Apr 25, 2007 21:34
" Não pior do que o que sente agora. Um abandono tenebroso. A clara noção de estar sozinha.
Que medo. Que medo! Estou tão sozinha. E dói estar sozinha, assim, dessa maneira.
Os olhos de Elisa reagem subitamente mostrando desespero de pupila dilatada.
E se ele nunca mais ligar para mim? E se...? Queria tanto ir com ele ao cinema. Fico bonita num cinema. Estava belíssima assistindo As Horas. Entendendo Laura Brown. Porque ela sabia-se pior como companhia do que como ausente. Eu compreendo, porque sou como ela: melhor longe.
Suas pupilas dilatadas lacrimejam.
Quem iria me querer? Quem? Não sei nem como meu próprio marido me quer. Ele não me quer. Sou só uma contingência da sua vida de adulto. A mãe de suas filhas. A parceira.
Começa a chorar. Um pedregulho rolando do alto do iceberg.
Eu, eu não me quero. Que frase horrível! Eu não me quero! Eu não me quero, eu não me quero!
Abaixa a cabeça.
Eu não me quero, quem é que iria me querer?
Joga-se no sofá. Já não é mais um iceberg, é uma mulher sofrendo. Que triste."