[Yu Yu Hakusho] Quebrando as Regras - Capítulo 13

Feb 22, 2016 02:10


Título: Quebrando as Regras
Autor(a): Madam Spooky
Fandom: Yu Yu Hakusho
Classificação: Livre
Personagens/Casais: Kurama/Botan
Gêneros: het, humor, romance, Universo Alternativo.
Resumo: Quando seu primo Touya decide fugir para Kyoto durante o semestre escolar, Botan acaba tomando o lugar dele no novo colégio. Mas espere... é um colégio exclusivo para garotos?
Nota: Então... é isso. Esse foi o último capítulo publicado, um longo e tenebroso inverno atrás. Se vai ter continuação? Hm... Coisas mais estranhas já aconteceram no mundo. Se Arquivo X teve continuação depois de quinze anos, quem sou eu para dizer que já faz tempo demais?



Capítulo 13

- Botan estava cansada. Passar noites em claro sempre foi um hábito para ela, mas era mais divertido quando estava lendo ou vendo sites inúteis ao invés de ficar deitada, ouvindo os roncos nada harmoniosos de dois marmanjos de dezesseis anos e tentando desesperadamente não imaginar a reação de Shuuichi quando soltasse de repente: "O que você achou da aula de álgebra hoje? Podíamos combinar de estudar mais tarde. A propósito, pare de me chamar de Touya, meu nome é Botan e eu sou uma garota".

- Você está com o aspecto de quem não dorme há uma semana - disse Kuwabara, aparecendo do nada e sobressaltando a garota. - O que está fazendo ai parada no corredor, quer se atrasar para a aula? Lembre-se que hoje teremos - o garoto olhou para cima e começou a contar nos dedos - perguntas dissertativas, trabalho em equipe, aquela redação no último horário... Eu nem estou contanto com o ensaio da banda à tarde.

A banda! Havia ainda mais essa. Ela tinha esquecido completamente aquela história de festival com os últimos acontecimentos. Olhou para o colega de dormitório com um sorriso envergonhado. Por mais que soubesse a verdade sobre ela, Kuwabara estava longe de entender que ela não tocava guitarra coisa nenhuma e tinha que dar um jeito de contar a ele antes que a obrigassem a subir em um palco na frente do colégio inteiro. Olhou em volta, não havia ninguém a vista. Talvez aquele fosse o momento ideal. Só precisava torcer para que o garoto não tivesse uma crise de nervos, desmaiasse nem nada assim.

- Kuwabara, há uma coisa que você precisa saber...

- Sabe - ele a interrompeu. - Ontem quando eu consegui que me liberassem da enfermaria, já era muito tarde e você estava dormindo. Eu me esqueci de comentar sobre a sua tia Kokou. Ela é estranha, não?

- Estranha?

- Eu nunca vou esquecer o que aconteceu: - Kuwabara riu. - Eu ali no meio do corredor, tentando impedir que aquela mulher, que mais parecia ter saído de uma produção de Takarazuka, entrasse no quarto e descobrisse tudo, quando aparece Shuuichi Minamino com sua costumeira preocupação com relação ao melhor amigo que, a propósito, não existe, porque é você. Quando o vê, sabe o que a sua tia faz? Uma mãe normal teria cumprimentado o amigo do filho e insistido para entrar no quarto dele, certo? Ela pensava que o tal Touya estava doente... Mas não, ela estava ocupada demais dando em cima do recém-chegado para se lembrar disso. O melhor foi o olhar de Genkai. Acho que ela não sabia se a denunciava por pedofilia ou saia pelas salas, procurando pelo vórtice que a trouxe a essa dimensão paralela... Botan, você está bem?

A garota acenou fracamente enquanto se apoiava mais firmemente contra a parede. Tia Kokou tinha dado em cima de Shuuichi? O que ele pensaria dela? Que o melhor amigo dele era filho de uma pervertida? Cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça. Aquilo não podia estar acontecendo, não com ela. Pelo menos o fato adicionava mais um bom motivo pelo qual ela deveria contar toda a verdade ao amigo o mais rápido possível: deixaria de ser o filho da louca de saltos que deu em cima dele na frente da diretora para se tornar a sobrinha da mesma. Isso tinha que ser um pouco melhor.

- O que o Shuuichi disse sobre isso? - perguntou, sem saber se queria saber a resposta.

- Nada. O que queria que ele fizesse, fugisse com ela? - Kuwabara começou a rir, mas parou ao perceber que Botan não estava achando nada engraçado. Ela, na verdade, parecia nervosa, como se estivesse se preparando para fazer alguma coisa que não queria. - Você está bem mesmo?

- Não é nada, só não dormi muito bem ontem à noite.

- Aposto que ficou pensando na cara que o Minamino vai fazer quando descobrir o seu segredo, não tenho razão?

- Na verdade... - Botan suspirou. - Eu estava pensando na cara que ele vai fazer quando eu contar o meu segredo.

Kuwabara estacou como se tivesse recebido uma tapa, e ficou encarando-a de testa franzida, tentando se convencer de que tinha entendido direito.

- Você disse "eu contar o meu segredo"?

- Foi o que eu disse.

- Yusuke sabe que está pensando nisso?

Botan cruzou os braços e deixou escapar um grunhido de insatisfação.

- Em primeiro lugar, eu não preciso contar ao Yusuke todos os detalhes da minha vida. Em segundo, eu não estou pensando em contar ao Shuuichi, eu estou decidida a fazer isso. - Ela estremeceu. - Só de imaginar a possibilidade de ele ficar sabendo por Hiei me faz sentir doente. Sem falar que... - lembrou-se novamente da banda. Era agora ou nunca. - Kuwabara, você lembra quando Yusuke começou a se gabar das surpreendentes habilidades de Touya como guitarrista?

- Claro - o garoto respondeu animadamente. - É uma sorte ter alguém que toque tão bem na nossa banda.

- Hm... Como eu falo isso de uma maneira que você entenda...? Kuwabara...

- Botan? - o sorriso dele enfraqueceu um pouco.

Ela repetiu, dessa vez lentamente:

- Lembra quando Yusuke falou das surpreendentes habilidades de Touya como guitarrista?

- Das suas surpreendentes habilidades como guitarrista - Kuwabara insistiu, dessa vez sem nenhuma sombra do sorriso de antes.

- Isso não está funcionando - Botan abaixou a cabeça por um momento e quando a levantou novamente, tinha uma expressão decidida. - Eu vou ser o mais direta possível. Kuwabara, eu não toco guitarra. Touya toca guitarra. Touya! Meu primo. Aquele por quem eu estou me passando. A única coisa que eu já toquei durante a minha vida foi um apito na peça sobre trânsito do pré-escolar. Você terá que dar um jeito nessa história de banda e... Kuwabara? O que é que você tem...?

* * *

Yusuke acordou de repente, dando um salto da carteira ao ouvir o grito vindo do corredor. Olhou em volta, os alunos estavam todos se levantando e indo até a porta, aproveitando-se da ausência do professor para ver o que estava acontecendo.

- Você não vem? - perguntou Shuuichi, passando por ali rapidamente e parecendo preocupado. Antes de chegar à porta, virou-se de volta e acrescentou: - Parecia a voz do Kuwabara.

- Kuwabara?

Yusuke levantou-se e saiu correndo, quase derrubando o ruivo e mais meia dúzia de alunos aglomerados na porta ao passar. Como suspeitava, Botan tinha sido a autora do grito. Quase não conteve uma gargalhada diante da cena: Kuwabara sentado no chão, escorado a parede com a expressão chocada de quem tinha acabado de ser abduzido por alienígenas ou visto o Godzilla passeando pelo centro de Tokyo, e Botan ajoelhada na frente dele, passando a mão diante de seus olhos, tentando fazê-lo esboçar alguma reação. Ao perceber os estudantes observando-os, Botan levantou-se e sorriu sem graça.

- Acho que ele ficou um pouco chocado quando falei sobre todas as atividades reservadas para hoje...

Dois garotos apressaram-se para ajudar Kuwabara e Botan afastou-se para junto de Yusuke.

- Eu não posso acreditar! - falou em voz baixa. - Eu tinha realmente pensado na possibilidade dele desmaiar quando eu falasse que não sei tocar guitarra, mas foi só porque a imagem mental disso era engraçada.

- Veja pelo lado bom, ao menos ele deslizou pela parede ao invés de cair em cima de você.

Botan ignorou isso e continuou observando, com ar preocupado, um Kuwabara meio desmaiado ser levado para a enfermaria.

- O que vamos fazer sobre o ensaio se ele não acordar?

- Esqueça o ensaio! - disse Yusuke. - O que vamos fazer se ele delirar na enfermaria e falar sobre você? Acho melhor eu ir junto e me certificar que ele fique de boca fechada.

O garoto fez menção de correr, mas Botan o segurou pelo braço.

- Você está preocupada com a possibilidade de eu ser descoberta ou procurando desculpa para matar aula?

- Você nunca ouviu falar em unir o útil ao agradável?

Ele sorriu zombeteiramente e desvencilhou-se do aperto da prima, correndo na direção em que os estudantes levando seu colega de dormitório tinham ido.

- Yusuke é mesmo impossível!

Botan cruzou os braços e ficou olhando a aglomeração de alunos aos poucos se desfazer, à medida que os curiosos voltavam para a sala. Só esperava que o primo tivesse a presença de espírito de acalmar Kuwabara quando ele voltasse a si e assimilasse o fato de que sua banda perfeita tinha perdido a suposta estrela. Depois ela só teria que se preocupar com o ataque que provavelmente Itsuke daria quando soubesse que não precisariam de sua famosa calça de couro vermelha e, o mais difícil, contar a verdade sobre ela e Touya a Shuuichi.

- Touya?

Falando no diabo... A garota teve que fazer um grande esforço para não gritar quando ouviu a voz do amigo soar próxima a seu ouvido. Quando ele tinha se aproximado tanto? Ela tinha que ficar mais atenta ao ambiente em volta. Ter Shuuichi Minamino invadindo seu espaço pessoal enquanto ela pensava no seu grande segredo não era muito saudável para os seus nervos.

- Shuuichi. Há quanto tempo, não?

O ruivo sorriu.

- Sim, desde ontem à noite.

Botan sorriu de volta, chutando-se mentalmente por não conseguir pensar em nada menos estúpido para dizer. Respirou fundo, pensando na situação. Não adiantava tentar evitar o ruivo como tinha feito quando acontecera aquele pequeno acidente no corredor. Se ia contar a ele, era melhor começar a ir se acostumando com a ideia de que estariam frente a frente quando isso acontecesse. Que os olhos verdes que ela achava tão incríveis estariam fixos nela e que o olhar que ele lhe lançaria quando ela terminasse não seria exatamente a do melhor amigo de Touya. Ela provavelmente conheceria o lado Kurama dele e não tinha certeza se iria gostar.

- Você não devia ter vindo para a aula hoje, Touya, ainda parece doente.

- Pareço?

- Bom, você está um pouco pálido.

Shuuichi aproximou o rosto do de Botan, de maneira a se certificar do que estava dizendo, mas a garota pulou para trás e abaixou a cabeça na mesma hora, virando-se para o outro lado. A última coisa que precisava era do ruivo dando uma boa olhada em seus traços e desconfiando de alguma coisa antes que ela decidisse qual a melhor maneira de abordar o assunto com ele. Esperou que ele perguntasse o que estava acontecendo, mas antes que isso pudesse acontecer, a voz de Hiei surgiu do outro lado, os interrompendo.

- Ei, Kurama, não vá esquecer sobre hoje à tarde, no lugar daquele ensaio idiota - Botan se virou bem a tempo de ver o sorriso sarcástico no rosto do baixinho. - Depois de hoje não se sabe quando vamos ter outra oportunidade de aproveitar algumas horas na piscina.

Shuuichi sorriu, assentindo, e Botan achou que estava começando a se sentir doente de verdade. Aquela história de piscina de novo? E onde estava Yusuke quando precisava de alguém para apoiá-la na decisão de não se aproximar da água?

- Touya - Hiei sempre pronunciava o nome com certo tom de exagero - eu soube que você não estava se sentindo bem ontem, nem mesmo pode ver a sua mãe. Que peninha, não? Mas não se preocupe, natação faz muito bem para a saúde. Se você não tiver roupa apropriada, eu tenho certeza que o Shuuichi aqui poderá te emprestar.

- Hiei - o ruivo o encarou com desconfiança. - Eu não sei por que não estou gostando do seu tom. Você tem algum problema com o Touya?

- Quem, eu? Com o Touya? O outro garoto aqui presente?

O baixinho saiu rindo como se tivesse acabado de ouvir a piada do século, deixando Shuuichi confuso e Botan se perguntando onde estava Enma Daioh quando precisava que um raio caísse do céu bem na cabeça dela.

- Hiei está ficando cada vez mais estranho, você não acha?

Botan apenas deu de ombros e caminhou de volta para a sala com uma postura derrotada. Shuuichi a acompanhou com os olhos, ainda preocupado sobre o estado de saúde do amigo. Ele lembrou-se do dia anterior, de ter tido um vislumbre de reconhecimento ao olhar para o rosto de Touya parcialmente oculto pela escuridão. Uma imagem do sonho que tivera aquela noite o assaltou em seguida: ele estava parado no corredor, segurando os ombros da garota misteriosa e forçando os olhos na direção dos contornos de seu rosto. De repente, sentiu que suas mãos estavam suspensas no ar e que ela afastava-se dele. O corredor começou a ficar mais claro e a última coisa que viu antes de acordar, foi o boné do Arquivo X de Touya caindo para trás enquanto ela corria para longe dele.

* * *

- Ela não sabe tocar guitarra...

- Pois é, não sabe.

- Ela não sabe tocar guitarra...

- Nem baixo, nem contrabaixo, nem piano, nem bateria, nem apito, nem mesmo bater com uma colher em um copo. A garota não tem a mínima noção de ritmo.

- Ela não sabe tocar guitarra...

Yusuke suspirou e deu uma tapa na cabeça de Kuwabara, fazendo com que o queixo dele batesse com força no tórax antes de voltar ao lugar. O garoto saiu da letargia na qual se encontrava e avançou contra o colega de quarto, segurando-se com força pelo pescoço e puxando-o para perto. O encarou furiosamente:

- Por que fez isso, idiota?

- Por que é isso que as pessoas fazem com as vitrolas antigas quando estão tocando um disco arranhado - Yusuke respondeu tranquilamente.

- Ela não sabe tocar guitarra!

- Ah, por favor, não vamos começar outra vez - ele girou os olhos. - E daí que ela não sabe tocar guitarra? Eu também não sei e o mundo continua girando, os pássaros cantando e o sol despontando no horizonte todas as manhãs. Afinal, qual o seu problema com isso?

- Qual o meu problema com isso? - Kuwabara empurrou Yusuke para trás e segurou a cabeça, encarando a parede em frente com os olhos muito abertos. - Você se esqueceu da banda? Do festival? Touya era o nosso astro!

O primo de Botan girou os olhos novamente e se sentou na primeira cadeira que encontrou por perto, pondo-se a observar o colega de dormitório que agora se erguia na cama para uma posição sentada.

- É só cancelarmos tudo - disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Cancelarmos tudo? - Kuwabara o encarou ainda com os olhos abertos e as mãos despenteando os cabelos. Yusuke retesou-se na cadeira, imaginando que teria mãos apertando-se em volta de seu pescoço a qualquer momento; quando nada aconteceu, deu um sorriso amarelo e encolheu-se onde estava, esperando o outro continuar: - Vamos esquecer que você me contou que a Botan não sabe tocar guitarra. No dia da apresentação ela vai estar sabendo nem que você tenha que ir buscar o verdadeiro Touya em Osaka.

Ele balançou a cabeça, parecendo estar dizendo a si mesmo que aquela era realmente uma boa ideia.

- Kyoto - corrigiu Yusuke. - É lá que o verdadeiro Touya está. E você não pode estar falando sério sobre ignorar isso. Se colocar a Botan em um palco com uma guitarra, o máximo que vai conseguir é deixar a platéia surda e em choque.

- Então dê aulas de guitarra a ela, oras.

- E quem foi que disse a você que eu sei tocar guitarra?

- Vocês são família!

- Habilidades musicais não são passadas nos genes!

- Então compre uma dessas revistas com passo a passo, procure aulas na Internet... Por acaso você não pensa?

- E por acaso você pensa alguma coisa que faça sentido?

A essa altura Yusuke tinha se levantado da cadeira e ofegava, encarando Kuwabara de perto. Se olhares pudessem matar, os dois já estariam caídos, fulminados, no chão. O primo de Botan foi o primeiro a voltar a si. Não podia continuar brigando com o colega de quarto daquele jeito, não quando ele era o único com alguma chance de desfazer aquela história de banda antes que fosse tarde demais, e sem levantar suspeitas do verdadeiro motivo. De súbito, uma imagem de Itsuke tendo um ataque e dando gritinhos surgiu em sua mente. Se Kuwabara tinha desmaiado com a notícia, não queria nem pensar no que o coordenador faria.

- Não temos tempo para ficar brigando - disse, respirando fundo. - Você tem que parar com essa frescura toda e dar um jeito nessa história de banda sem envolver a Botan. - Kuwabara abriu a boca para protestar, mas Yusuke acrescentou, antes que ele tivesse a chance: - A não ser que faça questão que a sua querida Yukina fique sabendo dos seus desmaios essa semana. É o segundo em dois dias, francamente. E por causa de uma bobagenzinha de nada.

- Segundo? - Kuwabara interrompeu, indignado. - Eu acho que não preciso lembrá-lo o motivo pelo qual eu desmaiei ontem. Se não fosse por mim, aquela musumeyaku de plataformas teria descoberto a Botan e sequestrado o Minamino. Esse colégio está em dívida comigo! A Botan está em dupla dívida comigo!

- Dupla dívida? Como assim dupla dívida? - Yusuke caminhou pelo quarto e parou na pequena janela ao lado da cama. Virou-se, observando a paisagem lá fora sem realmente prestar atenção. Sabia exatamente do que o colega de quarto estava falando, mas ainda não tinha certeza do que pensar daquilo. Maldita hora em que Kokou tinha comprado aquela guitarra para Touya. Se ela não tivesse feito isso ele não teria aprendido a tocar, não teria uma banda, não estaria em um estúpido festival em Kyoto e todos estariam vivendo suas vidas tranquilamente, com pássaros cantando e flores desabrochando todas as manhãs, como em um filme da Disney. Especialmente, ele estaria no máximo cumprindo suas saudosas detenções ao invés de servindo de babá para uma menina em um colégio masculino.

- Manter o segredo dela - respondeu Kuwabara - e preservar a integridade física de Shuuichi Minamino. - Olhou para o outro garoto desconfiadamente. - Não vai me dizer que ainda não percebeu que a Botan gosta daquele ruivo. Não é de se estranhar, você tem que admitir. Ele é educado, tem boa aparência, é o melhor aluno da classe - até mesmo melhor que o Kaitou - se dá bem com todo mundo, inclusive com o baixinho difícil do Hiei... Se não são melhores amigos, mas pelo menos ele tenta. Eu aposto que se isso aqui fosse um colégio misto, veríamos garotas amontoadas na porta da sala no horário dele sair.

- Você parece ter reparado em todas as qualidades do tal Minamino - Yusuke disse, irritado. - Por acaso não se esqueceu de dizer que ele é milionário e membro da família real?

- Família real? É de boy bands que as garotas gostam.

- Não me interessa.

- Você não gosta do Minamino por quê? Que eu saiba, ele nunca te fez nada.

- Ele dificulta as coisas para mim quando fica seduzindo a minha prima por ai.

- Mas ele não sabe que está fazendo isso.

Kuwabara ergueu-se mais na cama, esperando por uma resposta. Lembrou-se do que Botan disse quando iam juntos para a classe, sobre contar toda a verdade para Shuuichi. Pelo visto ela não dissera nada ao primo e seria a terceira guerra mundial quando ele ficasse sabendo.

- Não me interessa se ele sabe ou não; me interessa que está no meu caminho e eu não vou deixá-lo dar uma de Don Juan para cima da Botan e transformar minha prima impossível em uma dessas mocinhas de comédias romântica, tipo Meg Ryan ou aquela outra que largou a medicina para perseguir homens inocentes no cinema.

- Não acho que elas façam exclusivamente comédias românticas.

- Mas é isso que eu sou obrigado a assistir quando estou com a Botan!

Os dois ficaram em silêncio por um instante, então Kuwabara riu. Yusuke o encarou com seu costumeiro olhar furioso, um que ele usava muito em seu posto de bad boy nas ruas e que ultimamente vinha reservando especialmente para Hiei.

- Eu não acho que você vá sentir falta dos filmes românticos se a sua prima ficar mesmo com o Minamino. Eu acho é que você está com ciúmes! Gostou da brincadeira de irmão mais velho e agora está disposto a queimar o filme da garota. Que coisa feia, Yusuke...

- Kuwabara... - o primo de Botan pronunciou a palavra em um tom de voz baixo e perigoso. - Eu acho que você está querendo desmaiar uma terceira vez...

Ele começou a se aproximar, um sorriso cínico no rosto, os punhos cerrados ganhando altura gradativamente. Quando estava a dois passos da cama, porém, a porta se abriu e uma Genkai preocupada entrou na enfermaria. Ela ignorou completamente a presença de Yusuke e correu para perto de Kuwabara, empurrando o outro aluno de leve enquanto o examinava melhor.

- Está se sentindo bem, senhor Kuwabara?

- A senhora não faz idéia... - o garoto respondeu aliviado, um sorriso nervoso tremulando no canto da boca.

* * *

- Não, eu não sou capaz de fazer isso!

- Como se você tivesse muita escolha.

- Vocês são maus! Algum dia receberão o castigo pela crueldade a qual estão me submetendo agora.

- Olha só o Kuwabara falando difícil.

- Cala a boca e continua empurrando!

Yusuke ignorou o tom irritado da prima e continuou forçando as costas de Kuwabara na direção do auditório. Desde que voltou ao dormitório, depois de um exame médico demorado e um mais demorado ainda discurso de Genkai sobre como precisava cuidar melhor da saúde, o garoto tinha se abraçado aos travesseiros e se recusado a sair do quarto. A vida dele tinha acabado, era o que dizia no tom mais dramático possível. Se não ia haver banda, então ele ficaria trancado ali, imerso em sua própria desgraça até o semestre acabar.

Botan tinha girado os olhos a isso e, junto com o primo, o puxado da cama pelos braços e o obrigado a caminhar pelo corredor exatamente como estava fazendo agora. A única diferença é que ela tinha se cansado das lamentações com um explícito tom de a-culpa-é-toda-sua-por-não-ser-o-verdadeiro-Touya e deixado Yusuke sozinho com a tarefa de obrigá-lo a avançar enquanto caminhava na frente, imaginando qual seria a desculpa que o colega de quarto escolheria para acabar com aquela história de "astro" na qual ele a tinha metido.

- Eu já disse que não posso fazer isso - disse Kuwabara, fazendo-se de vítima. - Vocês sabem o que Itsuke vai fazer comigo se eu disser que ele não terá mais a oportunidade de fazer com que Shuuichi use aquela calça de couro vermelha? Os olhos do cara até brilham quando fala nisso. Se ele não morrer do coração, provavelmente vai acabar me matando e... Botan, não me olha desse jeito, não sou eu quem está usando seu namorado para promover aquelas roupas esquisitas.

- Ele não é meu namorado!

- Ele não é namorado dela!

Yusuke e Botan gritaram ao mesmo tempo.

Os três pararam de andar. A garota cruzou os braços e se apoiou na parede, emburrada. O que Kuwabara pensava que estava fazendo? Tentando tortura-la? Se a imagem de Itsuke perseguindo Shuuichi, com a calça de couro na mão, não fosse tão ridícula, ela já teria mostrado ao colega de quarto o que ele podia fazer com aquele tipo de comentário idiota.

- Será que vocês não conseguem esquecer o estúpido ruivo um instante que seja? - Yusuke lançou a Botan um olhar desconfiado. - Eu não sei o que anda acontecendo entre você e esse cara, garotinha, mas fique certa de que vou descobrir.

- Quem é que você está chamando de garotinha? - Botan aproximou-se, encarando Yusuke com um olhar afiado.

- Deve ser o Kuwabara. Quantas garotinhas você está vendo aqui?

- Afinal, qual o seu problema com a minha amizade com o Shuuichi?

- Nenhum, mas eu não acredito que quando você fica suspirando durante a noite seja porque estava pensando no seu amigo.

Botan afastou-se um passo, olhando, chocada, para um irritado Yusuke. No que raios ele estava pensando? A atitude do primo a confundia. Ele não gostava de Shuuichi por quê? Complexo de irmão mais velho? Afinal, eles sempre foram muito próximos. Medo de que todos descobrissem que ele a encobrira no colégio o tempo todo? Yusuke conseguia ser bastante egoísta quando estava disposto. Uma imagem da outra noite, dela beijando Shuuichi, lhe veio à mente. Se o primo descobrisse sobre isso... Ah, por que as coisas tinham que ficar cada vez mais complicadas? O que mais faltava acontecer?

Como se algum ser superior tivesse ouvido o último pensamento de Botan, a porta do auditório se abriu e um sorridente Hiei saiu, imediatamente andando na direção deles.

- Se não são os três patetas parados no meio do corredor.

- Tinha que aparecer o Dunga para completar o meu dia...

Ao contrário do que se esperava, Hiei sequer piscou ao ouvir o apelido. Apenas pareceu sorrir um pouco mais.

- Acabaram-se os apelidos do seu estoque, Urameshi? Se me lembro bem, esse você já disse antes.

- O que é que você quer? - Yusuke perguntou, girando os olhos. Ainda estava irritado com a mais recente discussão sobre Shuuichi Minamino e a última coisa que precisava era Hiei colocando mais lenha na fogueira.

- Ah, vocês sabem, o Itsuke cancelou o ensaio.

- Como assim cancelou? - perguntou Botan, olhando para Kuwabara, que praticamente estava deslizando pela parede de alívio.

- Vai dizer que esqueceu, Touya - Hiei riu alto. - Seu amigo Shuuichi teve tanto trabalho para reservar uma hora na piscina. Você não faria a desfeita de não aparecer, não é mesmo? - Olhou para os dois garotos que o encaravam com um ar assombrado e acrescentou: - Claro, vocês também estão convidados. Eu, pelo menos, não perderia isso por nada no mundo.

Ele saiu rindo na direção oposta ao auditório, deixando os três garotos parados, como um trio de estátuas, no meio do corredor.

Botan foi a primeira a reagir.

- Ele falou piscina? - perguntou.

- Ele falou piscina - disse Kuwabara. - O que você vai fazer?

- O que eu vou fazer? - a garota olhou na direção de Yusuke.

O primo riu debochadamente.

- Agora precisa de mim para saber o que fazer? Esqueça! Isso é o que você ganha andando por ai com aquele ruivo! - Ele deu meia volta e começou a andar na direção em que Hiei desapareceu. Antes de se afastar de todo, porém, ainda disse no mesmo tom debochado: - Não precisa se preocupar, priminha, eu também estarei presente para ver como você vai se virar na piscina. A gente se vê por lá com certeza.

- Desertor! - Botan gritou antes que ele saísse de vista. - E agora? - perguntou a Kuwabara. - Eu não posso ir à piscina por motivos óbvios!

- Você pode ir até lá e explicar ao Minamino que não está a fim de nadar.

- Acha que vai funcionar?

- Não me pergunte. Yusuke é o especialista em esconder garotas em colégios masculinos.

Ótimo! Por que ela não tinha continuado na cama o dia inteiro? Será que havia uma única coisa que pudesse fazer ali dentro sem que aparecesse um letreiro luminoso em sua testa escrito "Garota na área"? Precisava mesmo falar com Shuuichi o mais rápido possível e aquela seria a ocasião perfeita. Ele com certeza entenderia quando ela explicasse seus motivos. Ele era músico como Touya, não a condenaria por cobrir o primo enquanto ele iniciava sua estrondosa carreira internacional. Ela não tinha com que se preocupar, certo?

Certo?

Não estava nem perto de estar segura disso.

* * *

- Botan, se você não quer ir, invente uma desculpa, finja um desmaio, se esconda no armário da cozinha... Qualquer coisa assim, porque a esse passo nós não vamos chegar lá nem no início do próximo semestre.

Kuwabara parou um momento, esperando que a garota o acompanhasse. Já era a terceira vez que aquilo acontecia: começavam a andar no mesmo passo e, de repente, ela começava a avançar cada vez mais devagar até estar quase parando.

- Yusuke não estava no dormitório - disse mais a si mesma que para o colega de quarto. - Será que realmente ele não vai fazer nada para me ajudar?

- Não fique tão preocupada - Kuwabara riu. - Yusuke só está com ciúme.

- Ciúme?

- Ele era o único cara com quem você contava até o Minamino aparecer. Além disso, Shuuichi tem todas aquelas qualidades de genro-que-a-sua-mãe-pediu-a-deus e ele não tem nenhum motivo para implicar com ele. É só por isso que está tão zangado.

- Você acha mesmo? Yusuke pode ser um idiota, mas eu não vou sobreviver aqui dentro sem ele.

- Absoluta. Preocupe-se agora com o que você vai fazer quando entrar lá - Kuwabara apontou uma porta de madeira. - Porque atrás dessa porta fica a piscina do colégio.

- Ah, não... - Botan agarrou-se ao braço de Kuwabara. - Sabe o que você disse sobre fingir um desmaio ou se esconder no armário da cozinha?

- Botan, você chegou até aqui...

- Mas eu não estou pronta para dizer a verdade para ele...

- E quando você vai estar pronta?

- Depois da formatura...

- Botan...

-... na Universidade?

- Botan!

- Ele vai me odiar.

- Você gosta mesmo dele...

- Não! Quer dizer, sim... Mas não como você está pensando.

- Claro... - Kuwabara sorriu de lado. - Você vai entrar ai ou eu vou ter que arrasta-la?

Botan cruzou os braços.

- Você não ousaria.

Dois minutos depois, uma Botan muito vermelha - mais pela iminência do encontro com Shuuichi que pela raiva - e um Kuwabara muito sorridente a empurrando do mesmo jeito como Yusuke tinha feito com ele menos de meia hora antes, passavam pela porta de madeira. A garota levantou lentamente a cabeça ao sentir uma corrente de ar atingir-lhe as mechas de cabelo que caiam do boné. O lugar era completamente diferente do que imaginava. A piscina, apesar de bom tamanho, não chegava a ser apropriada para prática de esporte. Havia cadeiras de praias cercando a água, dando ao todo uma aparência de área recreativa. O teto era coberto por um material transparente que ela não tinha certeza de como chamar. Teria perdido mais tempo analisando o ambiente em volta se seus olhos não tivessem esbarrado com um Shuuichi muito sorridente, usando apenas um calção de banho, caminhando direto na sua direção.

- Isso não está acontecendo...

- Boa sorte, Botan - Kuwabara sussurrou antes de se afastar. - Eu estarei torcendo por você.

- Kuwabara...

Tarde demais. O garoto já tinha corrido na direção onde um Yusuke sem camisa, espalhado em uma das cadeiras em volta da piscina, usando um par de óculos de sol tirados sabe-se lá de onde, ainda mais estando em um espaço onde mal havia sol. Tentava disfarçar muito mal o fato de estar olhando diretamente para Shuuichi e Botan.

- Touya, você finalmente chegou - disse o ruivo com um sorriso. - Eu mal posso esperar para ver os dotes de nadador dos quais você tanto se gabou no outro dia... - fez uma pausa antes de arquear a sobrancelha e perguntar: - Você está me ouvindo?

- Eu...

Ela estava ouvindo. Como não ouvir quando ele fazia um convite para sua sentença de morte? Sim, porque se alguém descobrisse que ela era uma garota, Ayame e Koenma ficariam sabendo e a trancariam em casa para o resto da vida, onde ela teria uma morte lenta e solitária não tendo nada melhor para fazer que ler os livros de contabilidade do cunhado e ver às novelas favoritas da irmã. Tudo bem que ela sabia as consequências, mas era impossível conseguir encarar Shuuichi quando ele estava a menos de um metro de distância com toda a glória de seu dorso desnudo, ali, torturando-a. Como então ela ia ter cabeça para pensar em uma maneira de confessar seu segredo sem chocá-lo muito? Tinha que ser brincadeira.

- Eu tenho uma coisa importante para dizer - ela conseguiu falar, respirando fundo.

Shuuichi continuou parado, olhando para ela com aquele sorriso despreocupado, completamente inconsciente que estava prestes a perder um amigo e ao mesmo tempo encontrar a garota misteriosa que procurara tanto. Como ele podia ter uma expressão tão inocente e um corpo tão... tão... tão...

- Touya!

- O que? - Botan olhou rapidamente para o rosto do ruivo, implorando mentalmente que ele não tivesse percebido os olhos dela passeando pelas partes despidas de seu corpo.

- O seu rosto está vermelho - ele balançou a cabeça. - Entendi o que você veio me dizer.

- En-Entendeu?

- Mas não precisa se envergonhar por causa disso, eu realmente entendo.

- Shuuichi... - do que ele estava falando? Ele não podia ter entendido realmente o que ela ia dizer, podia?

- Você estava realmente mal ontem, é natural que ainda se sinta doente. Por acaso tem febre?

Ele se aproximou ainda mais para tocar a testa dela e Botan se perguntou a que tipo de febre ele estaria se referindo. Imediatamente, balançou a cabeça e se afastou, antes que sua mente se enchesse com mais bobagens como aquela.

Respirou fundo, aproximando-se da piscina e olhando em volta. Kuwabara fingia conversar com Yusuke, mas estava todo tempo lançando caras engraçadas na direção dela. Por sua vez, o primo, apesar de parecer muito concentrado em um ponto qualquer além da água, pela veia pulsando na testa tinha acompanhado cada palavra que acabara de trocar com Shuuichi. Provavelmente também tinha percebido por onde os olhos dela tinham se perdido durante a conversa. Não tinha percebido antes, mas, do outro lado da água, uma mulher ruiva, folheando o que parecia uma revista, estava sentada despreocupadamente em uma das cadeiras. Pela aparência dela, devia ser alguém que a diretora mandara para supervisioná-los. Não havia sombra de Hiei, graças aos céus.

- Touya... - Shuuichi a segurou pelo ombro de repente, assustando-a. - Você está estranho. Acho melhor voltar para o quarto. Foi burrice da minha parte insistir para que você viesse hoje.

- Verdade? - Botan perguntou esperançosamente, mantendo ainda os olhos fixos na água. Era sua chance de escapar daquela conversa, ao menos por aquele dia. O único problema era que tinha vindo preparando-se mentalmente para isso. Se não dissesse agora, talvez não tivesse coragem de falar depois. Iria passar o resto do semestre remoendo o assunto e acabaria indo embora e separando-se dele, deixando-o com aquela lembrança falsa do bom amigo Touya. Não. Precisava falar e tinha que ser agora. - Shuuichi, o que eu queria te dizer...

Botan nunca pode completar a frase. Nesse instante, um grito de "sai da frente" cortou o ar e, quando se deu conta, estava sendo arremessada piscina adentro, com um Shuuichi tão confuso quando ela caindo a seu lado.

Continua...

fandom: yu yu hakusho

Previous post Next post
Up