Aug 18, 2003 19:43
não sei se isto acontece a alguns de vós. mas eu odeio fazer anos. aliás, o que eu odeio nem é o facto de eu fazer anos no sentido de ficar mais velho. eu odeio mesmo é o meu dia de anos. é assim desde os meus 14 anos. custa-me muito. amuo. fico de trombas. sou chato, mal criado, indelicado. como se tudo o que eu tento não ser durante o ano, nesse dia - que por acaso foi ontem - fosse não só permitido como jorrado cá para fora duma só vez. são vinte e quatro horas que me custam muito. eu odeio ser o centro das atenções. penso que é essa a causa. odeio que todos olhem para mim nesse dia. e que seja suposto eu estar hilariantemente eufórico e que guinche ligeiramente ao abrir os presentes, sejam eles fantásticos ou terríveis. odeio viajar no meu dia de anos. odeio fazer tudo a correr. gosto de boiar no mar no meu dia de anos. mas não gosto que seja sempre difícil arranjar mesa. não gosto que todos os meus amigos estejam longe. de férias. não me importo que se esqueçam de me ligar. agradeço. invento desculpas para não atender o telefone. e eu tento contraria a tendência natural, juro que tento. adoro quando a minha família e amigos se juntam nos meus almoços ou jantares de aniversário mas odeio a preparação. não, não é o trabalho que isso me dá, é mesmo a antevisão dos momentos. a pergunta feita com muitos brilhos nos olhos: então? já sabes o que vais fazer? tem que ser uma festa de arromba! e depois, no próprio do dia: então? como está a ser o teu dia? estás feliz? e eu com muita vontade de responder: está a ser precisamente igual a todos os outros mas com um bocadinho mais de telefonemas e muita pessoa a fazer perguntas iguais. E depois, porque estou deprimido, as perguntas aumentam e sucedem-se. E também aumentam e sucedem-se as minhas depressões agustinas.
ponto forte do meu fim-de-semana de aniversário: estava na praia e um bando de flamingos passou, muito muito alto, mesmo por cima de nós. uma grande núvem cor de rosa com destino incerto. em formação desorganizada. pareciam felizes, vistos cá de baixo. as suas vidas estavam prestes a mudar mais uma vez. e isso costuma ser bom.