Aug 28, 2006 22:15
Desabafo e mais qualquer coisa
Vi-me e desejei-me para escrever a crítica a DJ Shadow - The Outsider. Por duas ordens de razões:
1 - Não sou conhecedora do seu trabalho anterior, excepto pelo "Endtroducing"
2 - O álbum é extremamente heterogénio
Passei então grande parte das minhas férias a ouvir "Private Press", "Brainfreeze", de novo "Endtroducing" e "The Outsider". Como detesto escrever sobre um álbum sem o conhecer pelo menos ao ponto de conhecer cada música pelos primeiros 2 segundos da faixa, pode-se dizer que ouvi com bastante atenção e bastantes vezes "The Outsider" antes de escrever alguma coisa sobre ele.
Quando finalmente acabei a crítica, apercebi-me que se calhar não conhecer o trabalho anterior de DJ Shadow talvez fosse uma dádiva e não uma desvantagem. Na situação em que estou, pude fazer uma crítica imparcial, bastante objectiva - tanto quanto uma crítica musical consegue ser -, fazer a ponte para os seus álbums anteriores.
Porque, conhecendo-me como me conheço, se eu fosse uma anterior fã de Shadow, tenho quase a certeza que este era daqueles álbuns que me recusaria a criticar.
Fiz uma pesquisa no google para críticas a "The Outsider", depois de findado e concluído o meu artigo, e as minhas suspeitas confirmaram-se. A audiência de Shadow que apreciava mais o lado Trip-Hop entrou em colisão frontal com todo aquele punk-rock e hyphy, enquanto o seu público Hiphop se divide entre os que não conseguem sentir o Hyphy e os que detestam completamente aquelas 3 ou 4 faixas que soam a Coldplay e a slow-mellow stuff.
Se eu fosse uma anterior fã de Shadow, isso queria dizer que era fã de um tipo de trabalho completamente diferente do que Shadow fez em "the Outsider" e tenho sérias dúvidas que conseguisse apreciar o álbum sem a influência do seu passado musical a paiarar como uma nuvem negra.
My guess? Do seu público anterior, Shadow vai conservar pouco. Há demasiadas pessoas que consideram o Hyphy demasiado plástico para ser música audível, o Punk-Rock uma intrusão inexplicável, o Hip Hop pouco interessante e pouco puro, o pouco Trip Hop presente demasiado deslavado - enfim, acho que se pode afirmar que aquilo a que chamei justamente "heterogeneidade" muitos vão chamar "incoerência".
Tendo feito, pela mesma altura, a crítica a Cut Chemist "The audience is listening" (outra, mais completa do que a que fiz aqui no blog há uns tempos) posso dizer que a "misturada" que se verifica nestes dois álbuns nada tem a ver uma com a outra. Enquanto Chemist conseguiu uma mistura que no global soa bem, Shadow exige um estado de espírito diferente a cada faixa. Enquanto Chemist atingirá apenas um público, Shadow parece querer atingir muitos - atingirá muitos, quer queira quer não - e tenho sérias dúvidas que qualquer deles fique minimamente satisfeito.
A nível pessoal, fiquei espantada. Depois do conserto de Shadow no Lux - que me surpreendeu tanto a mim, que só conhecia "Endtroducing", como ao seu mais fiel público - ficou-me uma única pergunta na cabeça: Tudo bem, este Hyphy, que me parece horrivelmente próximo do Crunk, parece funcionar bem ao vivo, mas e em cd? Em cd não há a vibração das colunas, não há quatro mcs aos saltos no palco a puxar pelo público, não há uma multidão à nossa volta a abanar a cabeça e a pulsar com cada batida e cada rima.
Sim, recebi a resposta à minha pergunta e não foi aquela de que estava à espera. Tal como me tinha parecido no concerto do Lux, o hyphy não é assim tão copypaste do crunk como isso. E, para minha surpresa, foi exactamente do hyphy que eu mais gostei neste último cd de Shadow. "3 Freaks", após várias audições do álbum, foi a faixa que mais vezes me dava vontade de ouvir, assim como "Keep Em Close" e "Seein Thangs" (menos que a "3 Freaks"). E realmente resulta tão bem em cd como em concerto, não há negação para aquele início de música (falo da 3 Freaks, obviamente) e com aquele sotaque, as letras tornam-se tão 2º plano que nem sequer lhes ligamos.
Fiquei com mais curiosidade para a tal mixtape de Hyphy a vir brevemente do que para o próximo álbum de Shadow...
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