Nov 18, 2013 20:19
E lá pelos dez eu me imaginava assim: com vinte e cinco. Casada e com filhos, acho. Elegante e bem sucedida. Com os cabelos negros, presos num rabo de cavalo e talvez usando óculos de grau - sabe, dão mais credibilidade. Uma jornalista respeitada ou talvez uma executiva mandona. Mas não era só isso: com essa idade iria conseguir medir minhas palavras. Saberia o que dizer naquelas situações em que a gente nunca sabe realmente o que dizer. Vou ser firme e doce ao mesmo tempo. Severa e amável, numa contradição equilibrada e pacífica. Vou saber dizer não e meu sim será fácil também. Principalmente, não vou me preocupar com os detalhes. Vou confiar no amanhã. Não vou me incomodar com as entrelinhas e vou ser tão easy-going que até eu vou estranhar. A Naiá dos vinte e cinco seria inteligente mas saberia não se levar tão a sério. Conseguiria falar da situação política do Nepal e também da nova coleção do Marc Jacobs. Do novo filme do Alfonso Cuarón mas também dos episódios inesquecíveis de Sex and the city. Ela saberia relaxar e rir de si mesma sem deixar seu senso crítico de lado. Franziria a testa quando contrariada e não conseguiria, em hipótese alguma, ouvir um absurdo sem se manifestar. Isso não faria parte dela. Não suportaria um emprego mais ou menos e não se conformaria ao ver um cachorro de rua sozinho, especialmente no inverno. Seria madura mas se permitiria chorar com uma música no trem. Ou deixaria as lágrimas escorrerem num riacho ao fim de livro - que talvez vire o livro preferido dela depois do fim. E ela iria ler mais, muito mais. Seria menos ansiosa. Ou, corrigindo, nada ansiosa. Teria uma quantidade teoricamente reduzida de amigos mas dos quais ela saberia todas as minúcias e as qualidades mais admiráveis - que, de certo, eram as razões pelas quais eles estariam por perto até hoje. Saberia os defeitos também, pra poder entendê-los por completo e respeitar os seus momentos. Assim como eles saberiam os seus poréns e te deixassem ser doida às vezes. Aquela Naiá adoraria ficar horas sentada no sofá conversando e dividindo a vida e, claro, uma garrafa de vinho. Acreditaria em mistérios da natureza e seria fanática por misticismo. Afinal, tem tanta coisa no mundo inexplicável que seria difícil ser racional o tempo todo. Ela, com seus quarto de século seria determinada e nunca acomodada. Não deixaria que os trinta chegassem sem sentir que estaria fazendo algo para que eles viessem doces e suaves.
E cá estou eu, com vinte e cinco. Nem perto de ser tudo isso que eu imaginava que seria. Mas, acima de tudo, tentando descobrir onde minhas escolhas irão me levar...