Festival de Desafios do Omocha - Alternativas - 01/??

Jan 29, 2008 23:02

Banda: Pierrot
Pairing: Kirito x Aiji e viceversa
Gênero: Romance / angst
Pedido da leitora: Mari-chan leveldevil para o Festival de Fanfics do Omocha no Miisha
Sinopse: Naquele dia, naquele instante, qualquer decisão poderia ter sido tomada. Por causa de um único segundo, ou de uma única atitude - mas a verdade é que poderia ter sido a combinação de muitos segundos e muitas atitudes - o que poderia ser, já não era mais. E a partir daí, o destino se desentrelaçou em diversas possibilidades influenciadas por aquele dia, aquele instante.

IMPORTANTE!!!!! A sinopse provavelmente parece confusa. Conforme se ler o capítulo, deve ficar mais claro o que ela quer dizer. Mas, se não ficar, não tema, ó corajosa alma! Tem uma nota de explicação ao fim para retirar quaisquer dúvidas!!!



[4 meses atrás]

O silêncio era algo com o qual eu não estava acostumado. Eu poderia ser um tanto calado, mas sempre havia sons ao redor, me alimentando. Meus ouvidos constantemente eram preenchidos com melodias conhecidas, músicas a serem criadas, conversas alheias, ponderações, declarações de amor e de ódio, gemidos, suspiros exasperados. A vida às vezes me parecia ter esse único propósito: preencher tudo com ruídos e sons. E eu, como resposta, resolvera devolver ao mundo aquilo que me era concedido.

Aquele dia, porém, tudo era silêncio.

--

-Kirito...

Era pleno inverno. Estávamos passeando pela neve, nossas botas afundando um pouco. Mas nada disso importava. O calor de nossas mãos dadas, os dedos entrelaçados escondidos dentro do bolso de seu pesado casaco, passavam uma sensação de falsa segurança e amor eterno.

-Hm? - indaguei com o fundo da garganta, sem abrir a boca. Estava muito frio, e enrolei mais uma volta do cachecol marfim ao redor do pescoço gelado.

-Como você acha que estaremos daqui a dez anos?

...Ponderei um pouco. Eu me imaginava ainda com ele, com seu sorriso e com as bobagens que dizia. Talvez porque o presente imediato tinha uma temperatura tão baixa, eu nos via dentro de um apartamento pequeno e aconchegante - exatamente o mesmo de agora, mas com algumas mínimas mudanças e acréscimos na mobília simples -, o aquecedor a gás ligado conferindo um sonolento mormaço, pipocas estourando no microondas e os trailers de algum DVD.

Lancei um olhar apaixonado a Aiji e lhe respondi.

-Espero que exatamente como estamos. O nosso “agora” é onde estou mais feliz - apertei suavemente seus dedos contra os meus, reafirmando-lhe meus sentimentos.

O guitarrista então me abraçou subitamente, de modo meio desajeitado. Meu rosto ficou prensado sufocantemente contra seu ombro, mas o calor de estar entre seus braços me fez resistir ao desconforto. Estávamos ambos com toucas afundadas até a cabeça, e cachecóis por cima de nossos narizes avermelhados, de modo que havia disfarce o suficiente para nos darmos ao direito de termos gestos tão afetuosos em público.

Passados vários segundos - quando comecei a sufocar, na verdade -, o afastei gentilmente de mim, e lhe sorri com discrição. Envolvi sua mão com a minha e retomamos nossa caminhada. Aiji, olhando em frente, falou para o nada, de modo informal, o que claramente era para mim.

-Eu também, não quero que o tempo passe.

--

-Aiji, ouça só..! Que tal... - e lhe recitei uma letra que eu acabara de compor - Acho que ficaria bem com a melodia que você estava tocando ontem.

-Ah, é..? - pareceu surpreso, erguendo as sobrancelhas - Desculpa, eu estava fazendo ela para a outra banda - e sorriu cheio de culpa.

-Ok... - murmurei resignado - ...Vai ensaiar conosco hoje?

No caso, o ensaio seria dali duas horas (conforme eu marcara insensivelmente, apesar de Kohta estar gripado e de Takeo ter mais um dos muito prometidos e igualmente muito cancelados encontros com sua namorada), mas já estávamos no estúdio, simplesmente por estar. Ficávamos fazendo coisas aleatórias, que poderiam envolver música ou não. Eu gostava particularmente do sofá de veludo roxo, conforme Aiji sugerira comprar, para ler durante longas horas.

-Eu já avisei semana passada que hoje eu ia me encontrar com Maya.

Este era o apelido do outro.

-Hey - o loiro me chamou com um sorriso enorme, e então se aproximou de mim, pousando a mão sobre minha cabeça como se eu fosse um filhotinho - Não faça essa cara. Você fica muito mais bonito quando está relaxado. ...Além do mais, vai ficar com rugas.

Era claro que eu não ficaria calmo enquanto o meu namorado e guitarrista ficasse se encontrando para ensaiar com um pirralhinho. E, ao invés de me acostumar, meu ciúme e descontentamento só cresciam com o passar dos anos - eram dois, três? No início era só um “bico” para passar o tempo, mas aquele hobby estava cada vez mais freqüente e dispendioso de tempo e dedicação.

-Não gosto de pensar em vocês dois juntos - afirmei, ranzinza, segurando a mão do guitarrista e a tirando do meu cabelo - ...Por que você faz isso? Você já tem a sua banda, não precisa de outra...

-Sempre é bom variar um pouco - justificou inocentemente - e além do mais, não vou me encontrar apenas com ele. Os outros estarão junto, você sabe.

-Daqui a pouco vai querer variar de namorado...

Ele sorriu novamente, parecendo achar bonitinho que eu tivesse tanto ciúmes.

-Shinya... - murmurou docemente, enlaçando meu pescoço com seus longos braços - Será que depois de tantos anos, ainda não tem confiança no quanto eu amo você?

Pousei minhas mãos em seus quadris, me segurando para não diminuir a já curta distância entre nossos lábios.

-Você que disse que é bom “variar”... - insisti com um muxoxo contido.

-A música, Kirito! O ambiente de trabalho, que seja. ...Eu sinto vontade de fazer coisas diferentes, de poder trocar idéias com outros músicos, expandir meu círculo social... Mas a pessoa que escolhi, é para estar sempre comigo. Para que, ao fim do dia, eu possa encontrar você aqui e lhe contar como foi meu dia, e ouvir como foi o seu.

-...Mas e Pierrot? - indaguei tristemente - Sinto que cada vez mais estamos nos afastando. ...Você já soube que Jun está com uma banda nova também?

O guitarrista assentiu lentamente com a cabeça, parecendo desconfortável. Seus olhos desviaram de mim por um instante. Eu sabia que alguma coisa ia mudar, não ia? Resolvi ficar em silêncio, então. Doze anos juntos devia ser o suficiente para perceber que o loiro não estava sendo completamente sincero - talvez sequer consigo mesmo.

-Aiji...

-Não se preocupe, ok? - murmurou com a voz baixa e rouca, tentando me distrair.

Como que abafada por grossos e pesados cobertores de lã, minha linha de pensamento ficou lânguida e distraída. Senti sua respiração lenta muito perto da minha, aquecendo meu rosto ao mesmo tempo em que provocava arrepios.

Acabei por passar meus dedos por dentro dos passadores de cinto de sua calça, puxando-o para cima de meu colo.

Pierrot vai acabar, não vai...?

Todas as coisas que eu gostaria de dizer, todos os sentimentos que eu tinha guardados dentro de mim... Como explicá-los a Aiji? Como fazê-lo entender que aquela unidade era essencial? Que ainda que ele tivesse outra vida, eu jamais conseguiria ter? ...Não era algo de que se orgulhar querer ter a vida estática, mas quando eu me sentia tão satisfeito assim, perguntava-me por que o guitarrista não sentia o mesmo. Nossos corações não estavam em tanta sincronia, no final das contas...

Sua boca morna envolveu a minha. Meus sentidos foram obscurecidos por aquela sensação macia e úmida, com a qual eu já estava acostumado, mas que nunca se tornava banal. Era como se minha consciência e meus sentidos fossem arrancados de meu corpo gentilmente, e penetrassem em sua presença de um modo como nem fisicamente seria capaz. No fundo de minha mente, perguntei-me se por acaso ele sentia o mesmo.

O puxei mais para perto, envolvendo sua cintura com meus braços, de modo que suas costas arquearam doloridamente. No entanto, apenas um sussurro conformado escapou de sua boca dentro da minha. Subi as mãos pela lateral de seu corpo, contornando cada elevação de costela, ouvindo um murmúrio satisfeito. Sua folgada blusa de malha acompanhou o movimento suavemente até certa altura, deixando seu umbigo exposto, e então caindo de volta para sua posição inicial. Envolvi seu rosto com minhas mãos, querendo memorizar a sensação - eu queria acreditar em suas palavras de amor eterno, mas, se Pierrot acabasse, quais as chances de que se afastasse de mim também?

-Aiji... - gemi dentro de seus lábios enquanto enterrava meus dedos em seus ombros.

Se havia algo que eu sabia, era que eu o amava profundamente. Já éramos plenamente familiares, nada sendo inteiramente novo, mas tudo sendo agradável, seguro e tépido. Meus sentimentos tão tempestivos, apenas em seu abraço se acalmavam. Desde aquele dia, há tantos anos atrás, quando descobrimos que amávamos um ao outro quase que acidentalmente. E então, entre risos constrangidos, nos perguntamos por que nenhum de nós havia assumido antes. Tínhamos as mesmas inseguranças, mas, a partir daquele momento, estaríamos lado a lado para superarmos tudo juntos.

...E como já deveria esperar, ninguém compareceu ao estúdio nas horas seguintes.

~*~

O silêncio era algo com o qual eu não estava acostumado. Eu poderia ser um tanto calado, mas sempre havia sons ao redor, me alimentando. Meus ouvidos constantemente eram preenchidos com melodias conhecidas, músicas a serem criadas, conversas alheias, ponderações, declarações de amor e de ódio, gemidos, suspiros exasperados. A vida às vezes me parecia ter esse único propósito: preencher tudo com ruídos e sons. E eu, como resposta, resolvera devolver ao mundo aquilo que me era concedido.

Aquele dia, porém, tudo era silêncio.

--

Acordei com as costas doloridas, e a cabeça pesada e zunindo conforme o despertador berrava com seu barulho estridente. Arremessei minha mão com a maior velocidade possível em direção ao botão salvador de tímpanos, e, com o impacto não calculado, não só errei o alvo como fiz o maldito objeto voar cerca de um metro e meio para longe da cama. Merda...

Rolei pelo colchão até cair em uma posição meio sentada no chão, e engatinhei até o insuportável alarme, que esbanjava suas pilhas com orgulho petulante. Quando finalmente consegui desligar a praga, meus ouvidos latejavam de maneira aguda. ...Eu, como vocalista, deveria imediatamente mudar de método para acordar - e se ficasse surdo?

O silêncio súbito permitiu que a adrenalina do susto de despertar se esvaísse lentamente, como espuma sendo enxaguada, e então tomei consciência do frio que sentia. Com dois pulos voltei para a cama e me enfiei sob o grosso edredom azul, tremendo um pouco. Notei sem surpresa o que já era óbvio desde o princípio: Aiji havia ido embora mais cedo. E o desgraçado desligara a calefação.

Resolvi que mais inteligente que ficar me aquecendo ali - até porque eu tinha que acordar - seria ligar novamente o aquecedor central. Nevava forte do lado de fora, e havia uma sólida camada branca acumulada na beira exterior da janela. Levantei-me de má vontade, ajuntei o despertador cromado e o devolvi à mesa de cabeceira, e garanti que a regulagem do ar estivesse em exagerados trinta graus centígrados. Espiei para o celular que estava sobre a outra cômoda, e, novamente sem pasmo, constatei que não havia nenhuma mensagem ou telefonema perdido. Suspirei entediado, e me encaminhei ao banho.

--

Encontrei com Aiji no estúdio. Estava confortavelmente atirado no sofá, as pernas para cima e um braço caindo até o chão. De alguma maneira, aquela visão era provocativa, e o sorriso que o loiro lançou ao me ver confirmava que sua pose era um tanto quanto... proposital. No entanto, como retaliação por sua pequena traquinagem matutina - que já se repetia quase que semanalmente desde que o inverno iniciara -, ignorei suas intenções vis e fui até uma discreta mesa de canto onde havia diversas garrafinhas de água de 500 ml aguardando.

Por um instante, me cruzou a mente que de vez em quando seria agradável ser recebido com um beijo recatado.

Com o canto dos olhos percebi que o loiro se virara de bruços e agora me observava como um gato faria com um canário indefeso. Ele só não sabia que eu estava consciente de sua espreita. Tomei alguns goles de água - gelados demais, apesar de estarem em ambiente aquecido - e comecei alguns exercícios vocais, caminhando pequenos trajetos aleatórios pela sala.

-Kirito...

-Hm - indaguei com um sorriso malévolo, espiando-o com o canto do olho, mas lhe oferecendo minhas costas.

-Como você acha que estaremos daqui a dez anos?

Ergui as sobrancelhas e acabei por me virar em sua direção. Não era comum ouvir Aiji iniciando assuntos mais profundos, e nossa relação era... “agitada demais” para termos esse tipo de intimidade psicológica. Sorri constrangido, me perguntando de onde o guitarrista tirara aquela idéia.

-Não se preocupe, Aiji. Não é com quarenta e poucos anos que você vai precisar começar a tomar Viagra.

O loiro lançou-me um olhar assassino, e ajeitou-se melhor no lugar.

-Estou falando sério.

Ergui ainda mais o cenho, de modo que se escondeu sob a franja. Olhei com mais cuidado, e vi que ele me fitava com um ar curioso e melancólico.

-Espero que estejamos todos juntos. Isso se Pierrot não acabar até lá - respondi friamente - Eu... estava com uma idéia para uma letra. Até anotei. Mas quando percebi, era para a melodia que você vinha compondo já há alguns dias com tanto afinco... - e lhe lancei um olhar afiado - Você estaria disposto a completá-la para que possamos usar?

Aiji baixou os olhos, como que considerando que palavras usar.

-Não precisa pensar em uma desculpa - interrompi sua ponderação - Eu sei que é para a sua outra banda. Eu sei que é para ele cantar - completei acidamente - Em dez anos... mesmo ele já estará velho. - suspirei, parando para tomar um gole de água - ...Eu notei como você tem testado esticar sua pele quando está sozinho na frente do espelho - completei com uma alfinetada mal educada, sentindo-me uma pessoa ruim no exato instante, mas ainda assim me considerando no direito de lhe dizer o que todos sabiam que era a mais pura verdade.

O guitarrista pareceu profundamente atingido, e notei que se arrependeu de ter me perguntado. ...Mas eu também fora idiota, sentindo um ciúme que não cabia dentro de nossa relação. Caminhei lentamente até ele e ergui seu rosto suavemente, usando apenas a força suficiente para forçá-lo a olhar para mim.

-Não se preocupe - comentei seriamente - Daqui a dez anos, estarei exatamente onde estou agora. Se quiser, pode me procurar.

Apesar de soar frio, Aiji sabia que eu não ofereceria algo assim se realmente não me importasse com ele. Perdão a uma traição e ao abandono era algo que eu dificilmente concederia, e duvidava bastante de que algum dia aquela promessa implícita fosse cumprida. E, mais improvável ainda, que o guitarrista viesse a se interessar por seu cumprimento. Qualquer um saberia disso também, mas, o simples fato de eu me dignar a dizer algo assim, por pura gentileza, já era significativo.

Ele sorriu para mim, cheio de um sentimento que para mim era confuso e enigmático. Mas parecia ser algo positivo, e dei-me por satisfeito.

-Bom, Jun também não vai vir hoje. Kohta está de cama com gripe, e Takeo saiu com a namorada. Então eu vou indo também. De um jeito ou de outro, eu só tinha vindo para ver como você estava.

E deixei o estúdio o mais rápido que pude, meu corpo inteiro quente de vergonha por causa de minha sinceridade. De relance, havia notado a expressão perplexa de Aiji, e isso era o máximo que eu suportaria perceber.

~*~

O silêncio era algo com o qual eu não estava acostumado. Eu poderia ser um tanto calado, mas sempre havia sons ao redor, me alimentando. Meus ouvidos constantemente eram preenchidos com melodias conhecidas, músicas a serem criadas, conversas alheias, ponderações, declarações de amor e de ódio, gemidos, suspiros exasperados. A vida às vezes me parecia ter esse único propósito: preencher tudo com ruídos e sons. E eu, como resposta, resolvera devolver ao mundo aquilo que me era concedido.

Aquele dia, porém, tudo era silêncio.

--

-Kirito...

Ergui meus olhos lentamente. Eu estivera lendo um livro no sofá do estúdio de ensaios e acabara adormecendo. É claro que a tepidez aconchegante do local em contraste com a neve que se via caindo através da janela ajudava nesse sentido. Percebi de modo desfocado que era ele, e dei um salto interrompido de onde estava - parei no meio do caminho, primeiro, porque não queria parecer assustado, e segundo, porque atropelaria o homem caso finalizasse o movimento. Ainda assim, ele deu um passo para trás, receoso. Merda...

-O que é, Aiji...? - balbuciei ainda sonolento. Ergui minha mão para ajeitar o cabelo, mas disfarcei a intenção o bagunçando ao invés.

-Só para avisar que estou saindo - respondeu lentamente, tentando ajudar minha compreensão.

-...Mas você recém chegou.

-É, mas você sabe que Kohta está gripado e de cama, e Takeo saiu com a namorada conforme prometia há semanas. Eu próprio já tinha algo marcado para hoje. Então não tem como sair ensaio.

-Então por que você estava aqui? - indaguei, resolvendo não mencionar o fato de que Aiji excluíra o outro guitarrista de sua explicação.

-Eu só...tive o pressentimento de que você estaria aqui.

Minha mente ficou por um momento confusa: isso queria dizer que o loiro queria me ver?

-...e então achei melhor relembrá-lo de que não haveria ensaio hoje - completou após uma pequena pausa, como se aquela adição só pudesse ter sido acrescentada após avaliar minha reação.

-Hum - maneei lentamente a cabeça, buscando compreensão.

Nos fitamos em um silêncio constrangedor por alguns instantes. Minha boca ficou surpreendentemente seca de repente, e lambi os lábios, tenso. Aiji olhou para mim com curiosidade, e então se virou de costas de repente.

-Bom, estou indo, então - falou secamente.

Não..! Eu queria segurá-lo, impedi-lo de ir embora. Eu não o queria ver de costas para mim. Mas, o que me daria este direito? ...Além do mais, seria muito estranho eu tomar uma atitude daquelas.

-Eu... Eu tenho uma letra nova - exclamei um pouco mais alto e muito mais hesitante do que eu gostaria, apenas para interromper sua saída.

O guitarrista parou já na soleira da porta, interrompendo o nó que fazia com seu cachecol ao redor do pescoço. Virou então apenas o rosto para trás, olhando-me com uma expressão gentil.

-...É mesmo?

-S... Sim... - baixei os olhos, subitamente envergonhado com o que diria, ainda que devesse soar normal, considerando nossa situação - A música que você estava compondo aquele outro dia... Eu... Pensei em uma letra para ela - confessei como se estivesse declarando meu amor.

-Ah... Kirito - e então se virou um pouco mais em minha direção, seus olhos parecendo tristes.

Parecia que queria dizer algo, seus lábios se entreabriram duas vezes. No entanto, retomou seu caminho para fora e fechou a porta cuidadosamente. Continuei olhando fixamente para aquele mudo retângulo de madeira maciça. Esperava em meu âmago que o loiro desse meia volta e retornasse, mas logicamente que isso jamais aconteceu.

Joguei-me com desânimo sobre o sofá, perdendo a vontade de continuar minha leitura. Aiji... Eu sabia qual era seu compromisso. Ele estava indo ver ele. Eu não sabia qual a relação entre ambos, e nem teria como perguntar sem parecer... comprometedor. Ainda assim, me sentia desconfortável com a perspectiva de ficarem cada vez mais próximos. Parecia... errado...!

Jun, também, estava se afastando. Neste ritmo, Pierrot terminaria em poucos meses. Em um cenário pessimista, talvez até antes de meu aniversário. E isso seria terrível, certamente. Ao menos para mim... Todas as pessoas com quem eu aprendera a lidar e com quem me tornara confortável... E Aiji...

Virei-me de bruços sobre o móvel e fiquei por alguns segundos analisando a textura do veludo azul que estava sob meu queixo. Sentia-me perturbado. As coisas estavam daquela maneira, mas eu não tinha qualquer perspectiva de o que fazer após a derradeira decisão. ...O quanto será que os outros estavam percebendo o fim também? O que Aiji pensava a respeito? E como estaria nossa situação? Havia tantas coisas que eu deveria ter lhe dito, mas nunca mencionara... E agora, já era tarde demais. Pensei ter ouvido algum barulho abafado contra a porta, vindo do lado do corredor, mas imaginei que fosse o vento.

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Janeiro/2008

Notas da autora!!!
Se não tiver ficado muito claro (isso porque, se não tivesse sido eu própria quem escreveu, eu mesma teria ficado confusa @_@), a fic se passa em 3 universos paralelos (que se abriram de algum ponto em comum que aparecerá adiante na história), mas sempre no mesmo período de tempo. No primeiro, KiriAi são um casal bem resolvido e assumido. No segundo, são "fuck buddies". No terceiro, são meros amigos que nunca tiveram qualquer envolvimento além disso - não que não quisessem, é claro, já que os 3 universos vieram de um mesmo ponto de partida. ...Fez sentido? @_@ ...De um jeito ou de outro, só para avisar que não é AU nem sci-fi XD

pierrot

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