Parte IV

Jul 14, 2005 22:54


                                             

Nessa noite fizemos amor. Intenso. Forte e frágil. Tu, tão doce como nunca, para apagares a amargura que encontraste no meu rosto assim que me viste na pastelaria, de chávena de chocolate quente entre as mãos, como uma criança que as tem ainda demasiado pequenas, procurando algum conforto no calor que dela imanava. O frio estava dentro de mim. Aqueles pensamentos gelavam-me o corpo, enquanto o coração fervia de sentimentos acumulados e reprimidos. De novo me surpreendias. O teu silêncio era observador e não puro desinteresse como eu julgara durante muito tempo. Tu aguardavas pacientemente a minha necessidade de ti, do teu apoio, das tuas palavras e acções. E depois, quando eu já não te esperava pronto para me apoiar, tu estavas lá, silencioso, com um olhar que enchia o maior dos salões. Era nisso que tu me ganhavas sempre. Fazias-me sentir preenchida por ti. Completavas-me sempre. Quando eu acabava, começavas tu.

Mas porque tinhas de me deixar chegar ao ponto de precisar de ti? Nunca o iria compreender.

Aquele amor que fizemos foi mágico. Começaste por me beijar com palavras e acabaste a abraçar-me com o teu olhar. Aqueles teus olhos eram um mar de olhar...

Porque razão me esquecia eu, em momentos cruciais como aquele em que o trapezista faz uma pirueta, daquilo que nos unia? Eras quase sempre a minha sombra, não porque eu te deixasse lá, mas porque tu gostavas de o ser. Era assim que nos completavamos. Eu tinha a energia para lutar por nós e tu estavas lá para me amparares quando eu fraquejava.

Nunca me deixaste cair.

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