A propósito da crise e acerca do risco sistémico.

Oct 11, 2008 21:46


A incidência de risco sistémico prende-se essencialmente com a confiança dos agentes económicos nos mercados e nas instituições financeiras.
Fortemente dependente do crédito e das promessas inerentes aos activos financeiros, o sistema financeiro de uma economia moderna é
vulnerável à eclosão e propagação de surtos de desconfiança nas instituições e nos
emitentes. Este risco tem natureza sistémica na medida em que a falha de uma
instituição financeira em liquidar os seus compromissos pode degenerar numa vaga de
pânico se os indivíduos suspeitarem que outras instituições financeiras, aparentemente
sólidas, podem ser contaminadas por essa falha e entrar em colapso súbito.
Os sistemas de pagamento são particularmente vulneráveis a este tipo de falha
de mercado. Em tais sistemas, os recebimentos esperados por instituições financeiras
destinam-se, no imediato ou a prazo muito curto, a efectuar pagamentos a outras
instituições financeiras e agentes económicos. Se um recebimento esperado não
ocorrer, a falha de liquidação pode degenerar numa cascata de incumprimentos
sucessivos: B não recebe de A e vê-se privado de pagar a C, que por sua vez não pode
honrar compromissos com D, e assim sucessivamente. A propagação de tais
fenómenos pode processar-se a um ritmo impressionante, uma vez que os sistemas de
pagamentos funcionam à velocidade da luz.
Os instrumentos mais importantes de regulação em matéria de risco sistémico
consistem no exercício da supervisão directa dos sistemas de pagamento e na função
de prestamista de última instância assegurada pelos bancos centrais. Esta última
função é relevantíssima, na medida em que a forma mais eficaz de suster uma onda de
pânico generalizado passa por assegurar condições que permitam às instituições
financeiras solver as suas obrigações para com os clientes sem que estas se vejam
subitamente forçadas a vender activos da sua carteira de investimentos em condições
de mercado desvantajosas - o que agravaria ainda mais o problema.

in Moeda e Mercados Financeiros de Cruz, Ricardo J.
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