「Capítulo 06」
「山P p.o.v.」
Essa é a primeira vez que fico com medo de passar por essa porta. Minha mão treme quando a levanto em busca da maçaneta. Respiro fundo enquanto encosto minha testa na porta, de olhos fechados. Quem tem medo de entrar na própria casa? Deixa de fazer cena, é patético demais - murmuro para mim mesmo antes de num fôlego só abrir a porta com pressa e entrar.
De olhos fechados tento escutar qualquer ruído que denuncie a presença de alguém. Depois de alguns segundos (ou será que foram minutos?) parado no mesmo lugar sem escutar nada, posso sentir o medo ficar mais forte. Abro meus olhos apenas para ver meu apartamento na escuridão. Engraçado... Antes de Kei, eu já estava acostumado a vê-lo assim, então por que agora me parece tão chocante?
Meus olhos desesperados vagam até o corredor, me fazendo correr até lá, procurando-o nos quartos, banheiros, cozinha... E nada. Cogitava até tentar procurá-lo nas gavetas do armário, me contendo logo depois. Posso estar desesperado, mas não preciso ser mais patético ainda, preciso?
Permito que meu corpo se afunde na sua cama, fechando os olhos enquanto sinto seu lençol debaixo de mim. Se eu me concentrasse, poderia até mesmo sentir seu cheiro, seu perfume pelo cômodo, impregnados em todos aqueles objetos. Talvez se eu abrisse seu armário e pegasse uma de suas roupas como é demonstrado nos filmes, naquelas cenas clássicas, pudesse senti-lo mais forte, mas eu não consigo. Não sei o que é pior: ver que ele não levou nada que o pudesse lembrá-lo de mim, ou levar tudo e me deixar sem nada, somente recordações, me deixar afogar apenas em lembranças.
Na verdade, o que é meu maior medo que me impede de abrir aquele armário é o de que ao abri-lo eu irei realmente aceitar o fato de que ele me deixou.
Pra dizer a verdade eu quero ficar com raiva, até mesmo odiá-lo, chamá-lo de ingrato, porém o choque em que ele me jogou me drenou as energias. Não tenho ânimo nem ao menos para pensar nisso, eu não quero pensar nisso.
Levo um susto ao sentir algo roçar na minha mão, mas não o suficiente para me fazer pular. Abro os olhos tentando focar e achar o que era. Erro meu, quero dizer quem era. Sorrio fraco ao mirar Nyanta e perceber que ele me observa com aqueles grandes negros olhos tristemente, como se pedisse perdão por algo que nem ao menos fez. Puxo-o para perto de mim e o abraço carinhosamente como se fosse Kei ali, o que não deixa em parte de ser verdade. Pensar na possibilidade de Koyama ter deixado uma parte sua comigo me acalmou. Pode ser que ao amanhecer Nyanta já não estará mais ao meu lado, mas ignorei isso e me permiti agarrar essa mínima esperança.
Ri ao pensar se era assim que os donos se sentiam quando seus queridos animais de estimação fugiam de casa, mas eu não posso pensar assim, posso? Porque por mais que brinquemos, sabia que não poderia classificá-lo como animal de estimação. Não, desde o início eu nunca, jamais o classifiquei desse jeito.
Ao ver Nyanta piscar seus adoráveis e brilhantes olhos continuamente mostrando seu cansaço, o puxei para mais perto de mim e depois nos cobrimos, fechamos os olhos e dormimos. Eu com a esperança de que tudo não passasse de um mero sonho ruim que esquecerei ao acordar.
「Nyanta p.o.v.」
Quantas vezes mais me fará tentar amenizar seus erros Keiichiro? Suspiro brevemente, atento para não acordar a pessoa ao meu lado. Contemplo seu semblante por um momento e ao notar a tristeza que se faz presente ali, apesar de preocupado com a situação, sinto vontade de sorrir um pouco.
-Sua preocupação para com meu outro eu é genuína, assim como seus sentimentos por ele, eu posso sentir isso. Fico realmente aliviado ao saber disso Yamashita... Bom, creio que em breve o chamarei pelo primeiro nome também, não é mesmo Tomohisa?
Uma brisa passeia pelo quarto, me fazendo virar a cabeça, voltando-me à janela e à prateada luz lunar que por ela passava. Levantando-me calmamente, vou em direção àquela que me chama, a bela pálida divindade que nos guarda e nos visita todas as noites. Sento-me à beira da janela e a admiro em silêncio por uns instantes até realmente fazer o que me foi pedido: conversar.
-Compartilho de sua preocupação minha Deusa, mas sabeis que não podemos e nem possuímos o poder para interferir. - fecho meus olhos para um pausa, pensando melhor na situação enquanto Yamashita permanece adormecido na cama de Keiichiro. - É verdade que não temos como interferir, apenas aconselhá-los, porém ainda sim lhe peço que não se preocupes. Conhecemos Keiichiro muito bem e ele jamais abandonaria Yamashita, que o acolheu e cuido dele sem ao menos se conhecerem. Só não possuo tanta certeza à respeito de Shigeaki, afinal ele é um dos poucos que Keiichiro obedeceria sem ao menos perguntar o por quê.
Capítulo 05 Parte 02 (Arquivo)