Crónica RAPUBLICA XXI @ Music Box (17/06/2011)

Jun 27, 2011 19:56

Já está publicada a minha crónica do evento RAPÚBLICA @ Musicbox no H2T.

Alternativamente, podem ler aqui.



RAPÚBLICA XXI, organizado no âmbito do Festival Silêncio por Sagas, membro incontornável dos Micro, tinha um objectivo muito claro: fazer, com muito ritmo e muita poesia, um balanço do rap nacional desde a edição do álbum com o mesmo nome.

Assim, foram convidados alguns dos MCs que, com o seu trabalho, esforço e dedicação, têm vindo a tecer a história do rap tuga desde então. Alguns decidiram trazer consigo MCs que, não sendo do tempo do Rapública, são a nova geração nas mãos da qual se encontra esta cultura.

A estrear o palco esteve… quem mais? Bambino, um dos MCs que mais influenciou a geração pós-Rapública e dos poucos que ainda hoje marca presença constante nos eventos e acontecimentos do movimento. Com ele trouxe Blasph, a quem deu a oportunidade de mostrar que o rap nacional ainda tem muito para dar.

A Bambino seguiu-se D-Mars, que presenteou o público com dois sons: “Isto é Perigo”, do seu álbum a solo “Filho da Selva” e “2 Pratos & 1 Microfone”, com Ridículo. Ainda que D-Mars não tenha optado por músicas do “Rimas e Batidas”, “Microestática” ou mesmo da compilação “Hiphoptuga 2000”, toda a sua presença em palco foi pautada por um feeling claramente oldschool, de alguém que viu o Hip Hop crescer desde uma pequena contracultura até ao trendsetting movement que é hoje em dia.

Ace foi o artista seguinte a subir ao palco. Foi extraordinariamente bem recebido pelo público - algo que nem sempre aconteceu no passado, o que só mostra que em certos aspectos o movimento se tornou menos sectário com o passar to tempo - e a sua prestação foi das mais intensas da noite. O público presente teria rejubilado com uma escolha mais ousada, como por exemplo a “Dedicatória” do “Sem Cerimónias” - que seria, mais para mais, adequada à ocasião - mas a “Todos Gordos” serviu o propósito na mesma e é um clássico indiscutível. Conforme requeria a organização do evento, fez ainda um acapela caracterizado por forte crítica social, com a inteligência e acutilância que sempre caracterizaram este tipo de intervenções por parte do Ace e, para terminar, leu um poema em jeito de spoken word tão cheio de sentimento e profundidade que teria sido impossível ficar indiferente.

Dengaz e Sagas substituíram Ace no palco, mais uma vez fazendo o contraponto entre nova e velha escola, como Bambino e Blasph haviam feito no início da noite.

O artista seguinte, Mundo, também ele oriundo de terras nortenhas, optou por iniciar a sua intervenção com o acapela, por sinal bastante pessoal e notoriamente sentido. A sua actuação fechou-se com “Lirico Extermínio”, da mixtape “Pioneiros”, com o DJ Nel’Assassin.

De volta a Lisboa, Xeg foi o artista seguinte a pisar o palco. Ainda que não pertencendo ao grupo de participantes no projecto RAPÚBLICA, a verdade é que Xeg é uma das referências dessa geração. E para a representar, escolheu a melhor música que podia ter escolhido, a “Quando Escrevo”, do seu primeiro álbum, “Ritmo e Poesia”. Que melhor forma poderia haver de comunicar o que significou para aquela geração começar a escrever, na sua própria língua, desbravando caminhos que nunca antes haviam sido trilhados em terras lusas? Ambos os acapelas foram, ao bom estilo de Xeg, uma mistura de punchline, egotrip e puro avacalho. E para quem diz que Xeg dantes é que era bom, pôde disfrutar umas quantas barras dedicadas ao que Xeg pensa sobre o assunto. Ainda houve tempo para mais uma música antes de se dar por concluída a sua actuação.

Todas as actuações foram acompanhadas por DJ Nel’ Assassin que, ademais, ficou responsável por fechar a noite, com a companhia de DJ Cruzfader.

Como balanço geral, pode-se dizer que todas as actuações foram boas e interessantes, embora talvez se estivesse à espera de revisitar mais clássicos do que aqueles que se apresentaram. Entre 2000 e 2004 o Hip Hop Tuga testemunhou uma evolução meteórica que marcou mais do que uma geração e já se começa a sentir algum espaço (ou mesmo necessidade) para revisitar as raízes e celebrar a essência. Por outro lado, o ambiente que se viveu serviu claramente para relembrar que temos todos uma cultura em comum, composta por quatro vertentes e que, como diz o Xeg, somos todos “Filhos de Bambaataa”.

Por Joana Nicolau para H2T

NOTA: A dica "vocês são filhos da puta, nós filhos do Bambaataa" é do Valete, mas como quem actuou foi o Xeg, escrevi "como diz o Xeg".
NOTA 2: Foi espectacular ver o D-Mars a gozar com a ANH! Word! Roots, stand up!

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