Blueprint
Adventures in Counter-Culture
Rhymesayers (Abril 2011)
Blueprint é uma presença quase constante no meu dia-a-dia. Desde que ouvi os seus primeiros álbuns, quer a solo, quer em Soul Position, nunca deixei de o seguir, mesmo quando "Things Go Better" me desiludiu profundamente. O facto de o seguir no twitter e no seu website oficial providencia-me com provas suficientes que o Blueprint de "Culumbus or Bust", "1988", "Chamber Music", "8 Million Stories","The Weigthroom" e "Unlimited" continua vivo e de boa saúde, ainda que os trabalhos mais recentes não o tenham demonstrado.
Este "Adventures in Counter-Culture" tem uma história longa e provavelmente já do conhecimento de toda a gente. O álbum já estava concluído e pronto para edição quando o MC foi informado que tinha usado samples sujeitos a copyright, pelos quais seria certamente processado. Assim, Blueprint teve de voltar à estaca zero, removendo e substituindo todos os samples com copyright.
Sabendo que isto aconteceu a "Adventures in Counter-Culture", não pude deixar de ter esse factor em conta quando a produção do álbum não encaixou na perfeição logo à primeira audição. Não tendo ouvido as versões originais dos instrumentais, suponho que nunca saberei se esta sonoridade foi intencional logo desde o início ou se foi apenas um acidente de percurso. Das reviews que li pela internet, uns consideram que Blueprint se está a expandir para novas audiências enquanto outros dizem que Blueprint parece perdido naquilo que realmente quer fazer.
No geral, este é um álbum que contém várias músicas de que gosto bastante. Mas frequentemente há um synth ou um instrumento ou um sample que me soa fora do lugar, mal enquadrado no resto do instrumental. E às vezes é o próprio Blueprint que me soa fora do lugar, como em "Automatic": it's hard enough making hard work seem effortless". Embora seja um chavão que calha sempre bem... não me parece que se aplique a este álbum. Na verdade, soa a um esforço hercúleo que não tenho a certeza de ter resultado na sua totalidade.
Assim sendo, vale a pena comentar as faixas uma a uma.
1 - Five Years Ago
É aquela faixa de intro que só se ouve uma vez e depois se apaga do álbum
2 - Go Hard or Go Home
Esta é uma das faixas que mais me soa a má combinação de elementos. Detesto os synths e os sonzinhos, com as suas melodias que não têm melodia nenhuma. Também considero uma das faixas onde o Blueprint tem pior flow e pior escrita, deixando-se arrastar pela batida que soa demasiado lenta. A única dica que sobressai é "my perfect day is to make a beat, then have sex".
3 - Automatic
À semelhança do som anterior, também esta faixa tem uma batida a tender para o lento. No entanto, talvez a combinação mais feliz de outros samples tenha inspirado uma melhor performance de Blueprint. O flow e as rimas estão bem melhor do que na faixa anterior. Apesar da minha citação anterior desta faixa, é também aqui que se encontra uma daquelas dicas à Blueprint que fazem valer a pena: "Trying to make a soft-synth sound like a sample / Cause everybody want your progress to seem more gradual". Enquanto blogger, tenho de reconhecer a veracidade desta afirmação. É pena o irritante auto-tune, que é mesmo, mesmo muito irritante. Outra dica que talvez mereça destaque é "Like a born again / everything about me is clean / time to explore again / the music is a series of streams", o que de facto explica muito o feeling de "desconjuntado" neste álbum.
4 - Keep Bouncing
O sample vocal do "keep dancing" é giro, mas a batida parece não ter mesmo nada a ver com o resto dos elementos. E a escrita do Blueprint é demasiado reminiscente do fail de "Things Go Better" para eu conseguir curtir. Blueprint, pimp egotrip não é bem contigo.
5 - Wanna Be Like You
Ora este é um dos tais sons que faz este álbum valer a pena, apesar dos pequenos sons a lembrar um jogo de plataformas no início da música. Mas assim que entra a batida, o som fica perfeito. Até o falsete do Blueprint soa bem! O conceito da música em si é genial e a forma como ele aborda o tema é clássico Blueprint. A dinâmica desta música é bastante interessante porque vai progredindo através de instrumentos (fade out de uns, entrada de outros, como por exemplo as guitarras), o que faz com que não seja apenas a letra a contar a história. Tudo culmina em "Our world doesn’t move / til we hear what you say / we wanna be like you / with all your fame and wealth / Cause if we can’t be you / we’ll have to be ourselves". O resto da letra dá uma conclusão engraçada à música, mas na minha mente a letra termina aqui, porque toca naquele ponto crítico em que todos nós vivemos fascinados com as vidas de outras pessoas, não necessariamente famosos, mas que consideramos mais interessantes que nós, porque afinal de contas, ser normal e medíocre é uma seca.
6 - My culture
Outro dos sons fantásticos deste álbum. Como "Wanna Be Like You", esta faixa regista uma progressão, só que feita de instrumentos e letra em partes iguais. Blueprint dedica esta faixa a desfiar a quantidade de artistas de Hip Hop ou relacionados que foram "limpos" a sangue frio. No fim de contas, morreram pela sua cultura, pela cultura Hip Hop, mas como o próprio Blueprint conclui numa tirada de cordas vocais de meter respeito "WHO THE FUCK WANT TO DIE FOR THEIR CULTURE?!" Com esta faixa podemos concluir que não importa o quanto Blueprint queira explorar outras paragens, o Hip Hop é a sua casa.
7 - Mind, Body and Soul
Até ao minuto 1:06, dispensava-se o encher chouriços. A partir do minuto 1:06, dispensava-se o refrão horrível cheio de auto-tune. Exceptuando isso, é um dos instrumentais que melhor sobreviveu a esta fase experimentalista do Blueprint e a letra é das minhas absolutamente favoritas. Blueprint descreve a sua relação com a música, em termos simples, honestos e profundamente sentidos, com que todos nós nos podemos identificar. "It's in stores, but it ain't something you could buy / The way it make you feel, you wanna feel until you die".
8 - So Alive
Este álbum anda todo aos pares. Também este instrumental foi dos que melhor resultou das aventuras de Blueprint, e nem que o Blueprint estivesse a falar sob o efeito de psicotrópicos, esta música ia soar sempre bem. A letra em si é engraçada ainda que não genial. Parece-me demasiado séria e semi-interventiva para este instrumental, mas passa.
9 - Stole Our Yesterday
Não sei qual é a cena do Blueprint e instrumentais com ritmo de balada, mas sem dúvida que é a cena dele neste álbum. Até gosto do instrumental cantarolado desta faixa mas o flow mortiço e a métrica errática do Blueprint neste som faz com que não consiga prestar atenção nenhuma ao que ele está a dizer. É qualquer coisa sobre as agruras da vida.
10 - Radio-Inactive
Podemos colocar esta faixa junto a "Wanna Be Like You" e "My Culture" no grupo das tracks com progressão, e sem qualquer dúvida que esta é a rainha delas todas. Mal o piano entra, já estamos sugados para dentro do ambiente da música e do instrumental. Começa compassado, mas poderoso e Blueprint entra logo de começo em sinergia com o instrumental em flow, métrica e letra. É, se calhar, a minha música favorita deste álbum todo. Acho também que é a letra que soa mais genuína e em maior concordância com aquilo que vejo o Blueprint dizer no twitter e no blog no dia-a-dia, há partes da letra em que ele rima com tanta intensidade que parece que está a arrancar cada palavra ao fundo da alma. " 'Make it more commercial 'Print, you prolly would sell more' / But I'm EATING NOW / So I'm like, what THE HELL for?! / Telling me to change only makes me rebel MORE", "I made this in my basement when you wasn't even there / to express my feelings, not be played on the air / so am I wrong or secure if I really don't care?"
"I write my album on my sidekick
No paper, no notebooks, then rhyme for five minutes straight
No breaks, no hooks, no punchlines, no similes
so I’m easy to overlook
But Grooveshack, Theives World, Expo, Scribblejam
I been around in every single era and I’m still the man
And while I may not get the same hype as the next man
Everything in my life is going according to his plan
So thank God for every fan, every single listener
Who told me to make the art, you don’t gotta switch it up
You put it out, we’ll pick it up
Do you, stay strong
Cause you’re the main reason we don’t turn our radios on."
Esta merecia ser toda citada.
11 - Welcome Home
Tenho quase a certeza que esta foi samplada do Ocean's 13. Aquele com o francês. O instrumental faz-me lembrar o Blueprint de antigamente na produção, o que só pode ser um bom sinal, mas depois a faixa é toda cantada, o que já não faz tanto o meu estilo, até porque me parece que o Blueprint não tem assim demasiado jeito para cantar. Mas a música é bastante agradável.
12 - Fly Away
Detesto o instrumental desta música pelo que me limito a saltá-la.
13 - The Clouds
Esta também não me diz nada, nem letra nem instrumental, pelo que também a salto sempre.
14 - Rise & Fall
Para compensar, a única coisa que não gosto nesta música é o refrão. Porque o instrumental? Brutalíssimo. Lembro-me de ler algures que um instrumental só precisa de violinos para se tornar clássico, se calhar é mesmo verdade. Flow ao nível do beat ainda que um pouco repetitivo, mas gosto do storytelling, bem à Blueprint do 8-Million Stories.
15 - The Other Side
Não percebo qual é a necessidade de fazer uma transição da "Rise & Fall" para esta faixa e chateia-me que essa transição exista porque de cada vez que estou a ouvir a "Rise & Fall", que adoro, parece que sou "aldrabada" a ouvir a faixa seguinte, de que não gosto nem por nada: nem o instrumental, nem a cantoria, nem coisa nenhuma. O mais provável é apagar a música do álbum para não estragar a experiência da música anterior.
Em conclusão: do meu ponto de vista de ouvinte, este é um álbum cheio de altos e baixos, com músicas de que gosto mesmo muito e outras com as quais não posso. Em algumas faixas não percebo o que é que Blueprint está a tentar fazer e noutras ponho a questão de lado porque parece resultar bem. Se esta desarticulação de samples e synths resulta da tal reformulação do álbum por causa do copyright ou se é o Blueprint a seguir as pegadas do RJD2 para brincar às casinhas a nível musical, nunca saberei. O que eu sei é que este álbum tem faixas com letras e instrumentais suficientes que me agradem (mesmo à tangente) para me manter interessada no futuro trabalho de Blueprint.
EDIT: Pelos vistos o Blueprint decidiu
lançar um livro sobre o Making of Adventures in Counter-Culture. Damn. Tou super curiosa apesar de nem sequer ter adorado o álbum.
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