O Museu da água e as lições do Che

Mar 23, 2009 12:28



Domingo que se preze é, em parte, passado a disfrutrar desse maravilhoso espaço público que é o Museu da Água de Coimbra. É nestas alturas que gosto de viver em Coimbra, se bem que o sossego e a leitura sejam muito provavelmente interrompidos pelo choro de uma criança ou pelo ruído constante do trânsito que nem ao Domingo parece cessar. O cenário foi enternecido por uma família de patos bebés que passeavam atrás da progenitora, sendo que dois deles eram amarelos e me fizeram derreter em “Ahhhs!”, “Ohhhs!” e no inevitável e irreflectido “quero um igual!”.

Esta sacrossanta ausência de stress foi subitamente interrompido por um grupo que chegava à esplanada e espalhava a sua presença com corjice política. Encabeçado pelo Presidente da Câmara, lá ia o grupo dos graxistas que aprovavam, sem hesitações, tudo o que o presidente dissesse em voz alta e sonora: “Sim, Sr. Presidente”, “Que bem observado Sr. Presidente”. A cara de enfado do senhor atestava a voltade que possivelmente tinha de se livrar das sanguessugas, preferindo inquestionavelmente, sentar-se no sofá e rever a 1ª edição do Festival da Canção na RTP Memória, tão inócua, tão sossegante. Claro está que uma pequena representação da imprensa lá veio cobrir o evento que se tratava do lançamento de uma exposição patente na galeria do Museu sobre infraestruturas sustentáveis, muito blah blah blah e uma pitadinha de propaganda política. Eu encolho-me com um ligeiro desdém e tento que o fotógrafo que quase poisa a objectiva na minha cabeça não me empurre para o rio.

Enquanto decorria o fartote da corja, o Other-English-Half sussurrava-me, por detrás do livro que lia, “vamos fingir que somos turistas e vamos ficar aqui”. Decorreram uns 20 minutos e o grupo saiu. Mais umas leituras e saímos nós também. Subimos as escadas em direcção ao parque e, à saída do edifício, todo um estaminé de comes e bebes preparado para quem tivesse assistido ao evento e, claro está, para o transeunte que estivesse com um ratito no estômago. Vendo o sucedido, o O-E-H sugere que também nós poderíamos depenicar um croquetezinho ou tomar um daqueles sumos de laranja com óptimo aspecto. Neguei e senti que as minhas razões tinham ficado por entender.

Uma das cenas finais do filme “Che O Argentino” decorre no momento em que os homens do Che e de Camilo Cienfuegos se dirigem, vitoriosos, para Havana, guiando carros militares. Ultrapassa-os um carro civil com homens do movimento 26 Julho lá dentro, pelo que Che os manda parar e exige que voltem para Santa Clara e devolvam o carro que, vilmente, tinham roubado.
Com a ajuda do Che, o O-E-H finalmente percebeu porque é que eu não tinha, naquela tarde, aceite depenicar um croquetezinho nem tomar um sumo de laranja com óptimo aspecto. Não eram nossos.
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