Fisko
EP Meu Amor, a História
Edição de Autor (Maio 2011)
Longe vão os tempos em que a produção tinha como objectivo único servir de base instrumental às rimas de um mc. Hoje em dia temos muito por onde escolher se quisermos ouvir a maestria de um produtor a solo e apreciar a sua capacidade de compor uma história sem a voz do MC para debitar a narrativa.
Foi este o objectivo de Fisko, neste EP “Meu Amor, a História”. Contar uma história recorrendo apenas à força dos instrumentais e com o apoio pontual de alguns samples de frases ou palavras.
Comecemos pelos aspectos positivos. É inegável que Fisko sabe produzir e bem. Todos os instrumentais são agradáveis de ouvir, na sua suavidade característica que marca todo o álbum e que injecta neste EP uma forte homogeneidade em termos de sonoridade.
No entanto, uma audição cuidada este “Meu Amor, a História”, deixa antever bastantes aspectos a melhorar para o futuro.
A mesma harmonia sonora que dá a este trabalho um sentido de coesão, não deixa também de contradizer um pouco o próprio conceito do álbum. Afinal, o amor é uma aventura feita de altos e baixos, cheia do inesperado e do surpreendente. E esse factor de ruptura que o amor tantas vezes representa nas nossas vidas não se reflectiu a nível de ambiência, a nível de sonoridade, que, ao invés, se limita a uma linha de orientação relativamente uniforme.
Outro aspecto que carece de trabalho aprofundado é a colocação dos samples vocais. Ao longo de todas as faixas repete-se a sensação de que os samples foram simplesmente colocados em cima da base instrumental, sem a devida integração no resto do beat. Tanto assim é que, este factor combinado com a linearidade sonora já referida, leva a que tenhamos a sensação que os samples vocais de uma música possam ser colocados noutra sem que se note a diferença.
Mais, em algumas músicas, como “Quando chove” ou a segunda metade de “Loucura”, os samples estão tão desenquadrados que até se fica com pena de que tenham sido incluídos - sente-se que o instrumental dizia mais se brilhasse sozinho.
Globalmente, este trabalho padece ainda de outro problema bastante comum, que é o síndrome do beat para rimar, ou seja, enquanto estamos a ouvir, sentimos a falta de um mc para atenuar o facto de soar tão repetitivo. Falta profundidade e variação ao longo do som para o fazer valer por si próprio.
Como exemplo desta variação, sem perda de coesão do som, e também exemplo de boa integração de samples vocais, deixo aqui link para
Blockhead - The Art of Walking ou, numa sonoridade mais calma,
Blockhead - The Strain. Ou exemplo de como construir um ambiente na música que fala por si e o sample vocal apenas dá um empurrãozinho,
Blu - Silent.
Em jeito de conclusão, pode-se dizer que Fisko tem tudo o que precisa para singrar como produtor, mas por agora, não dispensa a colaboração de um mc para compor os seus instrumentais.