Preciso de ferias
Exmo. Sr. ou Sr.ª:
Venho por este meio manifestar o meu desagrado pela minha estadia neste local de trabalho, estando eu tão próximo das ferias.
Como agravante, denuncio ainda o facto de, não só a minha presença aqui ser obrigatória, como ainda é esperado que eu trabalhe!
Uma situação inconcebível no séc. XXI, mesmo nos países do terceiro mundo.
No meio de tudo isto, as organizações de protecção dos direitos humanos ficam impávidas e serenas a beber caipirinhas na praia, enquanto os direitos humanos estão a ser violados mais gravemente que nunca.
Todos estes factores vêm agravar o meu estado clínico mental, sendo que já apresento sintomas que os mais conceituados psicólogos não hesitariam em tomar como pretexto para me internar por tempo indefinido.
Alguns desses sintomas passam por gargalhadas psicóticas, num tom esganiçado, que de forma alguma manifestam a minha felicidade.
O facto de ter vindo trabalhar nu e os outros (não eu) acharem estranho também poderá ser um pequeno sinal de que as coisas não se encontram da melhor forma. Acrescento ainda que hoje, quando tentei atravessar a auto-estrada nu, como faço todos os dias, isso poderá ter provocado acidentes mortais em ambos os sentidos. Ouvi dizer na rádio que o acidente se estendeu da A1 à A23. E o pior disto é que eu nem sequer ouvi rádio.
Também não percebo bem o sentido de ter um trabalho que consiste em ir para o pé dos outros colegas de trabalho e dizer repetidamente em voz alta frases como “vais cair, vais cair, vais cair! Vais tropeçar, vais tropeçar, vais tropeçar! Vais-te desequilibrar, vais-te desequilibrar! Vais-te aleijar, vais-te aleijar, vais-te aleijar!”. É nesta fase que o sintoma do riso esganiçado se manifesta mais. Há que admitir, que tenho um trabalho em sintonia comigo próprio, pois todos os dias a toda a hora e minuto Deus fala comigo e repete essas mesmas frases. Isto torna o meu trabalho mais fácil pois não tenho dificuldade em decorar as frases. De qualquer forma, acho que preciso de férias.
Sem mais assunto