidão eminente, corações partidos e amores mal curados. "I want to be free, baby, you've hurt me".
6. "To Survive" - Joan as a Police Woman
Joan desenvolve seu pop-soul nostálgico de forma lenta e crescente, criando um clima triste e aconchegante, dedilhando suavemente seu piano apoiado por guitarras e bateria tão macias quanto sua voz. Mas não só de melodias nebulosas vive o álbum. Inspirado por referências de décadas passadas, "To Survive" também mescla o glamour do pop americano à melancolia new wave, com seus momentos de compasso ligeiro de bateria e teclado. E se não bastasse toda a beleza natural, ainda sobra espaço para um dueto com o tesão que é
Rufus Wainwright, que entrega sua voz inconfundível ao embalo de saxofones e sintetizações, encerrando a produção de forma tão desoladora quanto brilhante. Em uma palavra? Sublime.
7. "Konk" - The Kooks
Com a responsabilidade de superar as expectativas impostas pelo sucesso do primeiro álbum da banda, "Konk" chega tímido e desconfiado, mas de cabeça erguida. Com pinta de releitura, soa como homenagem à era de ouro do britpop. De riffs criativos, bateria marcada, baixos safados, violões grudentos, letras debochadas e melodias que aguçam os sentidos, instiga assovios e batidinhas de pé como poucos. Comparações à parte, The Kooks continua sendo sinônimo de indie-pop inteligente; música produzida pelo prazer genuíno de tocar e que apesar de não inovar ou superar o próprio histórico, passa longe do desnecessário, salvando da escuridão os dias.
8. "Goddamned" - Jay Brannan
Conheci Jay Brannan em doismilesseis, pouco antes dele começar a trepar com
dois caras ao mesmo tempo, e de lá pra cá o crush nele continua o mesmo. Com pinta de ex-modelo e voz adocicada, Jay vai dedilhando seu violão ao compor letras charmosas com a simplicidade e frescor juvenil de quem discute sem pudores as várias vertentes de suas paixões. Descompromissado e atual, a impressão que você tem é de que "Goddamend" dialoga contigo sentado no chão da cozinha. Genuíno e apaixonado, impossível não fechar os olhos e cantar junto. Honesto, é irremediavelmente, unapologetically gay. Ame ou odeie, sem meio-termo.
9. "Viva la Vida or Death and All His Friends" - Coldplay
Eles se perderam, mas reencontraram o caminho reinventando a si mesmos através de novas sonoridades e experimentos refinados. E ainda que nada soe tão bom quanto as duas primeiras produções que me puseram de quatro pela banda, Coldplay, queira você ou não, é sempre acima da média. Y Viva la Vida!
10. "In Ghost Colors" - Cut Copy
Através de melodias mnemônicas, base rítmica contagiante, vozes robotizadas e química intrigante, os australianos do Cut Copy não só conseguem te colocar para dançar como intrigam com ares de obscuridade saudosista. Um daqueles trabalhos de difícil definição, "In Ghost Colors", como o próprio título sugere, é uma produção modernosamente nostálgica. De sintetizadores criativos e influências oitentistas de qualidade, um álbum para rir, dançar, refletir, relembrar e, por que não, dormir de conchinha.
11. "Jukebox" - Cat Power
Existem CDs de covers e CDs de covers. "Jukebox", assim como o do Mark Ronson no ano passado, é um puta CD de covers. De cara limpa, abraçando o soul e flertando com o blues, a Gata Poder rouba uma pá de músicas consagradas (originalmente cantadas por nomes como Janis Joplin, Billie Holiday, Patsy Cline e Frank Sinatra), derrete tudo num caldeirão boêmio e transforma as mesmas músicas em algo completamente novo, sem nada deixar a dever em relação às versões originais. Charlyn, sing one for me.
12. "@#%&*! Smilers" - Aimee Mann
Ainda que soe como mais um da mesma, a verdade é que dessa vez Aimee abandonou as guitarras elétricas, extraiu treze músicas de teclados e sintetizadores, somou umas cordinhas sutis embalando melodias pegajosas e cantou - algumas vezes em falsetes! - suas neuroses e dores de cotovelo de forma quase experimental, em letras que não só contam, mas revelam. Se soa igual é porque talento e marcas registradas são difíceis de abandonar. E tenho dito.
13. "Oracular Spectacular" - MGMT
Todo ano aparece uma banda supermodernosa agitando aquela velha e conhecida trupe de pessoas modernosamente absurdinhas que adoram uma sonoridade indefinivelzinha e blá blá blá. Em doismileoito a bola da vez foi o duo MGMT, que, pasme, não é só modernoso, mas muito bacanudo. Mesclando o pop - e o rock - à vertente psicodélica dos anos 70, "Oracular Spectacular" consegue no meio de tantas pinturas na cara e lencinhos no pescoço, ser singular. Estranho, alucinógeno, paradoxal e melodicamente intenso, uma experiência gostosa pra cacete - ui!
14. "Elephants...Teeth Sinking Into Heart" - Rachael Yamagata
"Elephants...Teeth Sinking Into Heart" é sofisticação melódica em forma de álbum duplo, composto de duas atmosferas musicais distintas. De um lado guitarras cabisbaixas, pianos melancólicos e bateria de andamento lento que tece melodias magoadas e sofríveis, construindo uma atmosfera amargurada ao alcançar a dor e tristeza de alguém que não quer abandonar a tormenta sentimental que se meteu. De outro lado temos a profusão febril de guitarras, baixos e bateria afiadas declarando aversão à qualquer tipo de afetividade. Trabalho maduro, de sensibilidade acessível, deliciosamente bipolar.
15. "Visiter" - The Dodos
Gramaticalmente ingênuo, "Visiter" é naturalidade e experimentalismo acompanhados por banjos bucólicos e vocal pop embalado por melodias country de percussão quase africanas. De letras fáceis, ritmo pausado e dicção é clara, o duo convida a esquecer o hype, se envolver e cantar junto.
16. "Conor Oberst" - Conor Oberst
Paixão antiga, Conor Oberst é constantemente comparado a Leonard Cohen e Bob Dylan, sendo considerado o maior compositor de sua geração. E em "Conor Oberst", seu álbum solo gravado em um estúdio temporário montado em uma casa no México, ele não deixa a peteca cair. Embalado pela boa e velha sonoridade folk-rock-country-alternativo, Conor aparece mais maduro e sereno ao deixar de lado as agonias adolescentes, domando seus fantasmas internos sem perder suas letras poéticas, repletas de solidão intrínseca. Trabalho versátil e homogêneo que contrasta escuridão e luminosidade da forma mais contundente possível.
17. "Off With Their Heads" - Kaiser Chiefs
Direto como o título, "Off With Their Heads" é rápido, focado, despretensioso e sem dúvida alguma, chiclete. Com guitarras pesadas, percussões aceleradas, um quê de eletro e uma pitada de Lily Allen nos vocais, criam uma atmosfera de pura ousadia, consistência e descontração. Em suma, cabeças rolarão chacoalharão.
18. "Modern Guilt" - Beck
Mais velho e acessível, deixando de lado seus experimentos mirabolantes, Beck oferece uma viagem de volta aos anos 60 com seu ar não só psicodélico, mas extremamente criativo e inspirador. De vocais etéreos e efeitos eletrônicos, "Modern Guilt" é um álbum para, acima de tudo, ser absorvido. Ouça e se deixe levar.
19. "Narrow Stairs" - Death Cab for Cutie
Apesar de não superarem a obra-prima "Transatlanticism", Ben Gibbard e seus meninos acertam uma vez mais. Melancolicamente doce, de acordes hipnóticos e textura delicada, "Narrow Stairs" consegue soar original ainda que seja irremediavelmente Death Cab for Cutie - o que por si só já seria um ótimo motivo para colocá-lo na lista. Mais experimental e atormentado que os álbuns anteriores, reacende a chama do lirismo indie-rock através de melodias harmônicas e atmosfera docemente consistente, que vai além do estereótipo emuxo de ser. Melancolia açucarada para se lambuzar.
20. "Thirteens" - Leona Naess
Dica do Teco, Leona Naess é realmente uma avalanche de emoções, cujas canções, "gravadas num estilo caseiro, revelam perdas pessoais da artista e a necessidade de lidar com a maturidade - mesmo que essa venha em uma mesa de bar na companhia dos melhores amigos." Ouvi, gostei e também recomendo.
E, não, eu não ouvi os novos do Bob Dylan, Black Kids, Sigur Rós, Nick Cave, Vampire Weekend, Kings of Leon, Santogold, Girl Talk e Lil Wayne. :P
"Que canções sempre vão te lembrar de 2008?"
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Além da coqueluche com as melhores do Abba, das doses cavalares de "
Jolene", dos falsetes provocados por "
That's How You Know", das lágrimas constantes derramadas com a trilha de "
Once" e de todas as músicas que fazem parte da seleção dos vinte melhores álbuns do ano ("
Hometown Glory", "
Your Protector", "
Keep Me in Mind", "
Natural Ghost", "
Warwick Avenue", "
Do You Wanna?", "
Half-Boyfriend", "
Nobody Lost, Nobody Found", "
Lost!", "
Eletric Feel", "
Aretha, Sing One for Me", "
Freeway", "
Gamma Ray", "
Cape Canaveral", "
Winter", "
I Will Possess Your Heart", "
Faster", "
Leave Your Boyfriends" e "
Never Miss a Beat", por exemplo), o que não faltou foi música marcando o território versátil que foi doismileoito. Principalmente as fresquinhas e populares, lançadas neste ano!
As "
Single Ladies" da Beyoncé e o "
Womanizer" da Britney, juntamente com o "
Bleeding Love" de Leona Lewis, o "
American Boy" da Estelle, "
Just Dance" e "
That's Not My Name" não só me fizeram dançar, como renderam boas risadas seja por imitações, bebedeiras ou piadas internas interestaduais. CSS me fez dançar my ass off com as excelentes "
Move", "
Rat is Dead (Rage)" e "
Left Behind". Madonna que nunca foi uma unanimidade pelas bandas de cá, conseguiu emplacar não só as do ano passado - Alô, "
Get Together"! - como também "
Give It 2 Me", que me fez descer até o chão, "
4 Minutes", que sempre vai lembrar aquela balada em Nova Orleans e a hilária "
Beat Goes On" cujo refrão passou a ser cantado como "I Don't Know All the Beatles" - ou "OMG, all the Beatles!", dependendo da ocasião.
Outra que apareceu por aqui como quem não quem nada e rendeu ótimos momentos foi a irmã mais nova da Sasha Fierce - há há há! Solange trouxe não só "
Sandcastle Disco" e "
T.O.N.Y." como a deliciosa "
I Decided", cuja segunda parte abusou do sotaque nordestino partitu. Aliás, justiça seja feita, o álbum que ela lançou esse ano é bem bacana, cheio de influências 70s/60s, cheio de cores e criatividade que suas amigas de gênero músical perderam há muito tempo. Mas, continuando,
One Republic,
Norah Jones e
Sarah Bareilles - evidentemente não só eles, mas principalmente eles - me derrubaram com lembranças de você. Pelo menos pude contar com Katy Perry para me jogar pra cima ao "
beijar garotas" e "
falar mal" de um comportamento bem específico, tornando-se onipresente ao colocar esses dois chicletes de uma vez em meus ouvidos. Qual foi a_música do ano, decididamente, eu não sei. Mas que boas e ruins, de gostos duvidosos ou não, me fizeram formar um monte, ah, fizeram. Basta olhar a quantidade de links. :P
"Qual foi a sua maior descoberta musical em 2008?"
Na verdade foram cinco:
Adele,
Fleet Foxes,
Duffy,
Little Joy e
The Kooks. Mas como todas essas descobertas já foram devidamente festejadas entre os quinze melhores álbuns musicais do ano, deixo esse espaço para falar de uma senhorita que escapou de ter o seu nome entre as melhores produções do ano passado e apareceu por aqui no ínicio de janeiro, através de uma rádio Houstoniana, conseguiu colocar seu álbum como a produção-do-ano-lançada-ano-passado e me segurar em sua gravidade:
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"I'm not gonna write you a love song!"
De voz doce, rosto angelical e napa protuberante, a menina californiana é sinônimo de mistura rítmica de rock, soul e pop. Suas letras irônicas e descompromissadas, embaladas por melodias pianescas, tão suaves quanto contagiantes, não passam despercebidas. Em suma, it's Sara Bareilles, bitch. E apesar de ser tratada como isca perfeita para temas de comédias românticas açucaradas, fez minha cabeça and I like it. :)
CAMA, MESA & BANHO
"What celebrities did you fancy the most in 2007?"
Aqui tudo funciona como expliquei uma vez: seja pelo talento absurdo, carisma nato, voz encantadora ou pela simples atração carnal e vontade do outro - ui! -, a verdade é que entra ano e sai ano e sempre aparece aquele ator, aquela atriz, aquele cantor ou aquela cantora que por um motivo ou outro chama a sua atenção and makes you really wonder. Admiração, obsessão ou simples objetos de desejo, segue sem ordem ou maiores explicações, a lista de pessoas famosas, homens e mulheres, que mais chamaram a minha atenção em doismileoito. E dá-lhe TOP 10 - Delicinhas 2008!
THE GIRLS:
Katy Perry
Hot 'n cold hotter.
Selma Blair
C'mon, baby, light my fire.
Kaya Scodelario
I like 'em young.
Sarah Jessica Parker
Sexy - and the city.
Anna Friel
The girl named Chuck.
Christina Applegate
Gorgeous, who?
Penélope Cruz
¡Mira que rica!
Julianne Moore
Timeless beauty.
Norah Jones
Mysterious sensuality.
Kirstin Chenoweth
Sassy you.
AND THE BOYS:
Matt Damon
Matt, Damon!
Rodrigo Hilbert
É do Brasil-sil-sil!
Brent Corrigan
Pornolicious.
Ryan Kwanten
Suck me off like V.
Hugh Dancy
Hello, handsome.
Patrick Dempsey
Made of honor hotness.
Guy Ritchie
Madonna knows how to pick 'em.
Andy Samberg
Nerdy-sexy.
Heath Ledger
Necrophilia, anyone?
Lee Pace
The Pie-Maker.
(...)
Fikdik. XD