Oct 03, 2010 18:53
"Naninha, todos os clichês de aniversário pra você. Você sabe que eu sou melhor com as palavras e um dia eu escrevo tudo que eu desejo pra ti hoje." Eu disse isso no seu aniversário, semana passada, você lembra? Acredite, eu não to falando aqui, na frente desse tanto de pessoas, porque eu quero. Seria bem mais fácil eu fazer como eu sempre faço. Escrever tudo no meu quarto, sozinho, com minhas músicas, minhas lágrimas e te mandar tudo por email como eu sempre fiz, mas eu TINHA que fazer isso pra você e POR você. Mas eu minto. Dessa vez não começou no meu quarto. Começou naquela segunda feira, digo NESSA segunda-feira, quando eu te mandei aquela mensagem. Abre áspas: "Não entra na minha cabeça que essa seja a última semana que eu vou ter minha irmã mais velha comigo". Fecha áspas. E de pensar que já não falta uma semana, nem um dia, já não falta mais nada. Que quando eu escrever uma besteira qualquer eu não vou poder ir ao seu quarto pra te abraçar com a cara inchada e você não entender nada. E nem venha me falar que agora você vai estar "só" a 15 minutos da minha casa. ANTES VOCE ESTAVA A 3 SEGUNDOS DO MEU QUARTO! É UMA MUDANÇA ENORME! Podiamos nos ver 30 minutos por dia que fosse, como de fato era, mas eu sabia que você estava ali e que estaria por mim a hora que eu precisasse.
Nossos primos às vezes me perguntam como é possível que dois irmãos tenham tanta confiança um no outro. Voce se lembra como a gente construiu isso? Fazendo coisa errada. Coisa que até hoje nossos pais nem imaginam que nós já fizemos. Começou assim, eu fiz uma coisa errada e sabia de alguma malandragem sua, então era aquela coisa "se você contar eu conto". Mas essa chantagem, com o tempo, foi virando amizade, confidência, segurança. E eu sempre bati na tecla com eles de que ter alguém 100% confiável pra dividir os segredos valia a pena. Alguns acreditaram, outros resmungaram, mas a maioria só entendeu depois de algum tempo. Vai ver fomos vanguardistas nisso também. Desde cedo dividindo um a história do outro. Ou melhor, você dividindo a sua história comigo, e eu, ali, deslumbrado ia te seguindo sem medo.
Lembro até hoje de uma conversa que tivemos em Aruanã. A gente era moleque. Acho que foi ali que começamos tudo. Eu te irritei de alguma forma e você me deu o maior esporro do mundo, me chamou de infantil e lamentou por não termos uma relação melhor. Foi o primeiro dia que eu chorei calado de vergonha por ter te decepcionado. Hoje vejo que muita arte que fiz foi pra chamar sua atenção. Pra chamar atenção da pessoa que sempre foi ícone pra minha vida. Meta. Objetivo.
O fato é que o tempo foi passando e você sempre fez questão de me manter no seu ciclo. Sempre confiou em mim o bastante pra me apresentar aos seus amigos como teu irmão e durona o suficiente pra afastar todas as garotas que chegassem perto de mim. Não que eu achasse isso bacana, mas eu via ali uma segunda mãe, uma protetora, e seu ciúmes me provava que você tinha o cuidado que eu tinha por você. Ou você acha que pra mim era fácil ser conhecido pelo Ateneu inteiro como "irmão da Jordana". Oi pessoal, meu nome é Pedro Vítor, prazer! Mas não! Eu era conhecido como IRMÃO DA JORDANA. Ok, ninguém mandou ser irmão da garota mais linda do colégio. (...)
Antes "linda" fosse sua única característica. Convidados, esse brilho todo que ela emite deve chegar perto de uns... 10% do que ela brilha por dentro. Quando eu digo que eu sempre te tive lá no pedestal, eu nunca menti. A imagem da irmã inteligente, descolada, que já fazia faculdade, trabalhava e, cansada, jogava a bolsa na mesa quando chegava em casa... não sai da minha cabeça. A irmã ideal. A irmã perfeita. Que nunca erra. Calma, Pedro, ela erra. Em 2004 ela prestou vestibular na UFG e não foi aprovada. Na época eu não sabia muito o que aquilo significava, muito menos a importancia, quiçá a dificuldade. Aquele dia ela chegou chorando em casa e eu deixei passar. É um dos meus maiores arrependimentos. Naquele dia eu deveria ter parado tudo que eu estivesse fazendo e te botado no meu colo pequeno e te dizer mais uma besteira que qualquer adolescente de 13 anos diria. Eu deveria ter te roubado um sorriso que seja. Mas eu não sabia. Eu simplesmente não entendia e errei. Mas o que é o irmão mais novo sem o erro, né? Hoje eu digo isso porque eu passei pela pressão que você passou, e eu ouvi durante todo meu terceiro ano de que eu era capaz, de VOCE. Um dia antes do resultado da UFG você me levou ao McDonalds, naquelas suas típicas escapadas da dieta, pra me distrair. Eu virei pra você e disse: "Amanha uma hora dessas eu posso estar sem cabelo". Você virou pra mim e disse que eu iria ficar lindo careca. Dia 2 de fevereiro de 2009, intitulado por mim como o dia mais feliz da minha vida, eu passei no vestibular da UFG. Você arriscaria o nome da primeira pessoa que eu liguei? "Eu não acredito, eu não acredito, parabéns parabéns pedrinho". E ela ficou gritando de um lado da linha enquanto eu ficava apático do outro, sem acreditar. Fui pro vaca Brava, fiquei bebado, pedi dinheiro, e veteranos me recheavam com mostarda, ketchup, ovo, farinha, pinga. Eles podiam fazer o que quisessem, menos chegar perto da única mecha de cabelo que me restava. Essa mecha era sua. Eu protegi e guardei ela até eu poder chegar em casa e te entregar a tesoura. Você iria selar aquele momento em que você se via orgulhosa de mim e não o contrário. Que estranho, né?
Mas, sem falsa modéstia, sério, como isso seria possível? Naninha, você desde o começo envolveu seus braços no meu peito pra me proteger desde palavras até agressões. Voce que tampava meus ouvidos quando criança pra eu não escutar coisas ruins que possivelmente eu iria me lembrar até hoje. Foi você quem apontou o dedo pra Fera quando ela vinha me atacar e a espantou com seu olhar. Foi você quem eu busquei pra pedir dicas profissionais e foi a sua determinação que eu me espelhei. É de você que eu recebi os tapas na cara mais doídos, mas os que mais mereci. Foi você que abdicou de qualquer crença pra acreditar na minha palavra. Foi a mim que você convidou pra viajar contigo pro Hopi Hari. Fala sério, quem com o mínimo de sanidade, podendo convidar qualquer amigo, iria convidar o irmão pirralho? Eu fui e hoje eu posso falar que a primeira viagem sem nossos pais eu fiz foi com você. E como se não bastasse, enxugou minhas lágrimas quando eu tive o primeiro baque de sair da cidade sem eles. E você ficou ali, me acalmando, dando força e me apresentando um país enorme. Em 2009, ela resolveu me apresentar pro mundo. Dessa vez com um destino consideravelmente mais longe. Fomos pros Estados Unidos, e pude dividir outro melhor momento da minha vida contigo. Você era minha referência. Minha segurança. Meu sangue. Minha igual diante de tantos diferentes. E eu me sentia seguro ali, contigo, mesmo milhas e milhas longe de casa.
E é justamente isso que eu sinto escorrendo pelos meus dedos hoje: minha segurança. Meu suporte. Dia esse que você deixa de ser Naninha pra virar Jordana pra mim. Voce deixa de ser minha irmã mais velha, pra ser uma mulher. Você me deixa pra poder viver sua vida. Hoje a gente sela um momento irreversível na sua vida e na minha. Mas calma, isso não é pra te apavorar. Isso é só mais um motivo pra eu me orgulhar de você. Isso pode parecer estranho, mas você não tá casando com o Rafael, você está casando com o meu irmão. Meu broder. A única pessoa que soube dar o devido valor que você merece. Aquele vídeo que vocês viram não tinha o intuito de contar uma história. É justamente pra provar que nossa narrativa de vida foi complexa, entrelaçada por vários enredos, protagonizada de diferentes formas e contada de um jeito que só a gente sabe contar. E hoje, dia 2 de outubro de 2010, você abre mais um capítulo da sua vida. Se eu viro coanjuvante nesse eu não sei, mas quero que você tenha certeza que eu estarei lá por você sempre.
Hoje eu choro. É horrível perceber que eu sou dependente de alguém e hoje começa minha abstinência. O fato é que eu sempre precisei de você, bem mais que você de mim. Talvez não soube expressar isso da forma que você merecesse e eu tenha que me submeter a esse papelão aqui hoje. Mas você sabe que se fosse preciso eu levantaria uma faixa no meio da T-63 te desejando um 'Um ótimo dia de trabalho' antes de chegar no banco, e outra na 136, quando voltasse, dizendo "Dirige com atenção, por favor. Eu não conseguiria viver sem você".
Eu paro essa festa enorme pra poder dizer diante de todo mundo: EU SOU SEU MAIOR FÃ. Te amo muito!