Às vezes parece que a vida teima em andar para trás, como quando nos sentamos nos bancos que ficam de costas para o sentido que o comboio nos leva. Tudo passa sem esforço, por nós. Quando o comboio pára já chegamos. Chegamos ao ponto de partida, porque viemos de costas. E de repente, todas aquelas sensações perdidas há muito na mente, que entretanto se diluíram em resquícios de sonhos ou de insónias, voltam. Estão ali, límpidas e sem dúvidas. Tudo volta ao início, num instante apenas. Como um flash. E o tempo não pára. E não volta atrás. Os ponteiros do relógio vão continuar a fazer tic-tac sempre no mesmo sentido. E a vida não recua, mas repete-se, simplesmente não com o mesmo brilho de outrora. O passado e o presente unem-se e confundem-se. Misturam-se e repelem-se.
Às vezes parece que desejar intensamente poder repetir as sensações e as emoções até a língua secar é tortuoso. Mas… às vezes seria melhor apenas recordar.