Título: Perfeição
Autora: Takashima Nii
Fandom: Axis Powers Hetalia
Gênero: Drama
Sinopse: Ele odiava o branco, a perfeição que fazia seus nervos entrarem em colapso, a brancura que cobria suas terras no inverno o fazendo se sentir tão sozinho em meio a toda perfeição.
Perfeição
Olhou-se no espelho. Pequeno e fraco, loiro e muito branco. Doentiamente branco. Ele odiava o branco, a perfeição que fazia seus nervos entrarem em colapso, a brancura que cobria suas terras no inverno o fazendo se sentir tão sozinho em meio a toda perfeição.
Ele odiava a perfeição porque ela destoava de seu próprio ser. Sempre sorridente, sempre amistoso, sempre gentil e com palavras de incentivo para todos.
Nada disso fora o suficiente para torná-lo perfeito para Berwald. Não conseguira fazer o sueco encontrar o que precisava em si. Não conseguira conquistá-lo.
O punho pequeno atingiu o espelho com força. Uma, duas, três... incontáveis vezes até que todos os cacos estivessem espalhados pelo chão branco tingido de vermelho.
Vermelho... a cor do sangue lembrava Aleksander. Tino odiava Aleksander. Somente Dinamarca conseguia ter todo o amor e carinho de Suécia. Aleksander conseguira ser o que Tino tanto queria, mas nunca conseguiu: ser perfeito para Berwald, apesar de todas as suas imperfeições.
Um soluço abafado pela mão maculada deixou os lábios finos, seguido por outro. E mais outro... e um grito. O grito de dor e desespero que lhe cortara a garganta, ecoando pela casa vazia. As lágrimas se misturavam ao sangue na face, lhe emprestando uma aparência digna de compaixão.
Logo não eram apenas os cacos que descansavam no chão. Em cima deles havia um pequeno finlandês se afogando em ódio, desespero, ciúme, frustração e amor não correspondido. De que adiantava ser a esposa, quando nada do que fazia seria o suficiente para fazer Berwald o amá-lo de verdade?
Tino se odiava por não ser perfeito. E odiava Berwald por não conseguir encontrar perfeição em si.
Continuou no chão, soluçando e chorando, convulsionando enquanto sentia o vento frio que adentrava a pequena janela do banheiro atingir seu corpo, mas não se importava. Não conseguia se importar.
Suécia estava tendo momentos perfeitos ao lado de Aleksander mais uma vez essa noite. Assim como a anterior, e a anterior, e a outra, a outra, a outra...
Agarrou um pedaço maior do vidro, mirando-se nele. Sua figura branca manchada de vermelho. Se ele estivesse todo manchado de vermelho, será que Berwald gostaria de si? O amaria por ser tão vermelho quanto a bandeira de Aleksander?
Sorriu triste, erguendo a manga do suéter azul-claro, deixando o mesmo caco se afundar em sua pele irritantemente branca. Aplicou força suficiente e logo estava mordendo os lábios a fim de encontrar forças para puxar o pedaço de vidro espelhado para baixo.
O branco e azul estavam manchando-se de vermelho, mas aquilo não era o suficiente. Ainda estava perfeito demais... imperfeito demais. Com as mãos tremendo pela dor, arregaçou a outra manga, cravando o espelho em seu outro braço. Não fora tão fundo quanto o outro corte, precisava de mais força. E mais força significava mais soluços abafados na noite silenciosa daquela casa.
Sorriu quando viu que o vermelho se tornava abundante. Doentiamente colorindo o branco perfeito de seu mundo de imperfeição, logo tudo se tornaria vermelho. E Berwald gostaria dele.
Mas só depois. Agora ele estava ficando cansado demais e precisava dormir. Só um pouco... até seu marido chegar de sua noite perfeita, vindo desejar-lhe bons sonhos com o cheiro do Dinamarquês, que não saía, não importava quantos banhos ele tomasse.
Agora Berwald teria somente seu cheiro, pensou sorrindo, enquanto a vista pesava e o frio ficava mais intenso. Não importava, ele só precisava dormir um pouquinho... para depois acordar e receber Su-san com um sorriso e palavras doces... quem sabe ele não o visse?
Mantendo os pensamentos doces, Finlândia adormecera.
E a perfeição já não mais importava. Ele nunca mais estaria ali para tentar alcançá-la. Nem para ver o quanto Suécia se amaldiçoava por ter feito aquilo com ele.
Não importava porque perfeito era só o Paraíso. E deve ter sido para lá que o pequeno fora.
Imperfeição nunca fora tão desesperadora antes. Não importava... não mais.