Mão Morta - Tu Disseste
«Tu disseste: "Quero saborear o infinito"
Eu disse: "A frescura das macas matinais
revela-nos segredos insondaveis"
Tu disseste: "Sentir a aragem que balanca os dependurados"
Eu disse: "É o medo que nos vem acariciar"
Tu disseste: "Eu também ja tive medo. muito medo;
recusava-me a abrir a janela, a transpor o limiar da porta"
Eu disse: "Acabamos a gostar do medo,
do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste: "Um dia fiquei sem nada.
Um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse: "O que é que isso interesse?"
Tu disseste: "Nada..."
Tu disseste: "Agora procuro o designio da vida;
às vezes penso encontra-lo num bater de asas,
num murmurio trazido pelo vento, no piscar de um néon;
escrevo paginas e paginas a tentar formaliza-lo.
Depois queimo tudo e prossigo a minha busca.
Eu disse: "Eu nao faco nada.
Fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste: "E nunca sentiste a mancha a alastrar,
as suas formas num palpitar quase imperceptivel?"
Eu disse: "Nao. A mancha continua no mesmo sitio,
eu continuo a olhar para ela e nao se passa nada"
Tu disseste: "E no entanto a mancha alastra
e toma conta de ti, liberta-te do corpo. Tu é que nao ves"
Eu disse: "O que é que isso interessa?"
Tu disseste: "Nada..." »
Há tanto tempo que não me ocupo do jardim..
(MPD-Psycho - Takashi Miike)
«Inventávamos planos de rebelião
Sonhos de transmutação
Passávamos horas a inventar
Entre duas carícias
Surgiam ideias puras e inocentes
Como a nossa vontade de tudo abarcar
Era um frenesim constante
Faz-me pena agora
Olhar para ele
Para as sus sebes abandonadas
De ranos retorcidos
Jaz tombada a grande epícea
E uma enorme crateca
Substitui os belos canteiros de outrora
Há tanto tempo que não me ocupo do jardim»
(de "O Jardim" - Primavera de Destroços, Mão Morta)
Tenho sempre uma garrafa para beber
E uma mulher para amar
Porque nada tenho a perder