Mais vale tarde do que nunca, right?
DarkSunn
Mint EP
Monster Jinx (Abril 2011)
DarkSunn está quase, quase naquela fase em que as críticas podem começar com "dispensa apresentações". Já lá vão uns quantos anos desde que escrevi o meu primeiro artigo sobre ele, na altura referente ao seu trabalho de estreia "Fractal EP". Desde aí, DarkSunn tem-se ocupado com os mais variados projectos não só a nível musical - Monstro Robot, Liga de Cavalheiros Improváveis - como também a nível de cadeia de valor da indústria, com a netlabel Monster Jinx, da qual é um membro activo. E mais. Os seus beats nunca cessam a sua aparição neste e naquele álbum, contribuindo com a sua sonoridade inconfundível para tornar qualquer álbum um pouco mais épico.
De "Mint EP" pode-se dizer que era, enfim, previsível. Afinal, qualquer coisa em que DarkSunn ponha as mãos já se sabe que não desilude. Constante no estilo, inovador no conteúdo, este é daqueles produtores que qualquer MC desejaria ter no seu álbum. Ouça-se a intro, "A Partir Desse Dia", que constitui um exemplo de como se incorpora samples de voz num beat de uma forma consistente e espontânea. Samples tão variados que até a Alice no País das Maravilhas tem direito a aparecer, trazendo-nos um pouco de surpreendente num beat tão despretensioso quanto agradável. Aliás, esta sensibilidade quanto ao tipo de samples e como os dispor no beat é algo transversal a todo o álbum e uma das idiossincrasias de DarkSunn enquanto produtor.
"6:00" é outra das faixas que faz uso dos samples para criar um ambiente interessante, um contexto minimal que não limita nem condiciona as componentes do beat em si, tal como "Way". Já "Touch a Button" tem um início que parece introduzir um instrumental mais dramático, mas aos 15 segundos transita para um tom mais suave e animado, fazendo uso extensivo de uma batida firme e samples variados. "Birds of Prey" retoma um registo meio jazz meio chill out num instrumental que vejo a servir de base a uma qualquer montagem vídeo. O sample "do you notice anything different about the fans", "yeah there's more than two of them" é uma intervenção bem humorada que traz memórias de quando a indie scene era um grupo de gatos pingados que se contavam pelos dedos.
"Hunt" é uma track onde via vários dos membros de Wu Tang a rimar. Sample pesadão, batida forte e marcada, e de vez em quando umas vozes de outro mundo sobre falta de sanidade mental, parece-me mais do que adequado. "I Can See It" retorna ao tom mais boom bap groovy do resto do álbum, tendo um interlúdio ao 1:32 min a fazer lembrar MF Doom.
"Comic Books Logics" foi sem dúvida a faixa mais marcante, não só por desalinhar com o ambiente do resto do álbum como, em termos de sonoridade, soar precisamente ao que o título indica: uma banda sonora de um livro de banda desenhada. A mim faz-me lembrar mais especificamente Watchmen, porque reflecte ao longo da sua progressão os vários altos e baixos das várias personagens que compõem aquela narrativa. Mas hey, comic books são comic books, e desde que se tenha crescido a lê-los, esta faixa vai cair que nem uma luva nos ouvidos. Esta é, aliás, a faixa que deixa a sensação que "Mint EP" teria algo a ganhar numa maior diversidade a nível sonoro que desviasse um pouco do tom definido pelas restantes faixas.
Por outro lado, apesar da coesão que a homogeneidade sonora deste EP traz, não deixamos de ficar com a sensação que não existe um conceito comum, que dê a este aglomerado de faixas uma personalidade enquanto álbum. Ainda assim, trata-se de um conjunto de tracks que se ouve bem do início ao fim.
All in all, um excelente registo da Monster Jinx. Talvez DarkSunn desiluda um dia. Mas hoje ainda não é o dia.