Quando tinha seis ou sete anos tentava sempre acabar os trabalhos escolares depressa e bem, de maneira a sobrar algum tempo para (com a aprovação da professora) ler as revistas da Heidi que existiam na sala. Eu adorava as revistas, sobretudo das páginas centrais, onde figuravam a Heidi e o Pedro de cuecas e imensas roupas de papel. Durante meses vesti os bonecos mentalmente até que um dia tive o privilégio de poder destacar as folhas de papel e recortar, com muito jeitinho, a Heidi, o Pedro e as respectivas roupas. Sempre que tinha um tempo livre na escola lá ia eu brincar com a Heidi.
Durante as férias grandes a professora deixou-me levar para casa o saco de plástico que servia de guarda-roupa e brinquei tanto que me fartei. E acabam aqui as minhas recordações da Heidi de papel...
Há dias encontrei num
blog a capa de uma dessas revistas. Não resisti e pedi ao autor que me enviasse uma imagem das folhas centrais, caso a revista ainda as tivesse.
Ontem recebi um e-mail com isto.
(Mais uma vez obrigada, Marco)
Encheram-se me os olhos de lágrimas. Olhar para estas imagens tão familiares, reconhecer-me nos detalhes das chinelas, das botas, dos folhos. Foi um reencontro comigo mesma. Voltar a ver estas coisas fez-me recuar e sentir coisas antigas. A memória é como as cerejas, vêm umas atrás das outras, e com estas figuras de papel que me fizeram sorrir e chorar veio a solidão que, mesmo rodeada de pessoas, me acompanha desde que tenho consciência de mim.