O príncepe estava sonhando.
Na verdade, era um sonho ruim.
Se alguém o visse em seu sonho
mandava-o pro manicomio, sim.
Mas ninguém o viu. Só eu,
que às vezes sonho também.
Da janela do terceiro andar
eu via o príncipe
com sua roupa laranja
e uma faixa dourada no ombro.
Um boné amarelo
que absorvia sua cabeça
só conseguia ver-lhe as orelhas,
que me pareciam às avessas.
As mãos enfiadas em luvas negras,
fora, só suas pontas de dedos
um enorme vassourão pelo chão,
varrendo calado, seus segredos.
O enlevo de sua alma
naquele momento em alto relevo.
Fico atenta à cena
seu olhar em linha reta,
não vê as montanhas,
nem mesmo o ápice do céu.
O príncipe estava em apuros
ao ver o tamanho e a largura da rua
e toda sua sujeira,
limpando-a gastaria a vida inteira
enquanto às gargalhadas,
outros a suja!
Como um príncipe tão astuto
entrou em semelhante tributo....
meditava eu a contemplá-lo
e a saber que por detrás de negras luvas
a alvura de suas mãos ditavam leis.
Leis ignorantes outras boas e justas.
tantas leis crueis, que apenas insultam
aleatórias ao céu, ao inferno
às divindades eternas, mortais e mortíferas.
O príncipe era cativo,
misteriosas leis
dele desconhecidas
alí o mantinha vivo.
A morte:
Que sol ardente no peito
que imensa claridade líquida nos olhos
o indigesto sonho desfeito
o corpo caído no solo.
Ele ainda ouviu os gritos das pessoas ao seu redor
gritaram: ele morreu, ele morreu.
de si a dó maior.
Acordou em sua cama no seu castelo
amarelo pelo reflexo de tanto ouro.
agarrado a tantos que o ama
o príncipe passou a contar o seu tesouro:
Sonhei que era rico
tão rico e poderoso
que outra simples vida eu tinha,
de inestimável valor.
e todos riram das bobagens que o príncipe dizia...
o que era para ele, mais uma vidinha de gari
se ele era principe e de tudo se servia.
Ele não disse nada das risadas,
mas riu consigo mesmo,
das loucas gargalhadas...
porque era a primeira vez que ele morreu!