Apr 12, 2010 16:29
Comecei a estudar inglês aos nove anos e era boa aluna. Aí minha família resolveu que ser cigana era o novo preto e começaram a se mudar pra tudo quanto era lado, o que interrompeu meus estudos até, sei lá, os dezesseis anos, quando voltei para o curso. Nessa época meu pai resolveu ser blackmetal e simplesmente não conversava comigo se eu me dirigisse a ele em português. Pedagogia do oprimido, meus progenitores certamente entenderam os conceitos de Paulo Freire de forma diversa. Estudei nessa base por mais ou menos um ano, mas, admito, com muito pouco afinco. A escola era ruim demais, o professor era uma atrocidade e eu passava as aulas procurando criar um novo conceito de meditação transcendental. Se eu aprendi alguma coisa? Só o básico do básico, para engabelar papai. Mas como engabelar papai é um negócio que veio de berço, então, não, aprendi porra nenhuma.
Daí que é um horror começar a COGITAR a idéia de treinar meu inglês, porque todos os meus amigos que falam são monstros super fluentes e eu gosto de ter a vergonha na cara de não expôr nem a minha pronúncia risível nem os meus erros primários diante deles. Não é como se qualquer pessoa tivesse um grande respeito por mim, então eu definitivamente não preciso ficar testando os limites da minha dignidade (mas o faço, quem lê este blog sabe que o faço com uma freqüência assustadora).
O ponto é: quando uma pessoa normal, com a cabeça no lugar e em pleno uso de suas faculdades mentais resolve desenferrujar seu inglês, parado, estagnado e podre, o que ela faz? Se matricula num cursinho, passa a ver filmes conhecidos com legendas na língua da terra da rainha, tenta pegar letras de música de ouvido, se cadastra num desses sites com programas de treinamento, certo? Certo.
Agora, alguém sem a menor noção, um ser completamente extraviado da existência humana faz diferente. Essa pessoa vai lá e compra a versão inglesa de Guerra e Paz. Que, obviamente, teve um terço de sua introdução lida e agora jaz jogada no chão ao lado da cama, esperando a uma paciência e uma disciplina que jamais virão.
Tolstói e suas botas feitas à mão riem de mim a não mais poder de algum lugar, que eu sei. Se era pra fazer merda, devia ter comprado logo em russo, essa porra.
(Adendo: até bem pouco tempo, minha irmã cria piamente que Guerra e Paz era a autobiografia de Napoleão. E discutiu comigo por longas horas quando eu fui avisar que, tiops, not).
holy shit,
epic fail,
nemli,
-not