{Yu Yu Hakusho] Quebrando as Regras - Capítulo 2

Jan 28, 2016 01:51


Título: Quebrando as Regras
Autor(a): Madam Spooky
Fandom: Yu Yu Hakusho
Classificação: Livre
Personagens/Casais: Kurama/Botan
Gêneros: het, humor, romance, Universo Alternativo.
Resumo: Quando seu primo Touya decide fugir para Kyoto durante o semestre escolar, Botan acaba tomando o lugar dele no novo colégio. Mas espere... é um colégio exclusivo para garotos?

Notas: Prometi revisar um capítulo por dia e vou cumprindo, na medida do possível. Esse foi um capítulo bem rápido de rever, porque não requeria nenhuma mudança significativa.

Lembrando que eu não sou nenhuma especialista em língua portuguesa. Tudo que estou fazendo é eliminar erros mais aparentes e corrigindo furos no enredo para facilitar uma possível continuação (ainda estou com medo de usar a palavra “provável”).



Capítulo 2

O carro começou a se mover. Minamino Shuuichi suspirou. Quando sua mãe viera lhe falar, duas semanas antes, que o mandaria para um colégio interno pelos próximos seis meses, ele não pensou sequer por um instante que ela estivesse falando sério.

Recusou-se a acreditar quando a ouvira falar por telefone com o diretor do lugar; riu quando ela o convidara para conhecer o colégio por dentro; nem mesmo quando a mãe começara a fazer suas malas ele tinha duvidado de que tudo não passava de uma grande brincadeira de mau gosto.

Afinal, por que ela o afastaria de casa? Sempre fora um bom filho e melhor aluno da classe; jamais lhe trouxera nenhuma dificuldade ou a contrariara em qualquer coisa que fosse.

Em quase qualquer coisa que fosse.

Ele não tinha ficado exatamente radiante quando ela o informara de que estava prestes a se casar novamente.

Senzo Hatanaka era um homem bastante distinto. Trabalhava como programador em uma companhia de softwares, era viúvo já havia cinco anos e tinha um filho de onze anos: um garoto sorridente e bastante tranquilo, que também se chamava Shuuichi. O partido perfeito - desde que a mulher que ele desejasse não fosse sua mãe.

- Está confortável, Shuuichi?

Hatanaka sorriu do banco do motorista. Shuuichi quis matá-lo. Por causa de seu novo padrasto estava recebendo aquele castigo. Se ele não tivesse ignorado seus olhares mortais e se casado com Shiori de qualquer maneira, não teria precisado se esforçar tanto para fazer da vida dele um inferno nos últimos meses. Desse modo, sua mãe jamais teria julgado que ele estava se tornando um adolescente rebelde e não o estaria mandando para um internato de garotos afastado da cidade.

- Bastante - respondeu com a voz neutra, se controlando para não dizer exatamente o que estava pensando.

- Eu tenho certeza de que vai gostar de lá - continuou Hatanaka em tom alegre. - Dizem que o colégio tem um ótimo nível e como você era o melhor aluno do seu antigo colégio, estou certo...

Ele continuou falando, mas Shuuichi não ouviu uma palavra. Estava absorto no fato de que agora que estava fora do caminho, Hatanaka e sua mãe finalmente teriam um casamento tranquilo. Paz e harmonia reinariam em casa. Provavelmente eles sequer se lembrariam dele a não ser nos fins de semana, quando poderia voltar. Ah, mas se estavam pensando que ia ficar quieto naquela prisão, estavam muito enganados. Ele telefonaria todos os dias se fosse preciso, lembrando que ainda estava vivo e saudável em algum lugar e que em breve estaria de volta. E quando esse dia chegasse...

- Nós chegamos! - Hatanaka anunciou, sorrindo para ele.

Shuuichi desviou o olhar, deixando escapar um resmungo baixo. Saiu do carro, pagando a mochila no banco de trás, e começou a afastar-se sem fazer nenhuma menção de esperar pelo homem que o trouxera.

Estava realmente difícil manter a compostura naquela situação. Seis meses preso em um colégio! No mínimo Hatanaka tinha insistido até que Shiori aceitasse o plano. Sim, ela devia estar tão arrasada quanto ele mesmo. Dentro de algumas semanas ela teria pensado melhor, perceberia que não podia viver sem ele e viria buscá-lo. Nada de momentos de tranquilidade familiar. Ele não deixaria que eles fossem felizes sem ele. Pelo menos a mãe dele não conseguiria ser de qualquer maneira, certo?

- Espere por mim, Shuuichi!

Grande. Hatanaka vinha correndo atrás dele, a mala de trabalho balançando pateticamente em uma mão enquanto a outra segurava um telefone celular. Ele parecia a imagem personificada da palavra nerd, com seu cabelo escuro e lambido, e seus óculos de grau quadrados. As roupas também não ajudavam. Quem no século vinte usava uma gravata vermelha sem paletó por cima de uma camisa verde alface? Ainda pior: por que ele tinha sempre que usar a bendita camisa para dentro da calça?

Se alguém o visse associado àquela figura, ele teria uns meses difíceis a frente.

Estava olhando para trás, para o homem no qual sua mãe vira alguma coisa por maior que fosse o mistério para ele, por isso não percebeu um garoto magro, carregando uma mala, descer de um ônibus e correr na mesma direção para a qual caminhava. Dois passos depois, se chocaram de frente, cada um caindo para um lado no chão.

* * *

Botan ainda não podia acreditar no que estava fazendo. Outros dez minutos e o ônibus estaria parando bem em frente ao colégio Meiouh, então não haveria mais volta.

Quem precisava de inimigos tendo um primo como Touya? Para piorar a situação, apenas quando já estava no ônibus foi que ela se permitiu pensar nas possíveis reações de Yusuke. Ele poderia muito bem ficar chocado como ela tinha imaginado a princípio, mas quem garantia que quando saísse do choque, ao invés de permanecer calado ele não daria um escândalo? Nesse caso com certeza Ayame ficaria sabendo e não só ela estaria de castigo pelo resto da vida como os Shinobi não chegariam a cantar nem na esquina da rodoviária, quanto mais no festival de Kyoto.

Ao perceber as construções de Tokyo ficando para trás, Botan soube que estava prestes a começar. Logo veria os muros do colégio, pediria parada e não haveria como dar para trás. O que Touya tinha recomendado mesmo antes da partida? Que se certificasse de não andar graciosamente demais, engrossar a voz o máximo que pudesse, evitar a todo custo encarar alguém de frente e, o que ele julgava mais importante: falar para todo mundo que tinha uma maravilhosa banda de rock que estaria no topo das paradas na próxima estação.

Ele era mesmo um idiota incorrigível com um ego do tamanho de Júpiter.

Botan girou os olhos. Então abriu a pequena mala que levava na mão, tirou um boné de dentro e cobriu a cabeça, deixando o rosto o mais camuflado possível. Esperou pacientemente os minutos se passarem até que os muros do colégio entraram em seu campo de visão e ela pediu parada.

Desceu com a cabeça baixa, imaginando que a qualquer momento alguém ia apontar para ela e gritar: “Ei, garota, o que pensa que está fazendo aqui?” Ninguém falou nada ou sequer olhou para ela. Continuou avançando, apenas concentrada nos próprios pés e no muro a sua frente, até que sentiu alguém se chocar contra seu ombro, fazendo-a perder o equilíbrio.

Botan não olhou para quem a tinha derrubado imediatamente. Sua maior preocupação foi segurar o boné antes que ele voasse para longe. Ainda não tinha certeza de como faria para assistir as aulas se a proibissem de usá-lo. Não tinha nenhuma dúvida de que sem ele, cedo ou tarde alguém acabaria percebendo que ela não era um garoto.

- Você se machucou?

No instante em que recolocou o boné, viu a sombra de alguém se aproximar e lhe estender a mão. Levantou os olhos lentamente, se deparando com um rapaz que devia ter mais ou menos a sua idade, ruivo, olhos verdes, uma expressão de quem estava querendo morrer.

- Eu estou... - Botan começou a dizer, então se lembrou da recomendação de Touya sobre a voz dela. - Eu estou ótimo - disse, tentando engrossar o tom o máximo que podia, mas só conseguindo soar rouca.

Olhou por um instante a mão do desconhecido, mas acabou optando por se levantar sozinha. Não era conveniente se aproximar muito. Talvez estivesse ficando paranoica, mas parecia que ele a estava estudando, desconfiado de alguma coisa.

- Shuuichi, você está ai!

Um homem apareceu correndo, segurando uma pasta. Parou e respirou ofegante, sorrindo para os dois.

- Você anda realmente rápido quando quer. Espere por mim de agora em diante, prometi a sua mãe que o levaria até o dormitório - ele sorriu amplamente, inconsciente de que o rosto do enteado agora mudara de o de alguém que estava passando a pior provação do mundo para o de quem queria infringir a alguém a pior provação do mundo. Virou-se para Botan: - E você, rapaz, quem é?

Por um instante, Botan não compreendeu que era com ela que ele estava falando. Rapaz. Teria que se acostumar a ser tratada assim. Pelo menos isso queria dizer que aquele homem não notara nada de estranho nela. Não que ele parecesse muito esperto...

- Ichijo... Touya Ichijo - respondeu.

- Ah, que maravilha. Apesar de vocês terem se esbarrado no primeiro dia, espero que possam se dar bem - o homem sorriu. Então se virou para o garoto ruivo que acompanhava. - Não é ótimo, Shuuichi? Você mal chegou e já tem um amigo.

Shuuichi apertou os olhos e cerrou os punhos e Botan podia jurar que ele estava contando até dez. Em seguida se virou na direção do portão do colégio e disse:

- Vamos acabar logo com isso.

Saiu andando apressadamente, exatamente como antes. Hatanaka sorriu e deu de ombros. Então saiu correndo atrás do filho de sua esposa, exatamente como fizera antes.

- Parece que ele não quer ser meu amigo - disse Botan.

Apanhou a mala no chão e saiu andando na mesma direção que eles tinham seguido. Agora que estava ali era melhor não pensar muito. O pior que podia acontecer era ser descoberta e passar o resto da vida trancada em casa, ouvindo sermões de Ayame. Pelo menos assim Touya não teria oportunidade de arrancar sua cabeça.

* * *

- Eu vou ficar com essa cama!

Kazuma Kuwabara se jogou sobre a colcha azul padronizada, junto com a mala que carregava. O móvel de madeira estalou sob o peso.

- Essa cama é mais próxima da janela, não gosto de dormir completamente no escuro e eles não deixam a gente manter as luzes acesas depois das onze horas.

Yusuke usou de toda sua força para não dar um soco no colega de quarto idiota no primeiro dia. Não que ele não fosse adorar, mas se sua mãe recebesse um telefonema quando as aulas nem sequer haviam começado, estaria com sérios problemas. Talvez da próxima vez ela realmente o mandasse para um reformatório como Botan sugerira.

Sem querer discutir mais, olhou para trás onde havia duas outras camas desocupadas. Escolheu a da esquerda por nenhum motivo em especial. Desde que tivesse um lugar para dormir, não interessava muito a posição que ficava.

Kuwabara resmungou qualquer coisa sobre ter esquecido sua lanterna enquanto abria a mala. Yusuke sorriu consigo mesmo. Então o bebê grande tinha medo do escuro... Talvez ele pudesse se divertir um pouco com isso. O sorriso desapareceu ao olhar a cama ao lado da sua. A qualquer momento outro aluno chagaria para ocupá-la. Esperava que ele também não fosse implicar por questões idiotas. Havia um número limitado de imbecis que conseguia aguentar sem partir para os socos.

- Você ronca? - Kuwabara perguntou, olhando seriamente para ele.

- Não é da sua conta - Yusuke respondeu. Ele roncava e, segundo os pobres infelizes que tiveram o azar de dividir um quarto com ele, não era pouco. Mas seria bem mais interessante se seus companheiros de dormitório só descobrissem isso no meio da noite.

- Eu só fiz uma pergunta...

- Uma pergunta que não é da sua conta.

Uma veia saltou na testa de Kuwabara. Pelo visto ele era esquentado. E, dando uma boa olhada em sua estrutura física, não deveria ser um páreo mole na hora de uma briga.

- Nós vamos dividir esse quanto durante o próximo meio ano - disse Kuwabara. - O mínimo que você pode fazer é ser civilizado comigo.

Yusuke rodou os olhos.

- Eu estava sendo muito civilizado não falando com você até ouvir a pergunta idiota do bebezinho que tem medo de escuro.

Péssima ideia. Kuwabara era bem mais pavio curto do que ele tinha imaginado a princípio. Em um instante estava segurando a gola de sua camisa, erguendo-o a um palmo do chão contra a parede. O rosto dele estava vermelho e os dentes cerrados.

- Repita se for homem!

- Eu sou homem, idiota, será que não está vendo?

Yusuke poderia muito bem empurrar Kuwabara e dar um soco bem no meio da cara furiosa dele, mas se o rapaz gritasse ou mesmo se aparecesse com o rosto machucado nas aulas do dia seguinte, provavelmente alguém desconfiaria dele e teria problemas. Se ao menos Atsuko não tivesse feito um relato completo sobre os motivos pelos quais o estava mandando passar aquela temporada em exílio para a direção do colégio...

- Com licença...

Uma voz soou da direção da porta. Kuwabara momentaneamente esqueceu o que estava fazendo e afrouxou o aperto, olhando curiosamente para a figura que acabava de entrar. Yusuke aproveitou para escapar e afastar-se dele o máximo possível. Mais uma daquela e cairia na tentação de brigar, e então...

- Eu acho que meu dormitório é aqui.

Kuwabara sorriu largamente.

- Bem vindo! Sou Kazuma Kuwabara, veterano nesse colégio, muito prazer.

Yusuke ergueu uma sobrancelha, impressionado com a capacidade do outro de mudar de humor rapidamente. Olhou para o segundo garoto que entrava com passos cuidadosos e depositava uma pequena mala em cima da cama. Ele conhecia aquela mala...

- A gente não se conhece não? - perguntou. Onde mesmo tinha visto aquela mala antes?

O desconhecido sorriu sem graça, e Yusuke teve certeza de que o conhecia. Franziu a testa, forçando pela memória, mas sem sucesso. Então deu uma boa olhada na maneira como ele se vestia. Calças rasgadas, casaco com slogan de time de baseball, boné. Tentou olhar nos olhos dele, mas o garoto parecia estar se esforçando para manter a cabeça abaixada.

- Eu acho que não... - ele respondeu nervosamente.

- Como você se chama? - perguntou Kuwabara, com o mesmo sorriso de antes, um que o fazia parecer alegre como uma criança.

- Meu nome?

Yusuke teve a impressão de que ele começava a suar.

- Sim! - disse Kuwabara. - Eu tenho certeza de que me falaram quem seriam meus colegas de dormitório esse semestre, mas eu não estou lembrado agora. - Olhou para Yusuke e a expressão mudou para uma de desagrado. - Você é Yusuke Urameshi.

- Parabéns gênio. Não faz cinco minutos que entrei no quarto e te disse isso.

Kuwabara cerrou um punho e apontou na direção dele. Já ia avançar quando de repente parou, retomando o sorriso de um segundo antes.

- Você é Touya Ichijo, não é?

O garoto ficou vermelho. Olhou rapidamente para Yusuke que carranqueou.

- Touya Ichijo?

- Isso mesmo! - continuou Kuwabara. - Eu lembro bem porque tem um cara na minha rua, sabem, lá em Kyoto, que se chama Touya. E eu também já briguei com um cara chamado Ichijo, então foi só associar...

- Você não é Touya Ichijo! - interrompeu Yusuke, falando com o garoto novo e ignorando Kuwabara.

Ele ficou vermelho outra vez, mas respondeu com a voz firme:

- Eu sou Touya Ichijo.

- Ah, não é não! - Disse Yusuke, se aproximando.

- Eu sou sim.

- Não é.

- Sou.

- Não é.

- Sou.

- Não é.

Yusuke estava quase tocando o ombro do garoto quando ele gritou, encarando-o de frente:

- Eu já disse que sou!

Contato visual. Cabelos claros. Olhos de um tom ametista bonito. Nariz ligeiramente empinado.

- Bo... - Yusuke começou a dizer, completamente chocado.

- Nós precisamos conversar!

Botan agarrou a mão de Yusuke e o puxou para o corredor, deixando um perplexo Kuwabara parado no meio do quarto, sem entender coisa alguma.

- Calouros malucos o desse semestre... - ele disse. Então deu de ombros e voltou a desarrumar sua mala.

* * *

Shuuichi Minamino - ou Kurama, como ele tinha se apresentado aos dois jovens mal encarados com os quais dividiria o quarto pelos próximos seis meses - também não estava muito feliz com a arrumação que lhe fizeram.

- Kurama? Que espécie de nome de rua idiota é esse? - riu o primeiro, um cara baixinho, de cabelo espetado puxado para cima, vestido completamente de preto.

- É o meu nome de rua idiota - respondeu Shuuichi, impassível.

O segundo olhou para ele e deu de ombros. Era alto, cabelo escuro, usava um par de óculos de grau que ficava empurrando o tempo todo enquanto lia muito concentrado o livro de biologia que usariam naquele ano.

- Tudo bem, Kurama - o baixinho sorriu debochadamente. Apontou para o colega de quarto. - O idiota ali é Yuu Kaitou, mas ele não gosta de conversa a não ser com os estúpidos livros.

Shuuichi caminhou até a cama e soltou a mochila, pensando como estava grato que conseguira convencer Hatanaka a não leva-lo até o dormitório. Uma olhada nele e aquele cara esquisito nunca mais o deixaria em paz. Olhou para o tal Kaitou que continuava a ler o livro quase sem se mexer, a não ser quando tinha de virar as páginas, e suspirou. Podia ser pior. Pelo menos não o colocaram com um grupo de valentões doidos por uma briga ou coisa assim.

- Qual o seu nome? - perguntou ao baixinho.

- Não te interessa o meu estúpido nome.

- Você consegue falar uma frase sem usar as palavras "idiota" ou "estúpido"?

- Não é da sua maldita conta.

Shuuichi riu. Talvez ele acabasse se divertindo um pouco no final das contas.

* * *

Touya tinha razão quando disse que ela ia adorar ver a cara de choque de Yusuke quando descobrisse. Botan só não tinha pensado que ele ia mantê-la assim por tanto tempo. Pensou em sacudi-lo pelos ombros para que acordasse, mas acabou desistindo. Não faria mal apreciar aquela expressão engraçada, os olhos muito abertos, o queixo caído o máximo possível, por mais algum tempo. Não era todo dia que Yusuke Urameshi ficava completamente sem palavras diante de alguma coisa. Era pena ela não ter trazido uma máquina fotográfica.

- Yusuke, já chega. Nós precisamos conversar antes que alguém apareça - disse em sua voz normal, olhando em volta para ver se ninguém aparecia no corredor.

- Bo...

O primo abriu a boca, mas as palavras não saíram. Botan torceu os lábios para o lado e deu um soco de leve nas costas dele. Funcionou.

- Botan, o que você pensa que está fazendo aqui e vestida como um...

Yusuke gritou, mas Botan rapidamente cobriu a boca dele com as mãos, colocando um dedo sobre os lábios, pedindo silêncio. Felizmente o corredor continuava vazio e ninguém os ouvira.

- Você ficou maluco, Yusuke? Sabe o que vai acontecer se alguém descobrir que eu sou uma garota?

Ela libertou o primo e se afastou a uma distância segura, pedindo intimamente que ele não desse um escândalo. Para sua surpresa, ele começou a rir.

- Posso saber o motivo de tanta alegria?

Yusuke apertou o estômago com as mãos, rindo alto. Botan estava prestes a segura-lo outra vez quando ele parou, balançando a cabeça em negativa.

- Priminha, eu sei que você é bastante enfezada e que odeia perder uma discussão - disse enquanto se controlava para não recomeçar a rir - mas eu tenho que admitir que não esperava que tivesse coragem de se disfarçar de garoto e entrar no colégio só para me provar que pode levar as aulas melhor do que eu.

- Eu nem sei o que dizer de tamanha burrice que você acabou de falar - respondeu Botan, irritada. - Por acaso você acha que eu fiz o que com o Touya? Matei e escondi debaixo da pia da cozinha?

- Bom, vindo de você eu não duvidaria... - Botan fez menção de reclamar, mas Yusuke continuou, sem dar-lhe a chance: - Mas se quer saber, eu acho que essa hora Touya deve estar muito contente, começando a ensaiar aqueles ruídos que ele chama de música com os outros malucos de Os Shinobi em Kyoto. Quanto a você, aproveitou-se que o nosso primo resolveu trilhar o caminho do sucesso internacional ao invés de tentar faculdade e veio para cá no lugar dele. Mas se está pensando...

- Não é nada disso! - Botan fez um esforço para manter a voz baixa. - Você se lembra da senhora Watanabi?

- A velha maluca adoradora de gatos? Não tive o prazer de conhecer - Yusuke fingiu choque. - Você não a matou e escondeu o corpo debaixo da pia da cozinha, sim?

- Yusuke! Idiota... Não! - Botan olhou em volta e puxou o primo para mais longe da porta do quarto. - Ela telefonou dizendo que não podia ficar comigo. Parece que teve um... problema familiar. - levando em conta que a velha senhora tinha os gatos como família, ela não estava mentindo. - Touya disse que se eu não o cobrisse ia telefonar para Ayame e Koenma e contar o que ela disse.

Yusuke cruzou os braços, balançando a cabeça de maneira pensativa.

- E você achou melhor vir para cá... Botan, priminha, vai precisar de uma desculpa melhor.

- Eu acho que não. Você sabe o que eu ia ter que aguentar pelos próximos seis meses se tivesse que tirar Ayame e Koenma da lua de mel atrasada no primeiro dia porque a senhora Watanabi não podia tomar conta de mim?

- E você sabe o que vai ter que aguentar pelo resto da vida quando eles ficarem sabendo que você ingressou em um colégio interno para garotos, disfarçada como um? - ele deu uma boa olhada em Botan. - Você nem parece um garoto. E essas roupas então? Por acaso tirou elas de alguma lata de lixo no caminho para cá? Olha só para essas calças...

- São legítimas calças de roqueiro, tudo bem? E desde quando você liga para roupas?

- Desde que você é o primo de Yusuke Urameshi e não pode sair por ai vestido como um mendigo. A família também tem que zelar pela minha reputação.

Botan grunhiu.

- Isso quer dizer que não vai contar a ninguém que eu sou uma garota?

- Não foi o que eu disse...

- Ah, você não vai contar - ela sorriu.

- E eu posso saber como tem tanta certeza disso?

Botan se aproximou, tirou o boné da cabeça e colocou na de Yusuke.

- Porque se você disser alguma coisa, querido primo... Conto para sua mãe que você passou no colégio ano passado porque entrou no prédio à noite e copiou o exame da sala da diretoria.

Yusuke franziu a testa, assustado, para em seguida balançar a cabeça.

- Isso não é verdade. Eu não copiei prova nenhuma. Foi até mesmo você quem me ajudou a estudar, esqueceu?

- Não. - Respondeu Botan, alargando o sorriso. - Mas em quem você acha que a sua mãe vai acreditar?

Ela pegou o boné de volta e começou a voltar para o quarto. Yusuke ainda ficou parado por alguns instantes, assimilando o que acabara de escutar. Quando Botan tinha ficado tão esperta? Não tinha sido uma boa ideia deixa-la um dia inteiro sozinha com Touya...

- Espera ai, Botan - ele correu atrás dela. - Se vai ficar aqui, lembre-se de engrossar essa voz. E não ouse andar rebolando como uma mulher. Lembre-se da minha reputação!

* * *

Ao menos eles têm uma boa biblioteca, Shuuichi pensou ao passear pelo enorme salão repleto de prateleiras com volumes sobre todos os assuntos. Tinha suportado exatamente quinze minutos dentro do dormitório antes de se sentir claustrofóbico e decidir dar uma volta. Se ao menos pudesse manter uma conversa com os colegas de quarto, mas Hiei - ele tinha descoberto que esse era o nome do baixinho depois de perguntar pela décima vez. Aparentemente só respondera finalmente porque o estoque de respostas mal educadas tinha chegado ao fim por aquele dia - interessava-se apenas em interromper os estudos de Kaitou com comentários sarcásticos sobre como odiava a raça maldita dos CDF fanáticos. Este, por sua vez, terminara de ler o livro de biologia e começara com o de matemática. Grande. Se dependesse daqueles dois Shuuichi não ouviria o som da própria voz o semestre inteiro. Olhou para o relógio que marcava onze da manhã. Já estava fora de casa há quase duas horas, talvez já fosse o momento de telefonar para eles.

Deu uma última olhada em volta, na biblioteca, antes de sair para o corredor. Tinha certeza de que se seguisse direto, sairia no pátio onde havia um telefone público. Andou em silêncio, pensando no que a mãe e Hatanaka deviam estar conversando naquele momento. Por sorte, ao chegar ao pátio, o telefone estava livre. Aproximou-se sem pressa, tirou um cartão do bolso e então o telefone do gancho, discando o número em seguida.

O telefone chamou meia dúzia de vezes, então a conhecida voz da mãe na secretária eletrônica: Residência dos Hatanaka, no momento não podemos atender. Por favor, deixe seu nome e número de telefone e retornaremos assim que possível.

Shuuichi recolocou o telefone no gancho com violência. Residência dos Hatanaka... Era a casa dele também e ele era um Minamino. Será que já o tinham esquecido assim tão depressa?

Virou-se para voltar pelo mesmo corredor. O melhor era ficar no quarto até que alguém os chamasse para o almoço ou qualquer outra coisa que tivesse que fazer enquanto estava ali. Deu um passo naquele sentido quando viu o mesmo garoto no qual esbarrara aquela manhã andando de costas na sua direção. Ele olhava de um lado para outro como se estivesse se escondendo de alguém. Quando estava quase tropeçando nele, Shuuichi decidiu falar.

- Está fugindo de quem?

Botan deu um salto e recuou da voz, por um instante pensando que havia sido flagrada por Yusuke. Respirou aliviada quando percebeu que era só o garoto ruivo que encontrara mais cedo. Como ele se chamava mesmo? Shuuichi qualquer coisa.

- Não estou fugindo - respondeu com o cuidado de camuflar a voz.

Desde que conversara com Yusuke no corredor instantes antes, ele a estava perseguindo com especificações do que ela podia ou não fazer ali dentro de maneira a não macular sua invejável reputação. Ela desejava de ter um pouco menos de pudor em dizer em voz alta o que gostaria que ele fizesse com sua maldita reputação.

- Não era o que parecia.

- Eu não estava fugindo - repetiu Botan. - Só estava... medindo o comprimento do corredor.

Shuuichi riu. Será que não havia ninguém relativamente normal naquele colégio?

- E qual o comprimento dele? - perguntou.

- Eu saberia agora mesmo se você não tivesse me interrompido.

Os dois se encararam por um momento, então Shuuichi riu alto. Botan franziu a testa, pensando que realmente tinha encontrado uma desculpa muito idiota para explicar o que estava fazendo. De qualquer maneira não podia simplesmente dizer "eu estava fugindo do meu primo Yusuke, sabe... Ele anda muito disposto a me ensinar como ser homem nos últimos minutos".

- Isso não é engraçado.

Botan cruzou os braços. O rapaz ruivo parou de rir, mantendo apenas um sorriso pequeno.

- Eu sinto muito se o irritei, não era minha intenção - desculpou-se. - Mas estou feliz em tê-lo encontrado. Não pensei que encontraria algum motivo para rir nesse lugar.

A expressão dele se tornou neutra e Botan pensou se aquilo tinha sido um elogio.

- Que seja... - disse. Olhou em volta, para os muros que rodeavam o pátio, e teve que concordar com ele que o lugar era deprimente. Não havia jardins a vista, o piso do colégio era todo coberto por concreto, e sequer havia uma visão, por menor que fosse, do mundo exterior.

- Eu sou Shuuichi Minamino.

Ele estendeu a mão. Botan a aceitou relutantemente.

- Eu sou...

- Touya Ichijo. Eu me lembro.

Sem aviso, um alarme soou de dentro da escola fazendo um ruído estridente. Shuuichi carranqueou e Botan cobriu os ouvidos com as mãos.

- Hora do almoço? - ela perguntou.

- Sei tanto quanto você - ele deu uma última olhada na direção do telefone público. Nos últimos minutos tinha esquecido a irritação que sentira com relação ao telefonema. Talvez fosse bom ter alguém com quem conversar. - Vamos entrar? Você pode medir o corredor enquanto andamos.

Botan assentiu. Quando Shuuichi passou a sua frente, ela não pode deixar de sorrir. Seria agradável ter um amigo ali além de Yusuke. Pelo menos poderia falar com alguém sem ouvir um comentário do tipo "você não acha que o seu cabelo está comprido demais?" ou "você bem poderia tentar não olhar para todo cara com quem cruzar pelo corredor, quer que eles pensem o que?" a cada cinco segundos. Desde, claro, que mantivesse uma distância cuidadosa.

- Então - perguntou Shuuichi, indicando o corredor que já deixavam para trás - acha que ele mede mais de trinta metros?

Botan assentiu:

- Acho que está mais ou menos por ai.

Continua...

fandom: yu yu hakusho

Previous post Next post
Up