Nov 12, 2004 17:47
Meu AMOR.
Depois de ler a infindável sequência de mensagens, completas, incompletas, quebradas, com erros ou sem eles, deparei-me com o dilema de dormir cansado e sorridente, ou escrever-te a dizer que pretendo dormir embriagado com as tuas palavras, produtoras dos mais rasgados sorrisos e longínquos olhares... Fui decidir na minha varanda, sentado abaixo da pedra de peito, com os olhos vagueantes na fatia de céu que me encimava o corpo.
E não posso deixar passar a minha vontade em claro. Quero-te dizer que, analisando a nossa curta e aparentemente infinita história, nunca, mas nunca senti tamanha e tão sincera entrega do meu coração.
Sinto-me parte de qualquer coisa mais alta, levado na mão das correntes cósmicas que não têm nem passado nem futuro, mas que pura e simplesmente existem para além do tangível pelas nossas almas. E que nos arrastam inexplicavelmente por aí, de mãos dadas e sorrisos desenhados no rosto, como figuras irreais e feéricas.
Ainda assim, o erro existe em toda a parte, e uma vez por outra, nós somos susceptíveis de, em sprints emocionais, tropeçarmos um no outro e cairmos. Nessas futuras e preferívelmente distantes ocasiões, nunca me esquecerei do distinto toque ígneo da tua mão numa noite distante em Lisboa, enclausurados à beira rio, no meio do barulho das luzes e dos movimentos nocturnos, do toque cristalino da tua mão na minha, e da distância eónica que esse toque tinha de todos os outros muitos milhões de toques que já experimentei. E mantenho as minhas portas abertas porque sei que vale a pena.
Resta-me dizer-te que nunca conheci semelhante beleza. Nos teus olhos reside uma perfeição e uma profundidade que nunca tinha experimentado. O teu pescoço emana um perfume capaz de me erguer do chão teimoso, contra a até então, incontornável lei da gravidade, me manter assim enquanto estás por perto. Nele vivem também as curvas arqueadas da mais impressionante elegância, pautadas pelo teu corpo todo. Na tua voz vive a ternura do cântico de mil sereias em harmonia, condensadas numa só meiga e inconfundível tonalidade. Adoro o involuntário sacudir suave do teu corpo quando te deitas comigo, e te aninhas confiante no meu ombro com um respirar calmo...
E ainda, a tua clareza de espírito, que abre clareiras arejadas e solarengas no bosque denso do meu, e me faz acreditar que tudo isto vale a pena, que vale a pena gostarmos de nós, e que sobretudo, vale a pena evoluir, especialmente quando acompanhados daqueles que mais intensamente amamos.
Tu fazes-me sentir como se eu fosse mesmo especial. Aqui, dentro do peito. Nunca tinha sentido nada assim. Pelo simples facto de existires e seres como és, eu já aprendi tanto e experimentei tanto, que me torno mais evoluído a cada bater de asa de um qualquer albatroz eterno voador, que plana sobre os mares do mundo com os olhos no horizonte.