(no subject)

Oct 24, 2006 17:37

matilde pousara os olhos na lúgubre claridade do postigo contíguo. qualquer coisa pastosa e desenxabida invadira-lhe o céu da boca impendindo-a de experimentar ainda o travo metálico da rarefeita atmosfera respirável.
no esquálido vácuo da sua própria materialidade sentiu, matilde, a constrição até ao infímo ponto cru, encontrado anos mais tarde por entre um amontoado de osso e carne pútrida, do único pedaço de si que subsistiu além da quietude ilógica do tempo.

tudo o que sonho ou posso,
o que me falha ou finda,
é como que um terraço,
sobre outra coisa ainda
essa coisa é que é linda.

fernando pessoa, 1933
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