Ciao Bella!

Jan 10, 2005 00:54





Tomei-a em minhas mãos. Derretia-se em sangue. Rosa carne entoava no fundo. Papoila descarnada. Os músculos fibrosos do seu caule desprendiam-se. Esfaqueada, como esfaqueada? Esfaqueada, não! Mas era isso, isso mesmo, nada menos que isso. Possuída de raiva, cravei-lhe a faca da cozinha, rasguei-a em pedacinhos vermelhos. Levei-lhe a fragilidade e a inocência. Foi um momento de inspiração. Fundo. Rodei-a. Uma circunferência ampla e larga. Assim, lentamente. Cortei-a vagarosamente. Olhei-a pausadamente, como se faz ao ver a vida desaparecer. Foi aí que pensei na fita cola e no agrafador, colar-lhe as pétalas. Agarrei na mochila. Vi o horário do comboio. Bati com a porta. ‘Ciao Bella!’ gritei. Não fujo à polícia, foge! Ouvia-se qualquer coisa assim, nos phones:

agora que sou já crescida
vais à vida e eu vou à minha vida

agora que sou já não tua
saio à rua e sou já crescida
eu mesmo sou uma mulher da vida.

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