Oneshot

Feb 24, 2007 00:02

Título: Tentation
Autora: Yellow Pig
Banda: Moi dix Mois
Pairing: Mana/Juka
Gênero: ?
Classificação: PG 13

Sinopse:
POV, obsessão, amor platônico

Nota:
Eu tinha uns 15 aninhos quando escrevi isso.

Tentation

Ele era sempre tão bonito, sempre tão elegante. Suas roupas eram sempre impecáveis e em sua maquiagem nunca havia nenhum minímo borrão. Seus cabelos sempre brilhavam, ou então eram penteados das formas mais estranhas possíveis, e ainda assim ele continuava magnífico. Às vezes eu quase o confundia com uma garota, quando ele estava ali sentado à penteadeira do camarim, passando batom em seus lábios, cuidadosamente, delicadamente. Às vezes eu invejava aquele batom que sempre tocava seus lábios.

Quisera eu poder tocá-lo. Talvez apenas para tentar conhecê-lo, entendê-lo. Ele nunca dizia nada relevante, nunca parecia emocionalmente alterado, era sempre tão racional e esquemático. Quando tocava, parecia ter em mente sempre o que iria fazer em seguida, para que sua performance pessoal parecesse sempre perfeita. Sim, essa era a imagem que queria passar, a imagem do ser perfeito, do todo-poderoso Mana-sama.

Porém após algum tempo de convivência, não era mais essa imagem que ele me passava. Notei que ele era apenas um homem delicado, cuidadoso, responsável, e de certa forma alegre. Nunca vi Mana-sama chorar, e ele nunca me pareceu ter motivos para tal. Estava sempre fazendo alguma piada sarcástica ou sendo rígido com alguém da banda ou da equipe de produção para que seu trabalho saísse perfeito.

Muitas vezes me chamou a atenção, dizendo que eu deveria praticar mais meu canto. E eu apenas o obedecia, tentando cada vez me superar. Poucas eram as vezes em que ele sequer notava o meu esforço. Porém abençoadas eram essas vezes... Abençoadas pelo Deus Mana-sama. Nunca serei capaz de descrever a alegria que sentia ao receber um elogio seu.

E aquele dia ele havia me elogiado. Lembro-me bem. Dissera que eu era o melhor vocalista com quem já havia trabalhado, e que não conseguia imaginar voz melhor que a minha. Certamente estava equivocado, ou simplesmente exagerando de propósito, mas aquilo ainda assim foi o suficiente para me deixar feliz durante uma ou duas semanas.

Sentia-me triste apenas quando voltava para meu apartamento solitário, e ficava andando de um lado para o outro sem saber o que fazer. Mas naquele dia, enquanto eu caminhava a esmo em meu reduto, um fato incrivelmente raro aconteceu: o telefone tocou. Demorei alguns segundos para absorver aquela mensagem, e assim que o fiz, corri para atendê-lo.

Do outro lado da linha os lábios de Mana-sama encontravam-se próximos a um telefone. E eles me diziam algo que por um momento eu nem mesmo entendi o que era.

-E então, Juka, você pode?- ouvi-o indagar.

-Posso o que?- perguntei em resposta, acidentalmente deixando claro que meus pensamentos estavam concentrados em algo que não era exatamente o que ele falava.

-Você ouviu algo do que eu falei?- ele disse, já um pouco alterado.

-Acho que a ligação está meio ruim, não consigo ouvir direito o que você fala.- menti rapidamente. Não queria ver Mana-sama bravo, não me parecia algo saudável.

-Hum... Bem, eu perguntei se você poderia ir ao estúdio agora, para nós ensaiarmos.- disse. Creio que ainda estava um pouco desconfiado da minha desculpa por não tê-lo ouvido anteriormente.

-Ah, sim, claro. Não tenho o que fazer aqui mesmo...- respondi com certa simpatia.

-Ótimo. Esteja lá em quinze minutos.- e desligou o telefone antes que eu pudesse responder qualquer coisa.

Ele era de fato um homem de poucas palavras. Quando não estava fazendo piadinhas sarcásticas com os membros da banda, é claro. Ou quando não estava falando de alguma receita nova que aprendera. Certa vez eu quase entrei em um curso de culinária apenas para tentar entender o dialeto alienígena de Mana-sama.

Em meia-hora eu estava no estúdio. A culpa não era minha se ele ficava longe da minha casa. Porém Mana-sama nunca aceitava desculpas em caso de atraso. Quase me bateu, e exclamou como uma mãe brigando com seu filho caçula "Isso são horas?!". Na verdade, eu tinha vontade de rir quando ele fazia isso. Aquele tipo de exclamação não combinava com sua voz grave, rouca, e infelizmente, extremamente masculina.

-Desculpe-me, Mana-sama.- disse-lhe. Sabia que não adiantaria de nada pedir desculpas, mas eu o fazia porque isso me trazia a sensação de que eu era uma pessoa educada.

-Vamos ao trabalho.- ele disse, e fez sinal para que eu o seguisse.

Fomos até o local onde sempre ensaiávamos, porém ao olhar para dentro da saleta, não vi nem Kazuno, nem Tohru, nem ninguém. Na verdade, o estúdio parecia já ter fechado há horas... Consultei meu relógio e percebi que de fato o estúdio já fechara há horas. Aquilo me causou uma certa apreensão.

Ao entrarmos na sala, Mana-sama bateu a porta com força e trancou-a, como se quisesse certificar-se de que ninguém apareceria por ali para perturbar. E foi então que eu realmente comecei a me sentir apreensivo. Tive vontade de perguntar algo, porém antes que eu pudesse pronunciar qualquer palavra, ele me empurrou contra a parede.

-Quero conversar com você.- foram suas palavras.

Certamente "conversar" não era o nome que eu daria àquilo, mas enfim... Eu era apenas um simples mortal querendo ir contra as palavras de Mana-sama. Apenas assenti com a cabeça, como se dissesse "tudo bem, vamos conversar", e engoli em seco.

-Eu sei que você me observa quando eu estou me arrumando, eu sei que você me olha quando eu estou no palco, eu sempre sinto seus olhos me perseguirem.- proferiu lindamente.

Tentei imaginar o que ele queria que eu respondesse, porém nada me veio à cabeça. Logo me vi em uma situação estranha, Mana-sama parecia me fazer alguma espécie de declaração de amor, e eu nem sequer me sentia emocionado. Talvez precisasse de algum tempo para absorver aquela informação também.

Os pequenos dedos de Mana-sama tocaram meu rosto, traçaram-no suavemente, e então tocaram meus lábios. Seus olhos se fecharam devagar, e seus lábios se entreabiram levemente. Ele então abriu novamente os olhos, e fitou-me de forma profunda, séria, firme.

Ele realmente estava enganado se pensava que eu, um maldito libriano, iria tomar alguma iniciativa. Creio que foi isso o que o deixou com tanta raiva. Quer dizer, creio que era raiva o que ele sentia quando puxou meus cabelos com força e aproximou meu rosto do dele, colando os lábios nos meus e invadindo minha boca. De início era uma sensação tão estranha... Talvez por quê eu ainda não houvesse processado a mensagem.

Logo assim que entendi o que estava acontecendo, aquele frio na espinha me tomou, deixou minhas pernas bambas, e eu logo caí por cima dele sobre o chão. Seu corpo era tão quente, e seus lábios eram tão macios... Acariciei seu rosto e afastei-me dele brevemente. Mana me fitava com os olhos semi-cerrados, aquela expressão de garota pura no rosto, seu batom estava borrado, seus cabelos bagunçados sobre o assoalho, sua respiração ofegante, suas bochechas levemente coradas. E aquela visão de certo me enlouqueceu.

Porém antes que eu pudesse sequer entender o que estava acontecendo, Mana havia tomado o controle da situação, e fazia de mim seu objeto de uso pessoal. E no entanto em momento algum eu tive vontade de reclamar.

E quando ele oficialmente se tornou meu amor platônico, e eu oficialmente tornei-me seu servo submisso, adorador da sua figura divina, tudo o que ele fez foi me ignorar, e sussurrar em meu ouvido com aquele seu ar sarcástico e estranhamente misterioso:

-Você é mesmo um garoto inocente...

***

Notei que me olhava como um predador analizando a sua caça, rodeava-me como um abutre diante de sua carniça. O que queria? Meu corpo? Minha alma? "Então pegue, é seu", eu o dizia em pensamentos.

Tão belo era o meu Juka... Sempre tão tímido e quieto... Nenhuma outra atitude faria dele mais gracioso. Sentia-me como uma prostituta fazendo um garoto inocente tornar-se impuro, ou como um demônio quebrando as asas de um anjo.

Fazia questão de passar batom sempre que percebia que ele me olhava fazer maquiagem, apenas para forçá-lo a olhar para os meus lábios, observá-los por tempo o suficiente para começar a fantasiá-los. Adorava notar que ele me observava tirar a blusa, e fazia questão de fazer isso sempre na sua frente. Afinal, éramos apenas colegas de banda, que diferença faria.

Sempre foi um dos meus maiores talentos saber fingir, parecer sempre alheio, agir naturalmente em qualquer tipo de situação. E aos poucos eu percebia que ele cada vez mais me desejava. Podia perceber que ele engolia em seco sempre que eu me aproximava, que sua respiração tornava-se ofegante quando eu o olhava nos olhos com o rosto próximo ao dele, que seu coração batia mais forte quando eu o tocava.

E cada vez mais eu também o desejava... Arrumava-me apenas para que ele me notasse, para que ele me achasse perfeito, e de certo ele parecia achar, sempre referindo-se a mim da forma mais formal possível, "Mana-sama", sempre sendo educado e obedecendo as minhas ordens como um simples vassalo diante de seu senhor. "Eu sou o seu senhor, meu Juka... E você é apenas minha propriedade", dizia-lhe em pensamentos.

Sua voz sempre me encantava, e por mais que ele cantasse bem, eu sempre dizia que precisava melhorar, e à cada dia ele parecia melhorar... À cada dia eu sentia mais e mais que sua voz, suas palavras dirigiam-se apenas para mim. Parecia querer me seduzir, como eu queria seduzí-lo. Aquele jogo nunca parecera tão divertido.

Até que um dia cansei-me de jogar. Julguei-me um perdedor por não poder mais contra as tão singelas investidas de um garoto. Porém nada mais podia fazer. Eu o queria. Eu precisava sentir seu corpo junto ao meu, ouvir sua bela voz gritar meu nome, sussurrar obcenidades eu meu ouvido, e fazer-me finalmente ver o quanto perverti aquele garoto inocente.

E certa vez eu o tive. Porém não da forma que eu imaginava. Eu o tive de forma sofrida, dolorosa, ouvi-o gemer de medo, de um desejo tão puro e belo que quase cortou-me o coração. Sua linda voz ecoando pela sala vazia, suas mãos agarrando-se a mim como uma criança à procura de proteção nos braços da mãe. E ele se tornou minha criança... Minha criança obediente.

"Você deve seguir seus próprios passos sozinho agora, meu Juka", disse-lhe com um olhar. Porém ele nunca pareceu me entender. Tornou-se alguém tão dependente que foi preciso um afastamento forçado. E mesmo assim notei que ele sentia minha falta, que não me observava mais com um olhar ardente, e sim com um olhar carinhoso, um olhar de admiração. Ri-me de sua ingenuidade. Pobre criança que eu iludi ao invés de corromper. "Você é mesmo um garoto inocente..."

moi dix mois

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