Título: Incubus
Autora:
nyx_gates Pairing: Max/Ronnie
Fandom: Escape the Fate
Gênero: Terror, Angst
Censura: NC-17
Beta-reader:
lilith_vTeaser: "O que você faria se dissessem que você é louco? Você continuaria alimentando sua loucura, fugiria dela ou criaria uma explicação?"
Disclaimer: Eles não são meus, se fossem vocês não saberiam! :p
Capítulo 1 - Edge of the earth
A pior parte em acordar não é sair da cama quentinha, não é ter que enfrentar aquela maldita chuva que assolava Las Vegas, o problema é ter que encarar falsos rostos animados em te ver quando, na verdade, todos estão te xingando pelas costas. “Lá vem o cara que não teve coragem de contrariar os pais, que não é homem o suficiente de lutar contra a vida que lhe impuseram”, é, ter que fazer algo que não quer, é ter perdido a noção de quem você mesmo é depois de renegar tantas vezes sua própria vontade. O pior é fazer algo porque os outros querem.
Saí de casa cedo, como sempre, e caminhei lentamente pela chuva, apertando meu casaco em volta do meu corpo até chegar à faculdade. Direito? Quem contrataria um advogado com piercings e tatuagens como eu? Eu estava mais para um barman que qualquer outra coisa. Até a música que eu considerava como uma opção, agora parece distante. E não é só ela.
Hoje, incrivelmente, ninguém tentou me parar para conversar comigo, ninguém fez piadinha, ninguém falou pelas costas. Era como se eles tivessem arrumado outra pessoa para infernizarem, como se eu não tivesse mais graça, mas não era bem isso que estava acontecendo. Na verdade, era como se eu não existisse para as outras pessoas hoje, bem que eu poderia ser uma alma penada vagando pelo mundo... Mas almas não são forçadas a fazer algo contra a vontade, certo? Então esse não era o meu caso. Eu andava, mas as pessoas ao meu redor pareciam tão mais rápidas que eu, era como se eu estivesse em câmera lenta, observando o mundo ao meu redor, os hábitos e manias de cada um. O dia passou tão rápido que pareciam apenas horas, mesmo tudo estando mais devagar que em dias normais. Meu dia foi simplesmente confuso. Algo de errado estava acontecendo, eu não me importava, se tudo continuasse assim, talvez não fosse tão difícil agüentar um dia depois do outro afinal.
Cheguei a minha casa tirando as roupas molhadas pela chuva que tomei durante o dia inteiro praticamente e as jogando em qualquer lugar, eu só precisava de um banho para relaxar desse dia tão estranho e então poderia finalmente dormir. Tranquei a porta de casa e fui até o banheiro, ligando o chuveiro com água quente e esperando até que todo o local fosse tomado por um vapor quentinho e reconfortante. Quando ele parecia quente o suficiente, eu entrei embaixo da água, sua pressão em minhas costas me dando mais sono ainda, relaxando músculos que eu nem sabia que estavam tencionados. Passei um xampu qualquer no cabelo de forma displicente, quando, de repente, acabou a luz. Maravilha, agora ia ter que tirar a espuma do cabelo com água fria, quase congelada. Num contorcionismo, que chegava a ser hilário até mesmo para mim, eu consegui colocar só a cabeça sob a água fria, tirando o sabão de qualquer jeito e saí correndo de perto daquela água que mais parecia gelo. Sequei-me enquanto voltava para meu quarto, me jogando em baixo dos cobertores quentes, sem nem ao menos colocar alguma roupa além de uma boxer vermelha, sendo dominado por um sono quase doentio enquanto observava a chuva cair pela janela e sentia a cama se aquecendo com a temperatura de meu corpo.
Abri os olhos, ainda estava chovendo. Eu sabia que estava sonhando e nem assim conseguia controlar alguma coisa; patético, assim como o resto de mim. Pior do que ter de ficar acordado é estar sonhando que está acordado sem nada para fazer. Tentei dormir no meu sonho também, mesmo sabendo que seria inútil, mas alguma coisa estava me deixando eufórico, quase ansioso. Levantei-me e dei uma volta por todo meu apartamento, não encontrando nada fora do normal lá. Voltei para a cama e me deitei sob as cobertas, que cobriam até minha cintura, enquanto eu observava a luz do letreiro de uma lanchonete do outro lado da rua atingir meus braços e peitos nus, fazendo a pele branquíssima brilhar entre o vermelho e o azul. Fiquei assim por um tempo indeterminado, até que um raio iluminou todo o quarto por um segundo. Ao lado da janela, parecia que tinha alguma coisa lá, algo como uma pessoa, me observando. Enquanto uma descarga de adrenalina atravessava meu corpo, outro raio iluminou o quarto, me dando a certeza de que havia outra pessoa lá comigo. A pessoa era um homem que eu nunca tinha visto, mas que ainda assim era familiar.
O homem usava uma camiseta preta, um casaco de couro e calças da mesma cor. Em seu pescoço havia algo parecido com uma tatuagem, o que me chamou um pouco a atenção, além das varias pulseiras em seus braços. O que mais me surpreendeu era o fato dele não ser aquele estereótipo de beleza que geralmente assolam os sonhos de qualquer um, ele era desleixado, cabelo meio comprido e bagunçado, aparência meio suja. Ele era aquele tipo de cara que você finge rejeitar, mas por dento a única coisa que você quer é que ele te prenda em algum lugar -qualquer lugar!- e faça tudo que tiver vontade, porque caras como ele te excitam mais que tudo, pois eles sabem o poder que eles tem de atrair as pessoas, eles parecem querer provar que podem ser tão quentes quanto o inferno.
Enquanto eu o observava sem nenhuma discrição -afinal, quem é discreto no próprio sonho?-, ele tirou a jaqueta, a jogando em um canto do quarto, andando em minha direção. Tentei me sentar na cama, por mais que eu estivesse gostando daquilo, estava estranho demais, mas não consegui, era como se alguma coisa estivesse me prendendo à cama, não me deixando me mexer. Observei seus passos lentos até que ele estivesse ao meu lado, meu coração acelerado com toda a adrenalina que corria por meu corpo. Quando finalmente chegou ao meu lado, ele se abaixou sobre mim, de modo que a luz que vinha da janela não mais alcançasse nossos rostos, que agora estavam tão próximos. Seu rosto se abaixou até que sua boca quase tocou a minha, para logo depois se desviar e deixar que seu nariz tocasse minha pele, do pescoço até a orelha, me arrepiando e fazendo ofegar, apenas para rir em meu ouvido, causando uma descarga elétrica que percorreu todo meu corpo, me fazendo arqueá-lo e fechar os olhos.
Quando os abri de novo, estava claro, sem homem misterioso e sem chuva. Olhei para o relógio no momento em que esse começou a tocar, amaldiçoando tudo que via pela frente pelo sonho interrompido. Saí da cama lentamente, tentado voltar e dormir até acordar inchado, mas não valeria a pena todas as ligações que eu receberia depois, tentando me ensinar o porquê de eu ter que aprender a ter mais responsabilidades. Coloquei uma calça social qualquer, assim como a camisa, em movimentos quase robóticos, enquanto minha mente vagava por lembranças daquele sonho que foi real demais, tão real que eu seria capaz de jurar que o estranho tinha um cheiro cítrico e que sua pele era fria, mesmo que, quando tocou meu corpo, parecesse quente como fogo.
Durante um bom tempo fiquei perdido nesses pensamentos, o que fez com que fossem feitas mais piadas sobre mim do que o normal. Nada realmente importante. As semanas se passaram, e com elas cada vez menos eu lembrava daquele sonho e cada vez mais desejava que ele se repetisse. O sonho me fez sentir mais vivo do que os últimos três anos da minha vida e eu ansiava por essa sensação novamente mais do que podia imaginar.